Jornada
Nas Estrelas. Radiografando Um Longa: A Terra Desconhecida.
O filme “Jornada nas
Estrelas 6, A Terra Desconhecida” seria o último longa metragem da tripulação
da série clássica, não fosse “Generations”, onde Kirk, Checov e Scott ainda dão
o ar de sua graça, com a desnecessária morte de Kirk. Entretanto, o sexto filme
da primeira tripulação da Enterprise deu um final digno àquela equipe, além de
mostrar-se uma obra antenada com o seu tempo e os objetivos iniciais da série
lá nos anos 1960. Vamos radiografar esse filme agora.
Só para recordarmos,
Sulu é o capitão da Excelsior, uma nave que ele ficou admirando no terceiro e
quarto filmes. Ficou a impressão que ele mexeu os pauzinhos certos para pegar a
nave. Numa missão, ele testemunhará a explosão de Práxis, a lua klingon que é a
principal fonte de energia do Império alienígena. Ao saber disso, Spock toma as
rédeas das negociações de paz com os klingons e convence seus superiores a
trazer para a Terra o chanceler Gorkon para as conversações. Obviamente, a
Enterprise foi escolhida, pois segundo a frota espacial, os klingons não se
atreveriam a gracinhas com Kirk por perto, para desespero do capitão. Contrariado
com a situação, Kirk parte com a Enterprise para receber Gorkon. Mas o
chanceler é assassinado depois de a Enterprise supostamente ter atirado no
cruzador klingon, ter desligado a gravidade artificial e dois supostos membros
da Federação terem se teletransportado para o cruzador, matando vários klingons
a tiros de phaser, assim como o chanceler. Sob a mira dos torpedos fotônicos
klingons, Kirk anuncia a rendição e se teletransporta junto com o médico McCoy
para o cruzador para oferecer assistência. Mas os dois acabam presos. O que se
sucede é uma história onde a paz está ameaçada por uma conspiração envolvendo
membros da federação trabalhando juntamente com klingons para manter o estado
de beligerância e nossos heróis tentando resolver esse problema para trazer a
paz.
O que torna esse filme
especial? Em primeiro lugar, a série clássica foi forjada dentro do contexto da
guerra fria, onde todos os conflitos entre as nações haviam sido expelidos para
o espaço. A noção de fronteira sempre foi um paradigma entre os americanos,
segundo Frederick Jackson Turner, onde o povo saiu das treze colônias inglesas
da América do Norte rumo ao oeste, expandindo as fronteiras americanas e indo
além do Pacífico, pegando o Havaí, mas quebrando a cara no Vietnã. Não é à toa
que o espaço é a fronteira final. Como no século 23 todos os conflitos terrestres
tinham sido abolidos, os inimigos agora são alienígenas como klingons e
romulanos, alegorias da ameaça comunista da década de 1960. Mas em 1991, cai o
Império soviético. Era necessário, então, um longa metragem com esse desfecho,
sendo uma representação do fim da guerra fria. Nada mais claro nisso do que a
conversa entre Kirk e Spock depois da reunião no QG da frota. Kirk, enfurecido,
pergunta por que Spock o colocou naquela rabuda de escoltar os klingons, ao que
Spock respondeu: “Há um antigo provérbio vulcano: somente Nixon poderia ir à
China”. Emblemático.
Outra característica
marcante do filme foi a necessidade de se explicar a presença de um klingon na
ponte da Enterprise D (nosso estimado Worf, da “Nova Geração”). A nova série de
TV, iniciada em 1987, exigia que em algum momento, a paz com os klingons fosse
exibida. O fim da Guerra Fria foi o contexto ideal. Uma curiosidade a respeito
é que o ator que interpreta Worf na “Nova Geração” também interpreta o advogado
de defesa klingon na magnífica cena do julgamento de Kirk e McCoy (reza a lenda
que o advogado seria o avô de Worf). Ainda no universo klingon do filme, temos
a presença do consagrado ator Christopher Plummer, o pai ranzinza de “A Noviça
Rebelde” (confesso que quando revi “A Noviça Rebelde” depois de “A Terra Desconhecida”,
a primeira imagem de Plummer no filme me trouxe um “Kaplá!”, a saudação
klingon, à cabeça). Gosto muito de ver atores consagrados trabalhando em
franquias, acho que isso leva mais credibilidade a elas. A única exigência de
Plummer foi que seu personagem Chang não tivesse longas cabeleiras. Mas até as
cristas na testa ele aceitou. Genial! Outro detalhe notável foi associar os
klingons a Shakespeare. Tudo a ver! Amantes da violência explícita! Por isso
que se deve ler Shakespeare no original, ou seja, em klingon!
Mais um detalhe
interessante: a relação entre Spock e a vulcana Valeris, que ele considerava
ser sua herdeira. Nosso primeiro oficial tem uma afeição praticamente filial
pela novata e sua decepção fica muito clara quando descobre que ela faz parte
da conspiração e precisa fazer o elo mental nela para descobrir os membros da
conspiração. Nota-se que, ao contrário do que ocorria na série clássica, ele
não tem o menor pudor de esconder as emoções. Isso por dois motivos: a decepção
fora enorme e por estar cercado de amigos de longa data que já sabiam de seu
lado humano. De qualquer forma, sempre é bárbaro ver Spock revelando suas
emoções, ainda mais numa situação de desalento como essa.
Por fim, a conspiração.
Se na série clássica a Federação aparece como algo totalmente racional e
asséptico a atitudes pouco virtuosas (reproduzindo um espirito talvez de
inspiração positivista, totalmente falso para cabeças “menos evoluídas” do
século 20), neste filme vemos membros da Federação conspirando junto com
klingons para manter a guerra, algo mais palpável com nossa realidade. Esses
desvios de caráter de membros da Federação são também vistos em “Deep Space
Nine”. Os que conspiram são aqueles que temem um mundo de paz no futuro, a
“Terra Desconhecida” que Gorkon brindou no sensacional jantar na Enterprise.
Por essas e por outras,
“Jornada Nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida” é um filme de fundamental
importância na franquia mais amada de todos os tempos (na minha modestíssima
opinião).
Cartaz do Filme.
Nossa amada tripulação
em sua última missão.
O grande trio ainda
dando caldo.
Excelsior saindo da
onda de choque da explosão de Práxis.
Encontro com o cruzador
klingon.
Gorkon e Kirk. Velhos
guerreiros em busca da Terra Desconhecida.
Conspirações e
assassinatos.
Cena do julgamento. Um
magnífico Plummer e o “avô de Worf”.
Kirk enfrentando
problemas em Rurah Penthe.
Spock e Valeris. Afeto
e mágoa.
Enterprise A sem
escudos!!!!
Final feliz. Pela
última vez, tripulação salva o dia.
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