O
Palácio Francês. Mais Poderoso, Mais Fútil.
Uma radiografia
impiedosa da estupidez no poder. Essa é a melhor síntese para “O Palácio
Francês”, (“Quay D’orsay”), do excelente cineasta Bertrand Tavernier. O filme
chega a assustar, pois ficamos convencidos que a presença de idiotas em altos
cargos pode ser uma realidade mais plausível do que se parece. Tudo isso
mostrado numa comédia que desperta mais constrangimento e perplexidade do que
risos.
Vemos aqui a história
de Arthur Vlaminck (interpretado por Raphaël Personnaz, um recém-formado na
Escola Nacional de Administração, que vai trabalhar no Ministério das Relações
Exteriores, cujo Ministro, Alexandre Taillard de Worms (interpretado por Thierry
Lhermitte), revela-se um perfeito boçal. Arthur ficará responsável pela
“linguagem” dos discursos do ministro que manda reescrevê-los constantemente.
Taillard tem uma forma desastrosa de atuar na política externa, onde o seu viés
socialista o faz atacar sempre os Estados Unidos e priorizar assuntos do
Terceiro Mundo, em detrimento do apoio da entrada da Alemanha no Conselho de
Segurança da ONU. Esse seu lado trapalhão associado ao socialismo soa muito
como uma crítica velada aos antigos governos socialistas franceses (o uso, por
parte do ministro, da expressão “neoconservador”, já desperta graça por ser
altamente paradoxal). A equipe que trabalha para o ministro sofre com suas
desventuras e desmandos em meio a crises internacionais muito complicadas como golpes
de estado e sequestros de navios em chamas que ela tem que solucionar, apesar
das interferências atrapalhadas do ministro que mais complicam do que ajudam. O
elemento mais lúcido dessa equipe é Claude Maupas (interpretado pelo sempre
excelente e ativo Niels Arestrup que, apesar da idade avançada, tem feito
muitos filmes como “Cavalo de Guerra” e “A Chave de Sarah”), que resolve todos
os problemas com muito jogo de cintura e serenidade, algo que falta totalmente
ao tresloucado ministro. O resto da equipe, bem, tem personagens muito
caricatos e até atrapalhados e displicentes, sofrendo com as maluquices do
ministro e alimentando pequenos golpes e vaidades, o que prejudica ainda mais o
ambiente de trabalho. A presença de Arthur no filme mostra mais como jovens
empregados viram “bois de piranha” quando a situação fica mais complicada.
Esse filme assusta – e
muito – quando vemos a figura do personagem do ministro, que só não era mais
imbecil do que o próprio presidente da França (taxado até pelo ministro de
idiota), que se preocupava com questões ainda mais fúteis em momentos ainda
mais graves. Se isso pode acontecer em um país desenvolvido como a França, o
que não pode acontecer no nosso, que é imaturo em muitos pontos? E, se pararmos
para pensar com calma, também nós tivemos muitas figuras públicas idiotas,
ruinzinhas e limitadas nos últimos anos. Teve aquele ministro, lembra? Aquele
governador... Aquele prefeito... Aquele presidente... Bom, é melhor deixar para
lá, ou a lista vai crescer muito...
Cartaz do filme.
O magnânimo – e idiota
– ministro Taillard.
Maupas (atrás da mesa).
O único com serenidade suficiente para conduzir o barco sem naufragar.
Tavernier, de pé,
dirigindo seu filme...
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