Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Resenha de Filme - Getúlio

Getúlio. Mais Fatos, Menos Historiografias.
Saiu mais um bom filme brasileiro. O longa “Getúlio” tem como objetivo principal contar os últimos dias do presidente Vargas no poder até o seu suicídio em 24 de agosto de 1954. Esse filme, dirigido por João Jardim e produzido por Carla Camurati, faz um interessante resgate daqueles dias de muita turbulência no Brasil e em sua política.
O filme começa com o atentado contra o mais ferrenho opositor de Vargas, o jornalista Carlos Lacerda na rua Tonelero, a mando de Gregório Fortunato (interpretado por Thiago Justino), chefe da guarda de Vargas que resultou na morte do segurança pessoal de Lacerda, o major da Aeronáutica Rubem Vaz. Aqui, o filme buscou “lavar as mãos”, pois, no atentado, Lacerda (interpretado por Alexandre Borges, aliás uma ótima interpretação!) teria sido atingido no pé e não vemos qualquer tiro sendo tomado pelo jornalista. Especula-se que o próprio Lacerda tenha atirado contra o seu pé, aproveitando a morte do major para colocar toda a culpa do crime em cima de Vargas. Rubem Vaz foi morto com um tiro de uma pistola 45, que teria estraçalhado o pé de Lacerda, se ele fosse atingido por essa arma. O jornalista também teria se recusado a entregar sua arma para a polícia. Assim, o filme tomou a postura responsável de não mostrar como Lacerda foi ferido, mas somente o ferimento em si, lançando as especulações aqui citadas no ar, tal como elas são lançadas até hoje. Após o atentado, vemos toda a ferocidade de Lacerda, já condenando Vargas pelo atentado e exigindo a sua renúncia.
O filme tem toda uma preocupação didática de contar detalhadamente as investigações e identificar, com legendas, os personagens históricos que participaram de todo o processo, dando boa legitimidade histórica ao filme no ponto de vista factual. As intrigas militares são também muito bem assinaladas, exibindo os conflitos entre os ministros da Aeronáutica e da Guerra, assim como o complô militar para derrubar Vargas, onde a palavra deposição era utilizada com desenvoltura e até “legitimada democraticamente” nos discursos do líder da oposição Afonso Arinos. Militares esses que já haviam derrubado Vargas em 1945, como é dito pelo próprio presidente no início do filme (interpretado por um parrudo Tony Ramos). Aliás, esse monólogo introdutório é importante como elemento de contextualização da situação em 1954. Enfim, vemos uma preocupação muito interessante com a parte factual da história e com uma descrição bem didática dos fatos. A interpretação desses fatos apresentou elementos interessantes como mencionar que os grupos políticos anti-Getúlio em 1954 foram os mesmos grupos que defenderam o golpe de 1964. E, para botar um ponto final com relação ao debate historiográfico, foi colocada uma frase de Vargas onde ele disse que prefere ser interpretado a falar dele mesmo. Toda essa preocupação com a leitura histórica no filme deve ser consequência do fato de que todo filme que aborda temas históricos é, na maioria das vezes, criticado por historiadores. A própria Carla Camurati produtora executiva de Getúlio, já fora muito espinafrada em seu filme “Carlota Joaquina, Princeza do Brazil” por usar uma referência historiográfica um pouco antiga e lusófoba. Desta vez em “Getúlio”, vemos um filme mais factual e mais “historiograficamente neutro”, onde é deixado para o público as suas próprias tomadas de conclusões sobre as interpretações dos fatos. Vemos isso tanto no atentado de Lacerda quanto na citação de Vargas ao final do filme. Mas isso não significa que não haja um posicionamento na trama. Há uma radiografia da conspiração militar, embora não tenha mencionado muito a oposição do empresariado e as pressões do capital estrangeiro contra a política de nacionalização. Na história, vemos uma oposição civil mais calcada nas figuras individuais de Lacerda e Arinos. O detalhe a se lamentar foi a expressão de Lacerda de resignação ao saber do suicídio de Vargas. Aquilo pareceu bastante falso. Tanto que, reza a lenda que, ao saber do suicídio de Vargas, Lacerda teria dito: “Filho da Puta, ele nos venceu de novo!”.
E os elementos cinematográficos? O filme tem duas grandes virtudes principais. Em primeiro lugar, a caracterização da época, com boas escolhas de locações, onde imagens do Museu da República e da Assembleia Legislativa foram utilizadas, dando boa legitimidade às cenas, isso sem falar do uso de automóveis da época, muito bem conservados, criando um aspecto de elegância às imagens, elegância essa também presente em um ótimo figurino. Ou seja, numa só frase, a reconstituição de época estava muito boa. Mas talvez o elemento mais marcante tenha sido a escolha do elenco. À exceção de Vargas (justamente ele!), os outros atores estavam muito bem caracterizados! Houve realmente uma preocupação muito grande em deixar os atores muito parecidos com os personagens históricos. Tanto que, nos créditos finais, temos imagens dos atores colocadas ao lado de fotos dos personagens reais, numa mostra de que o trabalho de caracterização foi muito eficiente. Só foi uma pena isso não ter acontecido com Varges e com Fortunato. Um último elemento cinematográfico interessante foi em cima do personagem de Vargas, onde seus pesadelos provocados pelo medo do golpe e da prisão desmontavam a figura de estadista e ditador, humanizando-o um pouco. Sua opção pela via democrática em seu segundo mandato também fica clara no filme, não usando a solução ditatorial e da força até talvez por falta de opção.

Resumindo, podemos dizer que “Getúlio” é um bom filme por lidar com habilidade com um tema histórico, sempre tão espinhoso para o cinema (embora sempre devamos nos lembrar que a arte cinematográfica não tem qualquer compromisso com o que se considera verdade ou uma determinada leitura do passado) e de possuir elementos cinematográficos dignos de uma obra bem feita e cuidadosamente planejada.


Cartaz do Filme


Apesar do barrigão, Tony Ramos não se parecia com Vargas.


Mas foi muito boa a caracterização da época.


Carrões antigos também foram estrelas.


 Alexandre Borges, um excelente Lacerda.


Drica Moraes também arrebentou como a filha de Vargas.


 Na cena do suicídio.

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