O
Olho Nu. A Trajetória Do Inrotulável.
Bom documentário
brasileiro nas salas. “O Olho Nu”, de Joel Pizzini, fala sobre a trajetória de
Ney Matogrosso, artista de nossa música que é impossível encaixar em qualquer
classificação. Toda a sua versatilidade aparece em detalhes nos 104 minutos de
filme, narrados pelo próprio cantor.
Tudo está exposto ali.
Sua infância em Mato Grosso, as lembranças do relacionamento com o pai, que era
militar, que tinha tudo para dar errado (e deu errado por um período, quando
ele saiu de casa aos dezessete anos) mas que, depois, se resultou numa
aceitação por parte do pai da carreira artística e estilo andrógino do filho
(vemos um divertido depoimento do pai, dizendo que estranhava as performances
do filho, pois não aceitava ver “homem rebolando”, mas que depois “aderiu”),
suas viagens pelo Brasil, em virtude da profissão do pai, seus tempos em
Brasília, o primeiro emprego (preparador de lâminas para biópsias), seus tempos
na aeronáutica, onde descobriu que homossexualismo não era fazer uma imitação caricata
de mulher, e muitos outros detalhes interessantes de sua vida. Cabe aqui fazer
uma ênfase especial aos tempos da ditadura militar, onde, em seus vídeos, ele
encarava o espectador, com o intuito de se comunicar com ele, já que era
proibido se manifestar pela fala, nem olhar para a câmara. Mas Ney Matogrosso
encarava a câmara em tom altamente desafiador. Os tempos de Secos e Molhados
também são muito marcantes, onde talvez ele tenha chegado ao auge de sua
exuberância, embora seja muito difícil mapear isso em sua carreira, altamente
criativa nas suas performances, com vestuários sempre muito inéditos e números
de dança inovadores. Tudo isso numa época de forte censura e repressão (tinha
que ser muito homem para fazer aquilo tudo). Seu ecletismo também é fundamental
para seu estilo camaleônico, onde sua voz de contralto se manifesta com
desenvoltura em músicas que vão de um sertanejo tradicional, passando pela MPB
de um passado distante até tempos mais modernos e indo até a exaltação de
ritmos latinos.
Um grande trunfo do
documentário é que, como dito acima, ele é todo narrado pelo próprio Ney,
assumindo um tom altamente autobiográfico, onde o espectador se torna íntimo do
cantor ao longo da projeção. Muito curioso, também, é presenciarmos Ney vendo
suas imagens de arquivo, onde ele discorda de seus próprios pensamentos de
vários anos atrás, numa mostra de como a cabeça do cantor foi se transformando
ao longo do tempo.
Assim, o documentário
“O Olho Nu” nos dá a oportunidade de perceber, depois de vários anos, a
importância desse grande artista para a cultura brasileira, onde seu espirito
livre e transgressor gerou verdadeiras explosões de criatividade, que atraíam
outros gênios da música brasileira, como um Caetano Veloso, um Chico Buarque,
um Arthur Moreira Lima, um Paulo Moura, um Tom Jobim e um Rafael Rabelo (quanta
saudade dos que já foram e eram tão sensacionais como Rafael Rabelo e Paulo
Moura, sem falar do Jobim, que sempre faz falta...). Para o amante da música
brasileira de qualidade, é um documentário imperdível, que deve fazer parte da
videoteca de qualquer fissurado em MPB e também de qualquer pessoa que se
julgue cinéfila.
Explosão de
criatividade no figurino.
Uma força da natureza.
Peitando a ditadura com
olhar fixo ao espectador.
Secos e Molhados.
Transgressão total!!!!
Com artistas
consagrados da MPB, como Ângela Maria.
Coletiva de Imprensa.
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