O
Grande Mestre. Todas As Artes, Inclusive As Marciais.
Uma pequena caixinha de
joias perambula pelos nossos cinemas. É o filme “O Grande Mestre”, escrito e
dirigido por Kar Wai Wong. Baseado numa história real, vemos aqui a vida do
mestre chinês das artes marciais Ip Man (interpretado por Tony Chiu Wai Leung),
que passou por vários momentos atribulados da China do século XX e foi mestre
de Bruce Lee!
A juventude do
personagem principal da trama vai mostrar uma China da década de 1930 anterior
à invasão japonesa. Uma China dividida entre o norte e o sul, inclusive nas
escolas de artes marciais. O mestre do norte, Gong Yutian (interpretado por
Qingxiang Wang), conseguiu unificar as artes marciais de sua região e propôs um
desafio ao sul. É curioso verificar no filme que os encontros entre praticantes
de artes marciais ocorriam em bordéis e prostíbulos, onde os desafios e lutas
eram coisas consideradas bem mais interessantes que os caros serviços prestados
pelas recatadas moças do local. Ip Man foi convocado para enfrentar o desafio
pelo sul e recebeu todas as dicas possíveis de outros mestres de como vencer as
escolas do norte. Mas, na famosa hora do “vamos ver”, o mestre oponente do
norte faz a Ip Man um desafio de inteligência onde nosso protagonista deve
quebrar um biscoito que está na mão do líder. Ip Man vence o desafio, além de
filosofar, bem â moda oriental, sobre como aquela disputa entre norte e sul era
estéril e que o mundo era muito mais do que aquela rixa, o que provocou muita
admiração em seu oponente, que se considerou derrotado, mas com muita honra, em
virtude da grandeza de seu adversário do sul (outras culturas, outras
mentalidades). Mas a filha do patriarca do norte, Gong Er (interpretada por
Ziyi Zhang) não se conforma com a derrota de seu pai e desafia Ip Man para uma
luta, surgindo um rápido “affair” entre os dois enquanto o pau quebrava. Haverá,
ainda, um terceiro personagem, um discípulo do mestre do norte extremamente
violento e ambicioso, que se aliará com os japoneses, os comunistas e matará o
seu mestre, despertando um sentimento de vingança em Gong Er, que o caça ao
longo dos anos. Toda essa trama passará pela invasão japonesa, pela revolução
de Mao Tsé-Tung e para uma fuga a Hong Kong por parte de nossos personagens,
que procuravam se desvencilhar da ditadura comunista. Tudo isso com direitos a
muitos golpes e pezadas na cara. Mas também uma história de progressos,
contratempos, vinganças e, sobretudo, resignações e aceitações de destinos.
E os elementos
cinematográficos? O filme é uma obra de arte em muitos sentidos. O uso do “slow
motion” não só nas cenas de ação, mas em outros momentos do filme, nos dá uma
sensação de delicadeza. A fotografia e os figurinos são belíssimos! As
prostitutas do bordel refinadamente vestidas e maquiadas. As cenas a céu
aberto, com neve caindo, cerejeiras e o treinamento das artes marciais, assim
como as cenas de luta, muito bem coreografadas, enchiam o filme com imagens de
linda plasticidade. O uso de closes, lembrando muito o estilo de filmagem de
Walter Hugo Khouri, foi um outro elemento que muito auxiliou na estética do
filme, humanizando-o profundamente. Toda a delicadeza no trato da fotografia,
do figurino e das locações contrasta com as cenas altamente violentas de lutas,
guerras e sangue derramado. Tal paradoxo torna o filme ainda mais curioso e
atraente aos nossos olhos e nos dá a plena consciência de que estamos diante de
um produto artístico com a preocupação de ser muito bem planejado e acabado.
Cabe ressaltar aqui
que, após todos os elementos citados, não podemos rotular “o Grande Mestre”
como um filme de ação convencional. Apesar das boas cenas de combate, o
andamento da história é mais lento, se aproximando muito mais de um filme de
arte, rótulo esse mais adequado, embora o ato de rotular sempre banalize e
minimize a discussão. De qualquer forma, “O Grande Mestre” merece muito ser
visto, principalmente em virtude da plasticidade da fotografia, da preocupação
com o figurino e da inter-relação entre delicadeza e violência, talvez mais bem
expressa na luta entre Ip Man e Gong Er onde seus rostos se aproximem de uma
forma muito suave, justamente no momento mais violento da luta entre os dois. Momento
sublime de arte cinematográfica.
Ip Man em ação! (os
sujeitos aí de trás vão todos tomar pezada na cara!!!)
O mestre e seus
pupilos.
Gong Er e as
prostitutas. Linda fotografia e figurino!
Mais uma, agora com Ip
Man junto.
Neve, cerejeiras e
luta. Locação esplendorosa!
A vingança de Gong Er.
Delicadeza e violência que se completam numa explosão de plasticidade!!!
Chuva também usada no
contraste claro-escuro.
Outro momento de
delicadeza e violência.Show de imagens!!!!
Ip Man e Gong Er. Violência e ternura.
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