A
Imagem Que Falta. Exumando Um Genocídio.
Um documentário que
investiga um genocídio esquecido. Essa é a melhor definição de “A Imagem Que
Falta”, de Rithy Panh. É indispensável que grandes crimes e tragédias
provocadas pelo homem contra o próprio homem sejam sempre denunciadas, algo que
é feito nesse pequeno filme de 92 minutos e que concorre ao Oscar de filme
estrangeiro.
Podemos ver aqui um
documentário magistralmente montado, que aborda o governo do Khmer Vermelho no
Camboja na segunda metade da década de 1970, que cometeu, em nome do proletariado
e da liberdade, uma série de crimes contra a humanidade contra várias pessoas,
que foram expulsas de suas cidades e obrigadas a trabalhar no campo em cultivos
de arroz e produção de fertilizante, isso numa terra árida e totalmente
inóspita. E quem fosse contra era considerado inimigo do povo e assassinado. O
filme recupera filmes oficiais do governo de Pol Pot num raro registro da
situação de um país que quase não temos notícias por aqui. Mesmo nos filmes
oficiais é possível constatar o alto grau de degradação da população que vivia
numa situação de escravidão e fome totais, além da propaganda maciça do
governo, que provocava distorções tamanhas na mente das pessoas a ponto de um
menino denunciar a própria mãe por pegar umas mangas para aplacar a terrível
fome, levando-a a execução por isso. Tudo isso sendo narrado em 1ª pessoa. As
cenas de propaganda eram intercaladas com imagens de um Camboja pré-revolução,
que tinha uma vida urbana fulgurante, em oposição às imagens da cidade
abandonada após a implantação do Khmer Vermelho. Todas as imagens trágicas
foram engenhosamente encenadas com bonequinhos de argila, que são a marca
registrada do filme. Podemos presenciar muitas situações com esses bonequinhos,
como a separação da família do narrador do filme, as mortes por inanição, as
mortes em hospitais improvisados com a “medicina capitalista” abolida, os
inúmeros enterros de corpos e muitas outras imagens escabrosas que aparecem no
semblante sofrido daqueles bonequinhos artesanalmente construídos. Um tom levemente
lúdico numa enorme tragédia que jaz esquecida no continente asiático e é agora
ressuscitada. Filmes como esse nos assustam, pois nos mostram até onde o ser
humano é capaz de cometer tantas atrocidades contra seu semelhante a serviço de
ideologias que teoricamente salvariam a humanidade, mas que na prática cometem
crimes temerosos. Assim, “A Imagem Que Falta” é um filme essencial, mostrando
outra tarefa que o cinema pode cumprir com maestria: a de ser um documento
histórico e denunciar crimes contra a humanidade.
Camboja antes do Khmer
Camboja pós Khmer:
escravidão e violência em nome de uma suposta liberdade.
Boneco do pai do
protagonista sendo construído. Ele morreu de inanição.
Prisioneiros em vagões.
Cena semelhante à do Holocausto.
Set de filmagem antes
do Khmer. Após o Khmer, execuções de atores.
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