Alabama Monroe: Tragédia ao som do Country
Music.
Hoje
vamos falar de um concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro (e terá
fortes adversários como o excelente “A Caça”, da Dinamarca e “A Grande Beleza”,
da Itália). Trata-se do filme “Alabama Monroe”, da Bélgica, que é um arraso.
Grande tragédia familiar e humana, o filme é um prato cheio para quem gosta de
música country americana. Vamos a ele,
então...
Vemos
aqui a história de um músico, Didier (interpretado por Johan Heldenbergh), que
conhece uma tatuadora, Elsie (interpretada por Veerle Baetens). Eles se
apaixonam, têm uma filha, Maybelle
(interpretada por Nell Cattrysse), que contrai um câncer e acaba falecendo, o
que acabou fazendo com que o relacionamento entre os dois desmoronasse. Tudo
isso regado a muita música country,
onde o casal cantava canções cujas letras tinham tudo a ver com as situações
que eles passavam. Um detalhe interessante do filme é que a sua narrativa não
segue o estilo tradicional de uma história contada com início, meio e fim, mas
com idas e vindas, onde presenciamos algumas situações e depois acompanhamos o
seu desenrolar. Assim, já sabemos que Maybelle está doente desde o início do
filme, que Elsie vai estar em coma no hospital, etc. A construção dos
personagens também é importante na trama. Didier ama os Estados Unidos e a sua
cultura, mas com o tempo, ele passa a odiar algumas decisões do governo Bush
contra o uso de células-tronco. Embora elas possam ser usadas na Bélgica, as
pesquisas ainda não estão desenvolvidas. E Didier acredita piamente que as
pesquisas não estavam desenvolvidas por causa da pressão de conservadores e
religiosos, acatada por Bush. Com a morte da filha, Didier ataca violentamente
o fundamentalismo religioso, inclusive publicamente (olha ele aí de novo sendo
discutido no cinema!), se bem que dessa vez esse ataque tem tintas de
perseguição a liberdade religiosa. Elsie se sentirá fortemente atacada por essa
posição de Didier, o que acaba com a relação de vez. Elsie ficou muito mais
traumatizada pela morte da filha, construiu um altar em homenagem a ela,
acreditou que ela havia se transformado numa estrela e tudo isso era rechaçado
por Didier, que abraça mais a ciência (enquanto que Elsie abraça mais a
espirituosidade). O pior de tudo é que a crença de que Maybelle havia se transformado
numa estrela veio de uma explicação do próprio Didier a Maybelle no hospital
quando o pai falou que mesmo depois de mortas, as luzes das estrelas ainda as
mantinham de uma certa forma vivas. Um momento altamente doloroso do filme é
quando Maybelle vê um pássaro morrer ao se chocar contra um teto de vidro. A
menininha pega o pássaro morto, chora e pergunta ao pai por que o pássaro
morreu, para onde ele vai depois de morto, etc., e o pai, dentro de sua visão
mais científica e pragmática, fica sem dar uma resposta que conforte Maybelle.
A menina, já doente, via ali naquele pássaro morto uma projeção de seu futuro. Após
a morte da garota, Elsie irá colocar vários adesivos de pássaros no vidro para
que os verdadeiros não se chocassem mais lá, o que causa reprovação em Didier,
pois isso não trará Maybelle de volta, nem ensinará os pássaros a evitarem
outros vidros. Tudo isso minava a relação. Outro momento angustiante era a
discussão vazia entre Didier e Elsie de qual dos dois havia sido culpado pela
morte de Maybelle. A casa era suja? A comida era ruim? Qual família tinha
pré-disposição genética a ter câncer? Atitude típica de um casal em profundo
desespero pela perda da filha. Com a separação, Elsie quer uma nova vida e muda
seu nome para Alabama. Mesmo afastada de Didier, ela continua nos shows
musicais e os músicos, de brincadeira dão a Didier o nome de “Monroe”. No show,
Didier fala ao público e faz novos ataques a proibição a pesquisa com células
tronco e às crenças religiosas e espirituais, o que provoca uma violenta
discussão entre Alabama e Monroe. Ela foge, toma uma dose excessiva de
medicamentos e entra em coma... Desenganada pelos médicos, seus aparelhos são
desligados perante a banda de Didier, que faz uma canção de despedida. Fim
trágico... E a lição de tudo isso? Um coração destroçado é um terreno estéril
para imposição de opiniões...
Cartaz
do Filme
Elsie
e Didier: marcados pela tragédia
A
banda: momento de leveza na trama melancólica
Maybelle: de dar dó...
Uma
família que se despedaçou...
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