Roger
Waters – The Wall. Um Documentário, Um Show, Uma História.
Foi exibido nos cinemas
em única sessão o documentário de Roger Waters, “Roger Waters – The Wall”, que
nos mostra o show do grande músico remanescente da lendária banda Pink Floyd.
Os shows de Waters e do Pink Floyd são conhecidos por nos mostrarem verdadeiros
espetáculos de luz e som, onde as imagens se mesclam maravilhosamente com a
música. E desta vez não foi diferente. Com um grande muro no palco, onde várias
projeções em 3D davam a tônica, o show transcorreu em pouco mais de duas horas
com as velhas canções num novo contexto visual. Um espetáculo que é deleite
para olhos e ouvidos, trabalhando esses dois sentidos simultaneamente.
Mas não devemos nos
esquecer de que não estamos num estádio vendo uma banda ao vivo, mas sim vendo
um documentário no cinema. E essa película também é um primor. As imagens do
show são alternadas com viagens de Waters Europa adentro, onde ele vai ajustar
as contas com o seu próprio passado. É que o músico teve uma dupla tragédia em
sua família: ele perdeu seu avô e pai nas duas Guerras Mundiais. Waters, seus
filhos e netos vão procurar as sepulturas de seus entes queridos nos cemitérios
militares. E lá, rendem suas homenagens. O show também será uma homenagem a
pessoas vitimadas pela guerra e intolerância em todo o mundo, onde o brasileiro
Jean Charles de Menezes recebeu uma lembrança especial e uma canção composta
por Waters. Aliás, o show é altamente reflexivo neste ponto, onde as ditaduras
sangrentas são ridicularizadas e cenas reais de massacres são exibidas sem dó
nem piedade no gigantesco telão em que se transformou o muro. Um dos pontos
altos do show foi, obviamente, a música “Comfortably Numb”, talvez a grande
obra-prima de David Gilmour e Roger Waters. Ali, o público foi a atração
principal. Jovens adolescentes e pós-adolescentes cantavam a plenos pulmões; um
rapaz acompanhava o solo de guitarra balançando a cabeça lentamente para lá e
para cá, de olhos fechados e em transe; uma moça ia às lágrimas, parecendo não
acreditar no que via. Todos muito jovens, idolatrando aquele velhinho que ainda
dá muito caldo. É nesse momento que percebemos como um grupo de músicos deixa
de ser uma mera banda e atinge o status de patrimônio cultural universal,
tomando o seu lugar no Olimpo da atemporalidade.
O documentário termina
novamente no cemitério com Waters rendendo suas homenagens aos mortos, tocando
um trompete. Em seguida, as imagens de várias pessoas mortas em locais de
conflito ao longo da História apareceram, transformando a telona num enorme
mosaico de dores e recordações. Jean Charles de Menezes foi a primeira pecinha
desse mosaico, que contou também com as presenças de Sérgio Vieira de Mello e
Chico Mendes.
Após a exibição do
documentário, foi visto um curta onde Waters e o baterista original do Pink
Floyd, Nick Mason, responderam a perguntas dos internautas, analisando uma
pilha de cartões onde as perguntas estavam, junto com os nomes dos internautas
e seus países de origem. Foi um bate-papo muito descontraído e engraçado,
principalmente quando os dois velhos músicos reviravam as querelas do passado. Ou
insinuavam revirar. Definitivamente, eles chegaram ao estágio de que “agora
podemos rir disso tudo”. Mas piadas ácidas e com um certo humor negro não
faltaram e as cutucadas levaram a plateia a boas risadas.
Assim, o documentário
“Roger Waters – The Wall” valeu cada centavo do caro ingresso e justificou a
exibição única de gala. Só espero que a gente tenha acesso ao DVD futuramente. Vale
a pena ter e guardar. Só para ratificar isso, recordo das palavras de Waters
que disse que a cada show ele convidava uns vinte veteranos de guerra para
assistir. Após o show, o músico cumprimentava-os e, numa oportunidade, um deles
não soltou a sua mão ao apertá-la. O
idoso o olhou fixamente nos olhos e disse: “Seu pai ficaria orgulhoso de tudo o
que você está fazendo aqui”. Waters disse que, nesse momento, ele desabou,
ficando profundamente tocado. Show!
Por essa e por outras,
se você tiver a oportunidade de ter essa obra-prima em suas mãos, não a
desperdice!
Cartaz do filme
O velho roqueiro está de volta
Sempre um show de som e imagens.
Enorme muro era um gigantesco telão 3D
Sensualidade feminina lembrada
Ridicularizando as ditaduras
Horrores da guerra revisitados
Grandes monstros infláveis
Nenhum comentário:
Postar um comentário