Festa
De Despedida. O Velho Tema Da Eutanásia.
Um curioso filme chegou
discretamente às nossas telas. “Festa de Despedida” já chama a atenção pela
co-produção israelense e alemã. Além disso, é uma película que aborda um velho
e batido tema: a eutanásia. Só que o faz de forma diferente. E aí é que reside
a curiosidade do filme.
Vemos aqui a história
de Yehezkel (interpretado por Ze’ev Revach), um idoso que vive com sua esposa,
Levana (interpretada por Levana Finkelstein) num asilo em Jerusalém. O casal
presencia o cotidiano das pessoas já no ocaso da vida, ou seja, as limitações físicas,
remédios e a fase terminal. Uma esposa amiga do casal, Yana (interpretada por
Aliza Rosen) padece com a dor do marido, que tem uma doença irreversível e a
medicina nada mais pode fazer senão manter o paciente em condições deploráveis.
Desesperada, Yana pede a Yehezkel que a ajude a praticar eutanásia em seu
marido. Eles vão procurar a ajuda de Dr. Daniel (interpretado por Ilan Dar), um
veterinário que mora no asilo e que sacrifica cachorros em fase terminal,
depois de todos os médicos recusarem o pedido de eutanásia de Yana. Em Israel,
a prática de eutanásia é punida com a prisão perpétua. Mas ainda ficava a
questão: quem aplicaria o medicamento e cometeria o ato de matar? Aí entrou a
engenhosidade de Yehekzel, que gostava de construir pequenos aparelhos mecânicos
e criou uma máquina onde o próprio paciente apertava o botão que injetava o
cloreto de potássio para provocar a parada cardíaca. Yehezkel também usava uma
câmara de vídeo para gravar o depoimento do paciente que escolhia a opção da
morte. Nos funerais do marido de Yana, o pequeno grupo de idosos é surpreendido
por um senhor que tem uma esposa em fase terminal e quer também fazer a
eutanásia.
Apesar do filme abordar
um tema forte e polêmico, tivemos breves momentos de humor negro que, se fosse
mais usado, faria a história fluir com mais suavidade. Uma boa ideia que foi
mal aproveitada. A película também tem uma clara inspiração na história real do
“Doutor Morte” Jack Kevorkian, um médico
que criou uma máquina onde o próprio doente terminal injetava o líquido letal
em seu corpo, depois de gravar um depoimento em vídeo no qual confirmava sua intenção
de acabar com a própria vida.
O filme em si não parece
tomar uma posição definitiva, pois apesar de aparentemente defender a
eutanásia, o ato em si provocava uma enorme comoção nos protagonistas que
organizavam todo o procedimento de morte. Há, ainda, uma questão central: se
cometer a eutanásia em desconhecidos já é um tema altamente polêmico, o que se
pode dizer de tirar a vida de um ente querido, com o qual você viveu muitos
anos? Até onde vai a sua coragem nessa situação? Matar um ente querido que
sofre à sua frente é mais “fácil” ou “difícil”? Independentemente da resposta
que você dá a essa questão (embora pareça que não haja nenhuma específica), uma
coisa é certa: você jamais fica indiferente a tudo que fica impresso em suas
retinas.
O filme também tem a
coragem de abordar um tema muito polêmico, mas sem aprofundá-lo: o
homossexualismo na terceira idade. Um dos personagens do filme (não o direi
aqui para abrir uma clareira na floresta de “spoilers” que esse artigo se
tornou) tem uma relação homossexual com outro e ambos têm um casamento
heterossexual. Um deles diz que esse relacionamento homossexual é uma “fase”. Há
alguns breves momentos de dilema nesse casal, mas como já dito, a discussão não
aprofunda e corre paralelamente à questão da eutanásia, essa sim altamente central
no filme. Apesar disso, há um desfecho para a situação do homossexualismo,
embora ela tenha sido um tanto simplória e insatisfatória. De qualquer forma,
ficou a dica para o roteiro de um outro filme e a coragem de se tocar no
assunto num país tão religioso e tradicional como Israel.
Assim, “Festa de
Despedida” fala de um velho tema (a eutanásia) dentro de uma abordagem
relativamente original que volta a confirmar aquela batida máxima: em assuntos altamente
controversos, parece que jamais haverá uma resposta definitiva, ao menos para
as mentalidades das sociedades cotidianas. E você? Qual a sua opinião sobre
aliviar o sofrimento do próximo? Teria tal coragem?
Cartaz do filme
Yehezkel e Levana. Vida em asilo.
Ligações inusitadas.
Ajudando pacientes terminais a morrer
Conflitos sobre a eutanásia.
Velhinhos safados
Até onde vai a coragem desse grupo?
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