Fassbinder
– Amor Sem Cobranças. Recordando Um Grande Cineasta.
O Festival do Rio tem a
tradição de agradar a todos os gostos. E esse ano, não foi diferente, mesmo com
a quantidade menor de filmes. No documentário, podemos presenciar boas
produções. É o caso de “Fassbinder – Amor Sem Cobranças”, do diretor e pesquisador
Christian Braad Thomsen, um dinamarquês que manteve uma relação bem estreita
com o famoso diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, um dos mais importantes
do pós Segunda Guerra Mundial. Thomsen fez o documentário baseado em suas
impressões pessoais e entrevistas valiosíssimas do próprio Fassbinder e de
algumas das pessoas envolvidas com sua produção cinematográfica altamente
compulsiva, que beirava a neurose.
Nascido em 1945, o ano
do fim da Segunda Guerra Mundial, Fassbinder cresceu como uma criança mimada
numa família altamente caótica, sem a presença paterna por perto (o pai foi
embora). Quando seu núcleo familiar começou a se dispersar, ele perdeu a redoma
que o protegia dos duros anos do pós guerra. Para piorar a situação, ele notou
que nem sempre o mundo poderia se submeter aos seus caprichos. Mas mesmo assim,
estava aprendendo ao ir constantemente ao cinema, segundo as palavras da
própria mãe, Lilo, que trabalhava em seus filmes. Sua obra cinematográfica
mostrava os resquícios de uma sociedade arrasada pela guerra e pelo nazismo,
onde o preconceito racial ainda era latente. Sua condição homossexual somente
agravou as tensões que mantinha com seu tempo. As películas de Fassbinder
mostravam ainda situações de parricídio, como se fosse um castigo contra a
geração anterior que havia apoiado os nazistas (sua mãe somente interpretava
papéis degradantes em seus filmes). Os filmes jamais tinham algum “happy end” e
eram altamente melancólicos. Seu tema-chave era a forma como as pessoas
poderiam ser destruídas por outras quando estivessem apaixonadas. Como é falado
no título de uma de suas películas, “O Amor é Mais Frio que a Morte”. A
compulsão pelo trabalho vinha do fato de que ele somente sentia que existia e
interagia prazerosamente com as pessoas no ambiente de trabalho. Os atores de
seus filmes geralmente eram pessoas dos setores marginalizados da sociedade
(negros e imigrantes procurados pela polícia), que também eram seus amantes. Sua
personalidade magnética colocava as pessoas à sua volta numa condição de
dependência, como a atriz Irm Hermann, que chegou a tentar o suicídio após ter
um problema com Fassbinder. O diretor, se tinha o seu lado crítico aguçado, no
campo pessoal podia ser um manipulador das pessoas que o cercavam, agindo,
inclusive, de forma bem cruel. É de se lamentar a ausência de Hanna Schygulla
nos depoimentos e entrevistas, grande atriz polonesa que fez carreira no cinema
alemão, e que era uma das principais atrizes de Fassbinder, trabalhando em
vários de seus filmes como “O Casamento de Maria Braun”, “A Terceira Geração” e
o antológico “Lili Marlene”, dentre outros. Pelo menos, tivemos muitas imagens
da atriz quando jovem no documentário, uma estonteante loura de olhos azuis.
Infelizmente,
Fassbinder deixou este mundo muito cedo, lá no longínquo ano de 1982, aos 37
anos, vitimado pelas drogas e pelo trabalho compulsivo, que realmente o deixava
esgotado. Numa das entrevistas dadas a Thomsen, Fassbinder estava visivelmente
exausto. E noutra entrevista, Fassbinder havia dormido por 24 horas seguidas
antes de conversar com o diretor do documentário. Fassbinder chegava a cheirar
oito gramas de cocaína por dia. Sua morte foi uma grande perda e deixou
desorientado todo um grupo de pessoas que o orbitava.
Dessa forma, “Fassbinder
– Amor Sem Cobranças”, é um documentário importantíssimo para aqueles que
admiram o trabalho desse grande cineasta do pós guerra. Procure no Youtube
depois, já que parece que esse filme não será lançado comercialmente por aqui.
Cartaz do documentário
Christian Braad Thomsen, o diretor do documentário
Uma raríssima entrevista de Fassbinder
Com Hanna Schygulla, belíssima
Irm Hermann, que tentou o suicídio...
Um diretor com compulsão pelo trabalho...
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