Quanto
Tempo O Tempo Tem? Filosofia De Relógio.
Com o Festival do Rio a
pleno vapor, vieram algumas decepções. Menos filmes, o Grupo Estação envolvido
com o festival só a meia boca, etc. Entretanto, nesse primeiro dia em que
encarei o festival, tive a oportunidade de testemunhar um bom documentário
brasileiro que será lançado comercialmente em breve. “Quanto Tempo o Tempo Tem?”
é um filme que busca responder às inquietações da diretora Adriana Dutra,
segundo as palavras da própria, que esteve no Cine Joia, de Copacabana, para
apresentar a sua película ao público. Para Adriana, a sua impressão é a de que
o tempo passa cada vez mais rápido. E isso serviu de inspiração para que seu
filme fizesse uma reflexão desse conceito que tanto mexe com a cabeça da gente.
Para isso, a diretora correu o mundo, ou seja, se deslocou no espaço, para poder
falar sobre o tempo. E entrevistou especialistas das mais diversas áreas, o que
deu uma visão altamente diversificada e ampla do assunto. Pudemos ver
depoimentos do grande sociólogo italiano Domenico de Mais, da monja budista
Coen Sensei, do físico Marcelo Gleiser, do cineasta Arnaldo Jabor, do
jornalista Arthur Dapieve e muitos outros. Cada um deu sua contribuição à sua
maneira para uma reflexão do que é o tempo. A discussão foi tão rica que ela se
expandiu para assuntos altamente contemporâneos como a velocidade da informação,
como a tecnologia afetará o ser humano nas próximas décadas, como ficará a questão
da previdência social com o aumento da expectativa de vida, etc. Um tema que muito
chamou a atenção foi a especulação de que, no futuro, o homem poderá ser uma
criatura cibernética, onde a nanotecnologia terá um papel fundamental na
conectividade do homem com os equipamentos eletrônicos. Os devaneios (ou não)
sobre tal tema foram tamanhos que houve até a especulação de se guardar a consciência
humana em discos rígidos e, assim, garantir a imortalidade da alma. É claro que
tal tema despertou muita polêmica e nem todos concordaram com ele, lembrando
que é a finitude da vida que a torna tão especial. Vale lembrar aqui que,
Marcelo Gleiser, em seu livro “A Ilha do Conhecimento”, atenta para o fato de
que, mesmo que façamos um computador que reproduza fielmente o cérebro humano, isso
não significa que possamos produzir consciência. E o físico foi além no
documentário, lembrando que à medida que a ciência e tecnologia se desenvolvem,
elas podem se deparar com problemas que até então o ser humano nem imaginava
que existiam, como já ocorreu no passado. Gleiser ainda lembra que podemos, um
dia, encarar um problema que é insolúvel e que reflete a limitação humana para
determinadas situações.
Muitas outras discussões
interessantes surgiram, como o abandono da visão que temos do tempo usado ao
longo da vida, dividido em três épocas (o estudo, o trabalho e a
aposentadoria), em virtude do envelhecimento da população ou a visão da escravidão
como o roubo do tempo do outro.
Dessa forma, não perca “Quanto
Tempo o Tempo Tem” quando esse documentário sair em circuito comercial. E não deixe
de assistir as cenas pós-créditos (sim, elas existem aqui e estão em grande
estilo!). Você terá a ótima oportunidade de presenciar uma reflexão multidisciplinar
sobre o tempo. Só confesso que senti falta da definição de tempo do grande cineasta
brasileiro Mário Peixoto: “O relógio da parede não marca mais um, mais um, mais
um. Na verdade, ele marca menos um, menos um, menos um. O tempo não existe”. Simultaneamente
poético e assustador!!!
A diretora Adriana Dutra.
Walter Carvalho foi o co-diretor
Domenico de Masi
Arnaldo Jabor
Com a monja budista Coen Sensei.
O físico Marcelo Gleiser deu contribuições importantes à discussão
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