Salinger.
Desconstruindo Uma Lenda.
J. D. Salinger. Esse nome
significa muito para muitas pessoas. Seu livro “O Apanhador no Campo de
Centeio” (“The Catcher in the Rye”), lançado no ano de 1951, até hoje vende
cerca de 250.000 cópias por ano, sendo um dos maiores best sellers conhecidos. Eu tenho o meu e já o li. E você? A
história de um adolescente perdido e que surta comoveu o mundo, num grito
contra a falsidade do mundo adulto.
E não é que no auge,
com o sucesso de “O Apanhador no Campo de Centeio”, Salinger se torna recluso e
fica avesso a qualquer aparição pública e a pedidos insistentes de novas
publicações? Mas será que foi exatamente isso que ocorreu? É o que o
documentário “Memórias de Salinger”, de Shane Salerno procura elucidar. E é um
excelente documentário! Vemos aqui muitas entrevistas e relatos de amigos
próximos de Salinger, de escritores famosos como Doctorow e Gore Vidal, atores
como Martin Sheen e o recentemente falecido Philip Seymour Hoffman, além de
pesquisadores e personagens que nos ajudam a desvendar quem foi a figura
mitológica de Salinger. Além disso, o filme conta com um vasto acervo
iconográfico, com fotos do escritor no início da carreira, preciosas imagens de
Salinger servindo como soldado na 2ª Guerra Mundial (inclusive um raríssimo
fragmento de filme com poucos minutos de duração) e algumas de suas fotos já na
velhice, sendo tomadas às escondidas. O documentário mostra um Salinger em
início de carreira lutando para que seus contos sejam publicados na revista
“The New Yorker”, fala de suas primeiras publicações, de “O Apanhador no Campo
de Centeio” e seu grande sucesso, de sua vida reclusa num pequeno rancho onde
ele tinha um bunker no qual se
isolava até por uma semana seguida para escrever. O filme não encobre em nenhum
momento o temperamento difícil do escritor, seja no trato com os fãs, amigos
próximos e editores, de quem exigia que seus textos fossem publicados com fidelidade
total, podendo cortar relações permanentemente caso isso não acontecesse. As
mulheres da vida de Salinger também aparecem, inclusive com depoimentos e a sua
relação frustrada com Oona O’Neil, que acabou com Salinger no front de guerra e a mocinha nos braços
de Chaplin, relação essa sendo exposta totalmente, nos dando uma ideia do que o
escritor sofreu com o fim do romance. No que toca à sua vida reclusa, a questão
é um pouco relativizada, havendo menções ao fato de que Salinger procurava a
mídia quando lhe era conveniente, sendo prontamente atendido. Os três crimes
supostamente motivados por “O Apanhador no Campo de Centeio” (sendo dois deles
o assassinato de John Lennon e o atentado ao presidente Reagan) e como isso
abalou Salinger são também abordados. O filme ainda mostra as últimas
fotografias do escritor antes de sua morte e lista um conjunto de obras
inéditas (inclusive uma suposta continuação de “O Apanhador no Campo de
Centeio”) a serem lançadas entre 2015 e 2020, criando grandes expectativas.
Um documentário com
depoimentos bem elucidativos e análises bem coerentes. Um documentário que
torna Salinger uma figura mais humana, com suas qualidades e defeitos e menos
mítica. Vemos claramente a admiração e decepção que ele provocou nas pessoas
que o cercavam, como qualquer um de nós faz. Vemos, também, sua genialidade,
suas amarguras e seu desgosto com a falsidade adulta. Um documentário de “ver e
ter”.
Cartaz do Filme, com
uma foto tomada às escondidas.
Com colegas na 2ª
Guerra Mundial.
Escrevendo
“O Apanhador no Campo de Centeio” no front.
Essa é a única foto de Salinger escrevendo o original do livro que o
imortalizou.
Um
escritor na capa da Revista Time.
Evento raro.
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