Robocop.
Uma Excelente Obra Prima de José Padilha.
O Cinema Brasileiro faz
bonito no exterior. O “Robocop”, de José Padilha tem muitas diferenças com
relação ao original lá da década de 1980. Mas são diferenças para lá de
positivas. A escolha do elenco também ajudou. Quem viu a reportagem da revista
Veja há algumas semanas percebeu que ele conseguiu controle total do filme,
algo que em si só, já é um fenômeno nos Estados Unidos, perante às grandes
produtoras. Mas temos mais, muito mais aqui para falar.
Só para iniciarmos, o
filme tem uma crítica contundente ao intervencionismo americano e as retóricas
de direita que justificam tais intervenções. O grande jornal ancorado por Pat
Novak, interpretado por um Samuel Jackson simplesmente espetacular (que até faz
um pequeno joguete com o leão da MGM) nos mostra a invasão militar das máquinas
em Teerã, onde os iranianos são colocados claramente na posição de oprimidos
pelo imperialismo americano. Até os terroristas iranianos são expressos de uma
forma diferente, onde há a ordem entre eles de não fazer vítimas humanas, mas
somente se sacrificar enfrentando as máquinas. Fica claro que as máquinas fazem
o papel de cães de guarda dos interesses dos Estados Unidos no mundo inteiro,
exceto nos próprios Estados Unidos, onde a opinião pública não aceita tal
presença, já que as máquinas não têm intuição e emoção humanas, agindo de forma
totalmente fria e calculista. Essa não presença nos Estados Unidos irrita a
empresa OmniCorp, por não abiscoitar o maior mercado mundial. Faz-se necessário
conquistar essa opinião pública, e o presidente da OmniCorp, Raymond Sellars
(interpretado por Michael Keaton), busca um ciborgue, ou seja, um misto entre
homem e máquina. Por outro lado, o policial Alex Murphy (interpretado por Joel
Kinnaman) sofre um atentado após ser traído por seus próprios colegas de
polícia na missão de prender um criminoso. Pronto! As condições para o
surgimento de Robocop estão formadas. Cabe dizer aqui que, dentro da história
que levou ao atentado contra Murphy, o filme realmente se aproxima muito de
“Tropa de Elite”: as tramas policiais, planos para se pegar criminosos,
traições, corrupções, violentos tiroteios, onde o som dos tiros abafa a música
de fundo, está tudo lá em “Robocop”, tal como vimos em “Tropa de Elite”.
E a transformação de
Murphy em Robocop? Esta é muito mais elaborada e pensada na versão de Padilha. Desde
o primeiro momento, vemos o diálogo da esposa de Murphy com os executivos da
OmniCorp e com o cientista responsável pela transformação do marido em
ciborgue, Dr. Dennett Norton (interpretado por um marcante e carismático Gary
Oldman), algo que leva a moça a autorizar a transformação do marido. O Robocop
de Padilha não nasce completamente mecanizado, mas ainda possui a consciência
de Murphy, que tenta fugir, mas é desligado, estando numa filial chinesa da
OmniCorp. Ao perceber sua verdadeira condição, Murphy pensa em suicídio, sendo
demovido da ideia por Norton. Nas simulações de resgate de reféns, seus
movimentos são mais lentos que os dos robôs, pois o elemento humano o torna
hesitante. Assim, é feita uma pequena incisão em seu cérebro onde, quando a
viseira do traje de Murphy está levantada, é o policial que tem o controle da
situação sobre seu corpo, mas quando a viseira está abaixada, é a máquina que
comanda, onde o policial pensa que ainda tem o controle. Questionado pelas
implicações éticas da situação, Norton a justifica com a magnífica frase: “é a
farsa do livre arbítrio”. Ao ser apresentado como a grande invenção da OmniCorp
para o público, Murphy surta com o violento volume de informações sobre crimes
e homicídios, principalmente quando presencia cenas do próprio crime que
sofreu. Na necessidade de ser apresentado imediatamente, Norton é pressionado a
estabilizá-lo emocionalmente, tornando-o uma máquina fria e calculista que age
violentamente contra um acusado de um crime que está na multidão. Mas Murphy
ainda está lá e busca a vingança contra aqueles que provocaram seu atentado,
chegando até aos colegas e à sua chefe de polícia. Mas Murphy é imobilizado a
mando de Sellars, que aproveita a situação para forjar o assassinato de Murphy
e, assim, obter apoio da opinião pública para seus robôs. Isso significava que
Murphy deveria ser morto. Mas ele vai reagir contra isso, levando o filme a
outros lances espetaculares, agora dentro do mais tradicional filme de ação.
Falamos aqui como o
filme faz uma crítica contundente ao intervencionismo e militarismo americanos,
algo não visto na versão original de 1987. O filme ainda denuncia a falta de
escrúpulos das grandes corporações capitalistas em busca do lucro, assim como o
faz a versão original. Mas um destaque deve ser dado na versão de Padilha
quanto ao papel da mídia. Enquanto que, na versão original, a mídia se limitava
a apresentar as situações absurdas de um futuro imoral com sorrisos e nenhum
senso crítico, na versão de 2014, a mídia tem papel muito mais atuante,
principalmente na figura do âncora Novak, que defende o intervencionismo
americano e o uso das máquinas para a segurança nos Estados Unidos, criticando
severamente o senador Dreyfuss (interpretado por Zach Grenier) que criou uma
lei contra a presença das máquinas nos Estados Unidos. Mas, quanto ao
direitismo da mídia americana, o maior lance passa quase que despercebido quando,
ao ser anunciada a votação que derrubará a lei do senador Dreyfuss e permitirá
a presença das máquinas de segurança em solo americano, podemos ver no canal de
notícias uma barra de notícias escritas que diz “Karl Marx estava certo”, diz o
economista fulano de tal. Uma sátira ácida contra o capitalismo dentro de um
filme americano de ação. Vocês hão de convir que não se vê isso todo o dia.
Após essa pequena
análise sobre o filme, podemos dizer que Padilha expande magistralmente certas
questões surgidas na versão original de Robocop, como a corrupção policial e a
imoralidade das empresas capitalistas na busca por lucros, além de inserir
outras, como uma crítica severa à politica externa altamente imperialista dos
americanos. Tudo isso faz de “nosso Robocop” uma obra prima.
Alex Murphy: máquina
com consciência humana (personagem mais trabalhado aqui).
Moto de Robocop: Caveirão????
Novak (Samuel Jackson):
Mídia Direitista.
Máquinas patrulhando um
alegre (e dominado) Irã...
Norton (Gary Oldman):
onde termina a pesquisa e começa a ética?
Norton e Sellars:
relação conflituosa.
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