A
Gaiola Dourada. Jogo de Interesses em Tons de Comédia.
Excelente. Essa é a
impressão que “A Gaiola Dourada” nos dá. O filme é muito envolvente para nós,
pois os personagens protagonistas são de uma família portuguesa. E logo a gente
se identifica. É uma comédia deliciosa, mas que aborda temas muito atuais, tanto
em nível particular como em nível mais geral.
O filme conta a
história da família Ribeiro, formada pelo casal de emigrantes portugueses Zé (interpretado
pelo sempre excelente Joaquim de Almeida) e Maria (interpretada por Rita
Blanco). Esse casal sai de Portugal para viver em Paris, fugindo da pobreza e
em busca de oportunidades. Maria irá se tornar a zeladora de um edifício e Zé
um mestre de obras de uma construtora. O casal sempre adotou uma postura muito
submissa perante seus patrões e até perante seus amigos e parentes portugueses.
O casal tem dois filhos, Paula (interpretada por Bárbara Cabrita) e Pedro
(interpretado por Alex Alves Pereira), que praticamente viveram toda a sua vida
em Paris e têm pouca identificação com Portugal. A vida da família Ribeiro
continuaria a mesma não fosse uma carta que receberam de Portugal, que dizia
que o irmão de Zé havia morrido e deixado uma grande herança para ele, que era
constituída de uma fábrica de vinho e muitas terras. Assim, o casal pobretão de
emigrantes se torna muito rico da noite para o dia. Mas essa riqueza só seria
desfrutada se Zé assumisse o controle de tudo e passasse a viver em Portugal. Com
uma rede muito eficiente de fofocas, todos ficam sabendo da herança do casal e
vão impedir a viagem dos dois para Portugal, em virtude dos mais variados
interesses. A irmã de Maria quer que ela a ajude no molho da bacalhoada de seu
restaurante. O patrão de Zé quer que seu mestre de obras continue no emprego para
tocar a construção de um shopping center que o salvará da falência. Para piorar
a situação, Paula se apaixona pelo filho do patrão de Zé. A partir daí, o filme
assume uma série de situações engraçadas das mais variadas, onde o casal terá
que superar vários obstáculos para poder retornar a Portugal e pegar sua
herança. A cena mais engraçada foi o jantar na casa de Zé e Maria, com o patrão
de Zé e sua esposa, para aproximar as duas famílias cujos filhos iniciavam um
relacionamento. Cada casal queria agradar o outro e vimos o casal mais pobre se
comportando como o mais rico e vice-versa.
A comédia meio que
adoça temas espinhosos da sociedade europeia contemporânea. O mais proeminente
deles é a migração. Fica bem claro no filme como o continente europeu está
dividido entre uma Europa mais pobre e uma Europa mais rica. Essa cisão acaba
levando a uma visão preconceituosa, onde portugueses (da parte mais pobre do continente)
acabam se submetendo a condição de cidadãos de segunda categoria em países mais
ricos (no caso, a França) e acabam realizando serviços e tarefas braçais que os
franceses não querem fazer. O tempo excessivo fora do país de origem acaba
fazendo com que o emigrante perca uma certa identificação com sua terra. Se Zé
queria com certeza retornar ao país, Maria já era mais reticente. Ela se
preocupava em deixar seus patrões na mão e não sabia o que fazer ao morar
sozinha com o marido numa grande propriedade em Portugal. Dessa forma, víamos
os próprios emigrantes presos dentro de sua “gaiola”, não conseguindo num
primeiro momento sair daquela vida servil que lhes foi imposta por tantos anos.
Mas isso iria mudar quando Paula os alertasse de sua condição subserviente. E
aí os pais começarão uma espécie de rebelião que irá deixar todos os que se aproveitavam
deles boquiabertos, algo que dá muita graça ao filme.
E quanto aos filhos?
Esses irão sofrer um outro impacto da migração. Filhos de portugueses, passaram
praticamente todas as suas vidas em Paris e a identificação com o país de
origem dos pais é menor ainda. Haverá ainda o agravante de eles esconderem dos
amigos e namorados a condição humilde dos pais, para não sofrerem
discriminações, o que provocará mágoas entre pais e filhos.
O diretor do filme,
Ruben Alves, que também teve a ideia original do filme, preferiu o happy end, com todos voltando à
“terrinha”. Assim, a questão social da migração e do preconceito, que poderia
ter sido abordada mais profundamente, ficou apenas num plano superficial, algo
mais adequado para uma comédia. Se esse tema social tivesse sido mais profundamente
enfocado, o filme tomaria mais um aspecto de drama, algo que não se enquadraria
na proposta de comédia. De qualquer forma, o tema foi mencionado e isso torna o
filme válido além da fronteira do entretenimento puro e simples. Vale a pena
dar uma conferida nessa comédia.
Cartaz do Filme.
Zé e Maria.
Paula e namorado:
conflito social no relacionamento.
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