A
Morte Passa Perto Quando o Beijo é Assassino.
Mais uma pequena joia
de Kubrick. Do ano de 1955, o filme “A Morte Passou Perto” (“Killer´s Kiss”)
tem apenas 67 minutos, mas conta uma história arrebatadora, que se passa em
apenas dois dias, mostrando como um simples ato pode nos levar a situações para
lá de inusitadas e modificar tudo em nossas vidas.
Vemos aqui o pugilista
Davey Gordon (interpretado por Jamie Smith), vizinho de Glória (interpretada
por uma esquálida Irene Kane). Esse lutador vindo de Seattle irá ser
nocauteado, enquanto Glória trabalha num “dancing”, sendo perseguida por
Rapallo (interpretado por Frank Silveira), seu chefe, que está muito
apaixonado. Após o nocaute, Davey retorna ao apartamento e presencia Glória por
sua janela. No dia seguinte, ele desperta de um pesadelo com os gritos de
Glória e vê Rapallo atacando-a. Davey corre para o apartamento de Glória e faz
Rapallo fugir. A partir daí, Davey e Glória se conhecem melhor, iniciando um
relacionamento. Davey sugere a Glória que tirem juntos uns dias de descanso em
Seattle. Para isso, Glória irá a Rapallo pedir o dinheiro que ele lhe deve e
Davey pede o cheque da luta para o seu empresário. Só que Rapallo manda seus
capangas assassinarem Davey, que acabam assassinando seu empresário por engano.
E a polícia nomeia Davey como seu principal suspeito. No dia seguinte, Davey
vai ao apartamento de Glória e não a vê mais. De lá, ele observa às escondidas
a polícia procurando-o em seu apartamento. Assim, Davey vai à caça de Rapallo,
rendendo-o com uma arma e eles chegam ao esconderijo onde está Glória e os
capangas que mataram o empresário do pugilista. Davey consegue render a todos,
mas os capangas reagem e põem o lutador desmaiado. Nesse momento, Glória tenta
seduzir Rapallo para se salvar, que não cai em sua conversa. Davey recobra a
consciência e escuta a tentativa de Glória. Desiludido, foge pela rua é
perseguido por Rapallo e um dos capangas. No sobe e desce dos prédios ao longo
da perseguição, o capanga machuca o pé, ficando pelo caminho. Davey e Rapallo
farão seu duelo final num depósito cheio de manequins. Davey mata Rapallo e
Glória vai presa junto com os dois comparsas. A polícia descobriu os autores do
assassinato do empresário de Davey e concluíram que o lutador agiu em legítima
defesa ao matar Rapallo. Davey está na estação de trem, sem Glória, lembrando
que ele a deixou sozinha com os bandidos porque ela o magoou. Mas Glória ainda foi
atrás de Davey e eles partem juntos para Seattle, não sem antes beijarem-se
apaixonadamente, com o letreiro “Killer´s Kiss” em primeiro plano (altamente
simbólico!).
O que nos chama a
atenção aqui? Em primeiro lugar, a filmagem, montagem e direção de Kubrick. As
cenas da luta de boxe são geniais, fotografadas de baixo para cima, com bruscos
movimentos de câmara, closes e ângulos do ponto de vista dos boxeadores. O
nocaute mostra uma câmara cambaleante que mira para o refletor acima do ringue
após a sua queda. Outro ponto de destaque é a filmagem de um pôr do sol em
tempo real, além das filmagens da cidade à noite, onde o brilho dos letreiros
dos teatros, cinemas e restaurantes é muito bem aproveitado. O uso de espelhos
no filme também é sensacional. Davey, ao olhar para Glória na janela em frente
à sua, atende ao telefone e fala com o pai. O telefone está numa penteadeira,
que dá de frente para a janela de Glória. Vemos Davey falando ao telefone
olhando fixamente para Glória, que está fora do enquadramento da cena. Mas
podemos observar Glória no espelho da penteadeira de Davey. Outro uso do
espelho está numa cena em que Rapallo, possuído pela fúria, joga um objeto em
direção a nós, espetadores na sala de projeção. Mas o que acontece é que a sua
imagem é dividida em algumas rachaduras, acompanhadas pelo som do espelho
quebrando. Assim, percebemos que, na verdade, a câmara faz uma imagem de
Rapallo refletida no espelho.
E a música? Ouvimos uma
música latina de ritmo muito rápido, que dá dramaticidade às cenas. Outro
destaque interessante é a luta entre Davey e Rapallo na sala repleta de
manequins. A impressão de presenciarmos corpos despedaçados e pedaços de corpos
na cena de luta nos enche de tensão e angústia, ainda da forma como Kubrick
colocou a coisa: mãos penduradas em cima da cabeça de Davey, “apontando” para
ele; mesas cheias de cabeças; mulheres nuas sem braços e cabeças. Uma sensação
opressora semelhante às visões de um campo de concentração (lembremo-nos que o
filme foi produzido em 1955, apenas dez anos depois da 2ª Guerra). Essa foi a
grande sequência do filme.
Vemos, assim, que “A
Morte Passou Perto” nos mostram muitos elementos interessantes de como
germinavam os talentos do homem que fez “2001, Uma Odisseia no Espaço”.
Cartaz do Filme
Davey e Glória
Glória, de uma magreza assustadora
Cenas de luta muito bem
fotografadas e montadas.
Davey ameaçando
Rapallo.
Cena de luta na sala
dos manequins: cenário opressor.
O beijo assassino...
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