Frankenstein,
Entre Anjos e Demônios. Dilemas da Alma Perdida.
O filme “Frankenstein,
Entre Anjos e Demônios”, é aquilo que eu chamo de “Extended Play Story”, ou
seja, um clássico da literatura universal estendido além do que todo mundo já
conhece. Já vimos isso no cinema com a Branca de Neve e com João e Maria (muito
violento, por sinal; Estatuto da Criança e do Adolescente e Lei Maria da Penha
teriam muito trabalho naquele filme). Agora, é a vez da simpática criatura de
Mary Shelley ter a sua chance.
Tudo começa do jeito
que a gente já sabe. A criatura (interpretada por Aaron Eckhart), perseguida
pelo Dr. Victor Frankenstein, depois de sua mulher ser assassinada pelo
monstro. O Dr. Frankenstein morre congelado e a criatura, resistente ao frio,
leva o seu criador ao cemitério da família. Durante o sepultamento, a criatura
vai se deparar com um exército de demônios que quer capturá-lo. Mas a criatura
mata um dos demônios. Isso desperta os gárgulas de uma igreja próxima, que
matam os outros demônios e levam o monstro mais o livro de anotações do Dr.
Frankenstein para a igreja que serve de quartel-general desses anjos bem
feinhos. Lá, a rainha dos gárgulas, Leonore (interpretada pela belíssima
Miranda Otto, que fez o papel de Elisabeth Bishop no filme brasileiro “Flores
Raras”) tenta em vão fazer a criatura pertencer ao seu exército nessa luta do
bem contra o mal. A criatura desaparece por uns duzentos anos (ela é
resistente, não morre fácil), chegando até aos dias atuais quando, de saco
cheio de tanto ser perseguida pelos demônios, volta para dar um ponto final a todo
esse tró-ló-ló. Para isso, a criatura deverá enfrentar o príncipe dos demônios,
Naberius (interpretado por Bill Nighy, o pai de “Questão de Tempo”), que quer
não só a criatura Frankenstein como também o livro de anotações do Dr.
Frankenstein, em poder dos gárgulas, para ressuscitar cadáveres e colocar a
alma dos demônios que vivem no inferno neles, formando um verdadeiro exército
do mal para destruir a humanidade. Para isso, Naberius contará com a ajuda da
cientista Terra (interpretada por Yvonne Strahovski), que logo ficará do lado
da criatura. Cabe dizer aqui que a relação entre a criatura e os gárgulas era
altamente conflituosa, pois o próprio monstro de Frankenstein é uma criatura
dividida entre o bem e o mal. Assim, vemos duas lutas entre forças malignas e
benignas: os demônios e os gárgulas, assim como o dilema entre bem e mal dentro
do próprio Frankenstein, que opta por um futuro do bem (será que vão fazer
continuação do filme?), em detrimento do seu passado de ressentimentos, ligado
ao mal. Dessa forma, a história resgata o personagem vítima da tragédia que foi
o homem brincar de Deus. Mas toda essa discussão é apenas um devaneio
pseudo-filosófico em cima de um filme comercial de ação! Vemos muitos efeitos
especiais, demônios tomando muitas pauladas que, quando morriam, iam em chamas
chão abaixo para o inferno, ao passo que, quando os gárgulas morriam, eles iam
para o céu num facho de luz azul. Um Frankenstein com cara de galã remendado e
com arroubos de Wolverine (“Leave me Alone” e “deixa que eu resolvo tudo!”),
tudo isso num 3D só para enfeitar. No mais, a fotografia cheia de efeitos
especiais, com claros e escuros, meio gótica, meio expressionista.
Pode-se dizer que
“Frankenstein, entre anjos e demônios” é um filme que tem o que se espera
exatamente dele. Pura diversão, sem reflexões filosóficas mais profundas. Pelo
menos, redime moralmente a criatura. E por que não?
Um galã remendado...
Naberius, o príncipe
dos demônios...
Bem, Mal e Imortal: sem
carinhas bonitas...
A cientista Terra.
Miranda Otto, como
Leonore, muito linda...