Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!
Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

domingo, 13 de março de 2016

Resenha de Filme - Madeleine

Madeleine. (In)Decifrando Uma Morte.
Ainda dentro da mostra de David Lean no CCBB, vamos falar hoje de “Madeleine” (1950), um filme menos conhecido do consagrado diretor, sendo uma boa oportunidade de vê-lo na mostra, já que o filme está esquecido tanto na tv aberta quanto fechada, assim como nos lançamentos em DVD. É mais uma película estrelada por Ann Todd, que também participou de “Sem Barreira no Céu”, que teve um casamento muito turbulento com Lean. “Madeleine” é um filme bem peculiar do cineasta, com influências rasas do expressionismo e com uma tremenda cara de teatro filmado.
No que consiste a história de “Madeleine”? A protagonista é uma filha de classe média em Glasgow no ano de 1857. Ela tem como pai o rígido James Smith (interpretado por Leslie Banks), que está incomodado com a moça, que já está passando da idade de se casar e não escolhe um partido. Aparecerá na vida de Madeleine William Minnoch (interpretado por Norman Woodland), que passa a cortejá-la e pede a sua mão em casamento ao pai, no que ele prontamente aceita, sem consultar a filha, praticamente impondo a ela que case. Mas Madeleine tem um amor secreto, o francês Emile L’Anglier (interpretado por Ivan Desny), de estrato social mais baixo e que jamais será aceito pelo pai da moça. Mesmo assim, Emile pressiona Madeleine para que ela o apresente ao pai. Madeleine decide fugir com Emile, mas o francês recusa esta saída. Madeleine rompe com ele e o francês a chantageia com as cartas amorosas que ela escreveu para ele. A moça, então, vai começar a comprar arsênico e Emile morre envenenado. A moça é acusada de homicídio e julgada. A partir daí, a película faz um devaneio sobre a culpabilidade de Madeleine. Será que a responsabilidade da moça pelo crime é tão óbvia assim?
Esse filme é baseado numa história real que deve ter causado muita polêmica na época. Cinematograficamente falando, a história acabou descambando para um filme de julgamento, que ficou um tanto enfadonho, a não ser pela excelente interpretação do artista que fez o advogado de defesa de Madeleine, André Morell. Outro ator que esteve muito bem foi Leslie Banks, que fez um duro e tradicional pai. A película também mostrou um excelente início, onde os encontros secretos de Madeleine e Emile eram permeados por um lindo claro/escuro provocado por uma iluminação muito bem pensada. No mais, o filme não tem detalhes mais dignos de atenção, exceto pelo fator de despertar atenção por ser uma curiosidade e uma raridade, já que não temos acesso a essa película tão facilmente. Podemos ainda dizer que o filme faz uma espécie de testemunho da condição da mulher na Escócia do século XIX, pois Madeleine era tratada de forma muito severa pelo pai e por Emile, sendo respeitada apenas por Minnoch, que ficou visto como o trouxa da história. O filme também faz uma crítica nada velada do sistema judicial escocês. Mas falar sobre isso seria dar um spoiler muito forte e não o farei aqui.

Dessa forma, se você teve curiosidade de ver “Madeleine”, talvez somente em blu ray ou internet. Não é um grande filme, mas para o cinéfilo inveterado, uma curiosidade digna de nota, por ser uma película muito peculiar de David Lean.

Cartaz do Filme

Madeleine e seu amor secreto

Um amor entre estratos sociais diferentes

Encontros as escondidas

Filme tem lindo claro/escuro. Herança expressionista.

Amor de cabeceira

Um pai muito rigoroso

Madeleine não quer revelar seu amor ao pai

Um amor se torna uma ameaça

Experiências com arsênico

Um julgamento

Madeleine. Culpada ou Inocente?


Madeleine 1950 trailer

sábado, 12 de março de 2016

Resenha de Filme - Uma Mulher do Outro Mundo

Uma Mulher Do Outro Mundo. Brincando de Jorge Amado.
A mostra de David Lean no CCBB nos revelou uma pequena joia escondida. Trata-se da deliciosa comédia “Uma Mulher do Outro Mundo”, de 1945. O filme, de saída, já tem a virtude de ser uma das parcerias entre David Lean (que assina a direção e é um dos roteiristas) e Noel Coward (que produziu a película e escreveu a peça para o teatro). A filme ainda conta com a participação da excelente atriz Margaret Rutherford (que interpretou Miss Marple nos filmes baseados em histórias de Agatha Christie) e de Rex Harrison, que simplesmente dispensa apresentações e cujo grande talento é reconhecido por todos.
A trama da película mostra um casal, Charles e Ruth Condomine (interpretados, respectivamente, por Rex Harrison e Constance Cummings). Charles também foi casado com Elvira (interpretada pela belíssima Kay Rammond), que morreu muito jovem. Charles é escritor e quer escrever seu novo livro baseado em histórias sobrenaturais. Para isso, ele convida a sua casa Madame Arcati (interpretada por Margaret Rutherford), uma espécie de médium, mística e meio picareta, para fazer um ritual que atraia espíritos para a casa. Após uma tentativa onde mesas chacoalhavam, aparentemente fracassada, Madame Arcati vai embora e, depois que deixa a casa, vira motivo de deboche para o casal Condomine e seus convidados. Mas o fantasma de Elvira aparece e fica visível apenas para Charles, que vai se comportar de forma estranha para o desespero de Ruth.
É um filme muito engraçado e um tanto peculiar para a cultura britânica e anglo-saxã, pois tem muitas piadas e situações engraçadas que se referem a sexo. Impossível não se lembrar de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado. Elvira era muito irreverente, lembrando levemente um Vadinho da vida. Aliás, a interpretação de Kay Rammond estava espetacular e ela também fazia a Elvira no teatro. O figurino também esteve impecável. Elvira vestia um vestido meio verde, e o corpo de Kay foi pintado da mesma cor do vestido, com um batom vermelhíssimo destoando do conjunto e, por isso mesmo, chamando muito a atenção, sendo um interessantíssimo elemento de sensualidade. E Kay Rammond fazia caras, bocas e trejeitos adoráveis, que só a tornavam mais sensual ainda. Isso porque eu ainda nem disse que ela era a cara da Cindy Lauper. Quando ela apareceu na película, vinda de detrás da cortina, sua imagem foi extremamente impactante.
E Rex Harrison? Excelente ator!!! Atorzaço!!! Extremamente sarcástico e irônico, conseguia conduzir com muita elegância as graves discussões conjugais que tinha com Ruth e Elvira. O homem também fazia seu personagem ser muito engraçado, sem perder a pose. Já Margareth Ruherford foi a verdadeira personagem cômica, atuando de forma muito escrachada, totalmente fora de escala para qualquer padrão de comportamento inglês, sendo uma grande atração à parte para a película.
Outro detalhe interessante desse filme. Como se trata de uma história de fantasmas, não podia deixar de ter imagens de pessoas atravessando fantasmas. Embora fosse uma trucagem simples de sobreposição de negativos, décadas antes dos famosos CGIs que nos entopem até os ouvidos hoje, o filme ganhou um Oscar de “efeitos especiais” na época. Embora não existisse premiação para essa categoria em 1947, o filme recebeu uma premiação especial em virtude de seus bons efeitos visuais.

Assim, “Uma Mulher do Outro Mundo” pode ser considerado um dos melhores filmes da mostra de David Lean no CCBB porque conta com um ótimo elenco e tem uma história muito divertida e inusitada, totalmente fora dos padrões culturais dos anglo-saxões. Sem falar que a história da película lembra muito “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, de Jorge Amado. Essa vale muito a pena ser vista, e é uma excelente presa a ser caçada pelo cinéfilo mais inveterado.

Cartaz do Filme

Ruth e Charles. Buscando o sobrenatural

Madade Arcati invocando almas de outro mundo 

E eis que surge Elvira!!!

Visível apenas para o marido

Recordando Jorge Amado

Fazendo peripécias com os vivos

Uma disputa do além...

Matando saudades

BLITHE SPIRIT (1945) original trailer

Resenha de Filme - Um Homem Entre Gigantes

Um Homem Entre Gigantes. Para Quem Gosta de Futebol Americano.
Um filmaço em nossas telonas. Will Smith está de volta com todo o seu talento em “Um Homem Entre Gigantes”, uma película que mexe num tremendo vespeiro e que tem Ridley Scott entre os produtores. Talvez seja por isso que ela só tenha sido indicada para um Globo de Ouro (melhor ator de drama) e não tenha recebido uma indicação sequer ao Oscar? Esse é mais um filme adequado ao discurso do desafio ao qual se referiu a presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Cheryl Boone Isaacs, quando ela tentou justificar a ausência de negros nas indicações ao Oscar. E esse filme estrelado por Will Smith aumenta ainda mais a impressão de injustiça.
No que consiste a história da película? Vemos aqui o médico nigeriano Dr. Bennett Omalu (interpretado por Smith), que trabalha realizando autópsias. Como ele tem a mania de falar com os cadáveres e não se enturma muito com as pessoas, ele desperta preconceitos de seus colegas. Um belo dia, o corpo de um ex-jogador de futebol americano local, outrora considerado uma grande celebridade, vai parar em sua mesa de necrotério. Omalu estranha a morte precoce do ex-jogador e fará um exame mais minucioso em seu cérebro, quando descobre uma doença provocada pelos violentos choques de cabeça que esses jogadores sofrem. Ele publica seu estudo numa revista de medicina, o que é suficiente para fazer desabar a ira da Liga Profissional de Futebol Americano sobre sua pessoa. A Liga procurará desqualificar seu trabalho e destruí-lo em todos os sentidos. Omalu, então, começará uma luta por aquilo que acha justo.
Dá para perceber como o tema é espinhoso, ainda por cima porque é baseado numa história real. O Dr. Omalu comeu o pão que o diabo amassou, mas não esmoreceu, lutando para fazer prevalecer seu ponto de vista. O filme dá a entender que a Liga Profissional de Futebol Americano já sabia do problema há muito tempo e acobertou tudo. A doença que acometia os ex-jogadores era simplesmente horrível e destruiu várias famílias pelos Estados Unidos, não se sabendo ao certo o número de vítimas, havendo somente uma estimativa, alta por sinal.
Com relação ao elenco, Will Smith fez um simpático africano, altamente idealista e inocente para os padrões culturais americanos, onde ele trabalhou muito bem a questão do sotaque. Ele realmente não parecia em nada com um americano quando atuava e foi muito bem no papel. Mais uma injustiça que não tenha sido indicado ao Oscar. O filme ainda contou com a austera presença de Alec Baldwyn, que interpretou o Dr. Julian Bailes, um ex-médico de time de futebol que não aguentava mais ver o tormento dos ex-jogadores e se aliou a Omalu. Baldwyn sempre tem aquele jeito durão dele, que dá muito respeito aos papéis que interpreta. O elenco ainda contou com figuras conhecidas como David Morse (que trabalhou em filmes como “Contato”) e Paul Reiser (que trabalhou na série “Mad About You”).

Assim, “Um Homem Entre Gigantes” é mais um bom filme que temos esse ano e que aumenta aquela sensação de injustiça que vimos na festa do Oscar, pois Will Smith desempenhou seu papel com maestria e poderia muito bem ter uma indicação para o Oscar de melhor ator. A coragem de criticar uma instituição americana tão sólida quanto a do futebol americano também é digna de nota. Um filme que, independente de ter premiações ou não, é essencial e prova a função social do cinema que é a de denunciar situações injustas e escabrosas como as apresentadas na película. Programa imperdível! E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

Dr. Omalu, um médico africano nos EUA

Uma autópsia irá mudar sua vida

Uma terrível constatação

Encontrando um aliado

Discutindo como enfrentar a NFL

Falando duro...

Angústias e incertezas.

Will Smith, o verdadeiro Dr. Omalu e o diretor Peter Landesman

terça-feira, 8 de março de 2016

Impressões Sobre o Oscar 2016

Impressões Sobre O Oscar 2016.
E finalmente aconteceu a tão esperada festa do Oscar, no último dia 28 de fevereiro. O “Oscar da Diversidade” se desenrolou em meio a graves turbulências provocadas pelo fato de que, pelo segundo ano consecutivo, nenhum artista negro foi indicado ao prêmio. No ano passado, a festa se limitou a tocar na questão com o discurso da presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, Cheryl Boone Isaacs que, diga-se de passagem, é negra. Esse ano, além do discurso da presidente, que usou a retórica do “deve-se sempre encarar os desafios” para justificar a ausência de negros, houve também todo um trabalho em cima da questão, onde decidiu-se fazer muitas piadas sobre o problema, sendo algumas até de mau gosto, como a “homenagem” para o ator branco Jack Black, ou seja, rir da situação, mesmo que fazendo uma espécie de “mea culpa”. Para mestre de cerimônias, por exemplo, foi escalado Chris Rock, famoso por fazer piadas bem ácidas sobre questões raciais. E Chris Rock não aliviou. O homem usou uma roupa que mais lembrava a de um garçom de restaurante que de mestre de cerimônias. Ele entrevistou negros na rua perguntando o que eles achavam da ausência de indicações de negros na premiação. Muitos diziam, em tom de brincadeira, que não sabiam dos indicados brancos. E, ainda, Rock “deu” um Oscar para os entrevistados e pediu para eles fazerem um agradecimento. Uma senhora quase levou o Oscar para casa e, quando Rock disse que não era para levar a estatueta, ela disse: “Ué, pensei que podia levar”. Rock ainda colocou “filhas” para vender biscoito entre os brancos como no episódio de “Todo Mundo Odeia o Chris”, onde seu personagem na infância precisava vender biscoitos dados pela escola para arrecadar dinheiro para sua turma fazer uma viagem a Washington.
Sei não, mas essa coisa de fazer piada com um tema polêmico pode acabar sendo uma faca de dois gumes. E eu particularmente acho que não ficou de bom tom. Ano passado, “Selma” já merecia mais indicações. E, este ano, o ótimo trabalho feito em “Creed” por Ryan Coogler e Michael Jordan também merecia mais indicações que apenas para o branco Stallone. Se a argumentação de não indicações a negros ficou fundamentada na retórica do desafio, tanto “Selma” quanto “Creed” mostram que o desafio está sendo aceito e rendendo frutos dignos de premiação. Assim, brincar com essa situação me pareceu mais uma bola fora do que qualquer coisa. Enfim...
Mas, e a festa em si? Bom, o primeiro destaque foi os seis prêmios dados a “Mad Max”, todos técnicos (figurino, design de produção, maquiagem e cabelo, edição, edição de som e mixagem de som). Confesso que achei um pouco exagerada essa premiação toda. No figurino, por exemplo, “A Garota Dinamarquesa” e “Carol” poderiam ter levado. Na edição, “A Grande Aposta” era o meu favorito, pois sua montagem tinha lampejos frenéticos que prenunciavam a crise econômica iminente. Numa das categorias técnicas onde “Mad Max” poderia ganhar – os efeitos visuais – a estatueta foi para “Ex-Machina”, uma surpresa. Confesso que gostaria de ter visto esse prêmio ir para “Guerra nas Estrelas”. Seria uma justa homenagem a uma franquia que revolucionou os efeitos visuais no cinema e, no “Despertar da Força” inovou nesse quesito mais uma vez, com notáveis cenas de combate terra-ar. Ainda falando de “Guerra nas Estrelas”, tivemos a simpática presença de C3PO, R2-D2 e BB-8 na premiação, fazendo umas piadas com John Willliams, que estava na plateia.
No caso da atriz coadjuvante, o prêmio para Alicia Wikander foi bem merecido. Corre um boato de que ela foi indicada nessa categoria, pois não teria muita chance para melhor atriz, já que o papel de Wikander em “Garota Dinamarquesa” era mais de protagonista que de coadjuvante. Mas, assim mesmo foi um Oscar merecido, onde havia boas concorrentes como Kate Winslet, Rooney Mara, Jennifer Jason Leigh e Rachel McAdams.
Na fotografia, foi dado um esperado prêmio para “O Regresso”, que estava espetacular mesmo, embora houvesse excelentes concorrentes como “Os Oito Odiados” e “Sicario”, esse um excelente filme que passou ano passado e que não foi muito falado por aqui.
Para roteiro original, “Spotlight” ganhou a estatueta, vencendo concorrentes de peso como “Ponte dos Espiões” e a excelente animação “Divertida Mente”. É muito importante que uma película como essa ganhe, pois é um filme que denuncia de forma bem contundente os casos de pedofilia na Igreja Católica.
Para roteiro adaptado, o prêmio foi para outro importante filme, “A Grande Aposta”, que denunciou a escalada da crise econômica recente que destruiu a vida de muitas pessoas no mundo inteiro. Mais um filme que merecia ser visto com maior carinho pela Academia, além de “Spotlight”.
Para o longa de animação, o prêmio foi para o grande favorito, “Divertida Mente”. Nosso “O Menino e o Mundo” não pôde ganhar com tamanho concorrente, mas só a sua indicação já foi uma grande vitória. Na categoria curta de animação, o Oscar foi para o chileno “Bear Story”, uma metáfora da ditadura chilena e o primeiro Oscar do Chile.
Para ator coadjuvante, o Oscar foi merecidamente para Mark Rylance em “Ponte dos Espiões”. Essa estatueta foi disputada por candidatos muito fortes como Christian Bale, Sylvester Stallone, Tom Hardy e Mark Ruffalo. Se Hardy e Ruffalo tivessem levado, também teria sido justo. Com tantos concorrentes de peso, Stallone não teve a menor chance, embora ele tenha sido cotado como favorito. Rylance acabou sendo considerado uma surpresa, mas sua atuação estava excelente.
O melhor longa documentário foi para “Amy”, sobre a polêmica cantora Amy Winehouse, dirigido por Asif Kapadia, o mesmo diretor do documentário “Senna”.
Na parte “In Memoriam”, apresentada por Loius Gosset Jr, recordamos as personalidades do meio cinematográfico falecidas este ano, com destaque para nomes como Ettore Scola, Wes Craven, Lisabeth Scott, Christopher Lee, Robert Loggia, Maureen O’Hara, Omar Shariff, Dean Jones (que dirigia o “Herbie” em seus primeiros filmes), Alan Rickman, James Horner, David Bowie e Leonard Nimoy. Dave Grohl, vocalista do Foo Fighters, fez o fundo musical só com seu violão e sua voz.
Para o Oscar de filme estrangeiro, ganhou o favoritíssimo “O Filho de Saul”, que abordou novamente os campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial, um tipo de filme que muito agrada à Academia, já que ela contém uma boa quantidade de pessoas de origem judaica. Mas havia concorrentes excelentes como o colombiano “O Abraço da Serpente”, o francês “As Cinco Graças” e o filme dos Emirados Árabes Unidos “O Lobo do Deserto”.
Para a trilha sonora, o Oscar foi de forma bem merecida para Enio Morricone, por “Os Oito Odiados”. Foi o primeiro Oscar do músico que, aos 87 anos, foi efusivamente abraçado por Quincy Jones, que apresentou o prêmio. Morricone agradeceu em italiano, com direito a um intérprete. Dá para perceber que o nível do homem é outro, não? Quem pode, pode...
E não é que até James Bond ganhou um Oscar? Foi de melhor canção, “Writing From The Wall”, composta por Jimmy Snapes e Sam Smith.
Para o prêmio de diretor, Alerrandro Iñárritu conquistou o “bicampeonato” por “O Regresso”. Ele já tinha ganhado ano passado por “Birdman”. Em seu discurso, Iñárritu novamente se lembrou da questão racial, dizendo que haverá um dia em que a cor da pele será tão irrelevante quanto o comprimento de seu cabelo. Ele se iguala a John Ford e Joseph Mankiewicz, que também ganharam dois Oscars consecutivos como diretores.
Para melhor atriz, Eddie Redmayne apresentou a premiação, que foi para Brie Larson, por “O Quarto de Jack”. Era a favorita, embora não devamos nos esquecer que havia mais duas carinhas novas competindo, Saoirse Ronan (“Brooklyn”) e Jennifer Lawrence, com as “divas” Cate Blanchett e Charlotte Rampling correndo por fora. Mas como é um prêmio de indústria, ganhou a jovem mais promissora que, cá para nós, também foi muito bem.
Para melhor ator, Juliane Moore deu a estatueta mais esperada da noite para Leonardo DiCaprio. Finalmente o ator ganhou um Oscar depois de preterido injustamente, batendo ótimos concorrentes como Eddie Redmayne (meu favorito), Bryan Cranston e Michael Fassbender. Em seu discurso, DiCaprio se lembrou da boa parceria com Tom Hardy, agradecendo-o, e falou do aquecimento global, mencionando o fato de que as filmagens de “O Regresso” precisaram ser feitas no sul da Argentina para se conseguir encontrar neve. Foi um belo discurso que viralizou na internet.
O prêmio de melhor filme foi para o já citado “Spotlight” e, nos agradecimentos, foi lançado um apelo ao Papa Francisco para combater os casos de abuso sexual na Igreja, que tanto provocaram polêmica na película.
Pois é, essa foi a cerimônia de premiação desse ano, o Oscar da “Diversidade”, cercado por uma monstruosa questão racial que deixou novas marcas. Esperemos que no ano que vem, a coisa não descambe para esse lado e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tenha mais equilíbrio nas indicações. E não deixe de ver o vídeo completo a festa depois das fotos.

Chris Rock mais parecia um garçom. Provocação?

Atores e atores coadjuvantes. Premiação merecida

"O Regresso" levou três estatuetas

Bela homenagem a Enio Morricone

"Spotlight" levou o Oscar de melhor filme

No final, todo mundo comeu biscoitinhos






Oscar 2016 Completo!

segunda-feira, 7 de março de 2016

Resenha de Filme - A Maior História de Todos os Tempos.

A Maior História De Todos Os Tempos. Jesus Didático.
Ainda dentro da mostra de David Lean ocorrida no CCBB, vamos falar hoje de “A Maior História de Todos os Tempos”. Esse filme fala da vida de Jesus Cristo sob a perspectiva da Bíblia, ou seja, se ampara na visão oficial do cristianismo, sem voos criativos maiores. Essa película foi parcialmente dirigida por David Lean, cujo nome não consta nos créditos e foi produzida no ano de 1965. Para quem quer entender a história de Jesus segundo as Sagradas Escrituras, é um prato cheio. Em alguns momentos, parecia que os próprios apóstolos tinham escrito o roteiro, tamanhas eram as citações da Bíblia nas falas dos personagens. O filme tinha ares de superprodução, com uma quantidade enorme de figurantes atuando em locações grandiosas, onde a paisagem era um elemento esteticamente importante. As imagens de grandes paisagens eram celebradas por trechos de “Aleluia”, de Handel, o que tornou o filme altamente “celestial”, eu diria, nesses trechos. O elenco também foi de se tirar o chapéu. Max Von Sydow foi escolhido para o difícil papel de Jesus, onde ele tinha que ser sereno, explosivo, afetuoso, persuasivo, tudo isso nos momentos certos. E Sydow, como o grande ator que é, conseguiu desempenhar de forma muito convincente e no “timing” perfeito todos esses papéis. Mas essa superprodução também tem outras figuras de peso como José Ferrer, Martin Landau, Charlton Heston, Roddy McDowall, Donald Pleasence, Sidney Poitier, Telly Savalas, John Wayne, Mark Lenard, Robert Loggia, Celia Lovsky, etc.
E quando se trata de dizer que era a “Maior História de Todos os Tempos”, o pessoal não estava de brincadeira, pois a película teve três horas e quarenta e cinco minutos de duração. Foi um duelo e tanto assisti-la lá no CCBB. Mas um duelo muito prazeroso, diga-se de passagem, pois, apesar do tema floreado com as Sagradas Escrituras, o filme é um bom resultado cinematográfico que flui muito bem e não te deixa entediado em nenhum momento da exibição. E isso numa história que a grande maioria de nós, religiosos ou não, já conhecemos muito bem. Me arrisco a dizer que é um dos melhores filmes sobre a vida de Cristo que existem por aí.

Dessa forma, apesar da longuíssima duração, “A Maior História de Todos os Tempos” merece ser visto, principalmente se você perdeu alguma aula de catecismo, pois você lá verá a história de Jesus Cristo contada da forma mais fiel à Bíblia possível. Nem em cultos católicos ou evangélicos a coisa está tão didática. E, tudo isso com um elenco de se tirar o chapéu. E não deixe de ver uma versão dublada de quase três horas do filme depois das fotos.

Cartaz do Filme

Max Von Sydow em excelente caracterização

Andando no seu burrinho...

Santa Ceia


Com a clássica coroa de espinhos...

Via crucis



A Maior Historia De Todos Os Tempos - Assistir filme completo dublado

domingo, 6 de março de 2016

Resenha de Filme - Body

Body. Psicografando Na Polônia.
Um filme polonês que ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim. “Body” traz a nós um tema muito caro a vida religiosa brasileira, altamente variada: a questão da mediunidade e do kardecismo. Nosso país inclusive é citado na película como tendo muitos médiuns e que possui hospitais onde são feitas cirurgias espirituais, um tema que parece ser muito distante da realidade polonesa.
Vemos aqui a história de Janusz, um investigador de polícia especializado em trágicos homicídios (interpretado por Janusz Gajos), que leva uma vida muito conturbada com sua filha Olga (interpretada por Justyna Suwala). O passado dos dois é marcado pela morte da mãe e esposa e Olga culpa o pai por essa morte. Como resultado, a moça tem sérios distúrbios psíquicos e sofre de bulimia, tendo que ser tratada em um hospital. Sua terapeuta, Anna (interpretada por, vamos lá, Maja Ostaszewska, eita!) é, digamos, uma espécie de bicho grilo que se veste com roupas muito coloridas e tem uma característica muito peculiar: é uma médium e psicografa cartas de espíritos do além bem ao estilo de Chico Xavier aqui no Brasil. Ao perceber a psique extremamente atormentada de Anna e todo o seu ódio ao pai nas sessões de terapia, Anna busca procurar Janusz para tentar uma terapia conjunta. É aí que Anna sente uma presença a mais rondando Janusz, ou seja, sua finada esposa. Mas a frieza e ceticismo de Janusz vai ser um enorme fator complicador para se estabelecer uma ponte entre ele e sua esposa, o que, para Anna, era determinante para aliviar as dores de Olga.
O filme tem situações muito angustiantes, sobretudo nas cenas de terapia que Anna faz com suas pacientes. As moças, cadavéricas, pareciam personagens vindos de um campo de concentração, impressão essa reforçada ainda mais por se tratar de um filme polonês onde os nazistas da Alemanha instalaram campos de concentração (as lembranças de Auschwitz aparecem de forma muito clara aqui, mesmo parecendo que isso nada tenha a ver com o filme; só que as cenas das meninas esquálidas são muito fortes). Olga era a própria imagem da derrota, da frustração e da mágoa. Janusz, por sua vez, incomodava por sua frieza, mas também era digno de uma certa pena, por não saber o que fazer com seus problemas. Seu ofício de cenas muito fortes e traumáticas parece que o levou a se blindar de qualquer emoção forte, tornando-o totalmente incompetente quando ele precisava lidar com questões mais delicadas que envolvessem carinho e afeto, o que era altamente destrutivo na relação com Olga. Já Anna, a médium bicho grilo, se especializou em lidar e curar pessoas que sofrem de distúrbios psíquicos, mas ela também tem suas fraquezas psicológicas, pois a tragédia igualmente rondou sua vida. Legal mesmo era o animal de estimação dela, um tremendo dum cachorrão que se comportava como uma verdadeira criança e supria suas carências afetivas.

Por se tratar de uma cultura muito distinta da nossa, a interpretação dos atores causa uma certa estranheza. Parece um monte de robôs desfilando na tela. Mas, ainda assim, Anna era muito cativante, principalmente depois que ela cita nosso país como exemplo de local onde o espiritismo tem muita força, criticando uma suposta insensibilidade do povo polonês. Agora, o que foi mais admirável no filme foi seu desfecho. Mas falar sobre isso aqui seria um baita de um spoiler. Só vou dar uma pequena dica: foi uma coisa bem ao estilo “mirou no que viu, acertou no que não viu”. Além disso, só posso dizer que a coisa ficou muito legal e o desfecho vale a pena o ingresso para um filme que já caminhava para o enfadonho em virtude da forte barreira cultural. Assim, “Body” é um bom filme que merece ser visto e foi digno da premiação que recebeu, pois ele se amparou na boa interpretação dos atores, sendo uma das razões dessa boa interpretação o trabalho da direção. Procure o DVD que você não vai se arrepender. E não se esqueça de ver o trailer depois das fotos.

Cartaz do Filme

Janusz, um policial insensível

Olga, afundada em traumas

Anna, dublê de terapeuta e médium

Em Berlim...



BODY Trailer | Festival 2015

sábado, 5 de março de 2016

Resenha de Filme - A Escolha

A Escolha. Uma Xaropada De Nicolas Sparks.
Um filmezinho meio chinfrim passou em nossos cinemas. “A Escolha” é uma daquelas comédias românticas com tons de drama, chatas toda a vida, baseadas num livro de Nicolas Sparks. Confesso que até não ia escrever sobre esse filme, mas como eu fiquei dentro da sala por quase duas horas desnecessariamente, quero fazer algum jus a meu doloroso sacrifício.
Vemos aqui a história de Travis (interpretado por Benjamin Walker), um mulherengo incorrigível que dava festinhas em sua casa com som em alto volume. Isso incomodava a sua vizinha, a lourinha Gabby (interpretada por Teresa Palmer), que foi ao vizinho reclamar. Daí, já viu, é aquela xaropada de sempre. Nem dá para falar muito mais desse filme, repleto de diálogos enfadonhos e carinhas sempre sorridentes, numa vida que parece se manifestar num grande arco-íris. Para não ficar chato demais, Gabby tinha um noivo, o que deixou a mocinha com dúvidas na cabeça, e um acidente grave aconteceu, o que deu uma movimentada no tom dramático da coisa. Mas, ainda assim, é muito pouco para agitar um romancezinho água com açúcar extremamente sacal. Muitos clichês para lá de óbvios.
Poucas coisas salvam nessa história. Pelo menos o parzinho afetivo tinha cachorros. Travis tinha um simpático São Bernardo e Gabby uma cadela que teve três filhotinhos. Se você quer fazer um filme meloso, que pelo menos bote uns cachorros para dar mais graça. O mais curioso é que os cachorros olhavam para a cara de bobo alegre de seus donos com uma expressão para lá de perplexa, tipo: “o que eu estou fazendo aqui com esses caras?!?!”. A outra coisa boa do filme foi a presença do veterano ator Tom Wilkinson, que interpretava Shep, o pai de Travis. Wilkinson é famoso recentemente por películas como “Selma” (onde fez um ótimo presidente Lyndon Johnson) e “O Grande Hotel Budapeste”.

Portanto, se você pensa em sair de sua casa para ver esse filme no cinema, esqueça. A não ser que você esteja à procura de uma coisa levinha demais para distrair a cabeça ou seja uma daquelas adolescentes leitoras de Sparks que, ao fim da sessão, discutiam efusivamente sobre a bibliografia do autor. Credo, tem gosto para tudo mesmo!!! Enfim... Respire fundo e veja o trailer após as fotos...

Cartaz do Filme

Uma lourinha...

... que se apaixonou por um zé preá...

Momentos de felicidade...

... e momentos de tristeza. Buááááá!!!

Nicolas Sparks. Ele é o culpado de tudo!!!!



terça-feira, 1 de março de 2016

Resenha de Filme - A Ovelha Negra

A Ovelha Negra. Protegendo As Bichinhas.
Um filme muito peculiar estreou em nossas telonas. “A Ovelha Negra” (“Hrútar”) vem lá da longínqua Islândia, uma terra bem diferente da nossa em muitas coisas, a começar pelo clima glacial, que até me dá uma pontinha de inveja, principalmente quando me lembro desse calor inclemente que faz por aqui. E a Islândia tem outra peculiaridade. A população de ovelhas é maior que a de humanos, sendo a criação desses bichinhos de grande importância econômica para o país. E o filme vai abordar justamente esse tema.
Vemos aqui a história de dois irmãos criadores de ovelhas, Gummi (interpretado por Sigurour Sigurjónsson) e Kiddi (interpretado por Theodór Júlíusson). Os dois vivem num estado de constante beligerância. E a situação só se faz piorar porque há um concurso anual na região em que moram para se premiar o melhor carneiro. Kiddi venceu o concurso com um carneiro negro, deixando seu irmão em segundo lugar por uma estreita diferença. Gummi, inconformado, foi na calada da noite examinar o carneiro de Kiddi e suspeitou que ele estivesse com scrapie, uma doença contagiosa que atacaria todos os animais da região. Quando os veterinários da cidade examinam as ovelhas e detectam o scrapie, todos os criadores são obrigados a sacrificar seus rebanhos, o que provoca não só um violento trauma econômico, mas também psicológico, pois, como vimos, a criação de ovelhas está muito arraigada à cultura local. E isso só vai piorar ainda mais a relação entre os dois irmãos. Gummi, entretanto, não aceita a situação e vai resistir ao sacrifício em massa, o que vai trazer outras consequências ao desenrolar da história.
Esse filme pode ser classificado mais como um drama com leves pitadas de comédia. Geralmente, películas lá daquelas bandas setentrionais geralmente apresentam atores com atuações um tanto robotizadas para nossos olhos latinos e tropicais. Mas o que impressionou é que aqui isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Os atores que interpretaram os dois irmãos tiveram boas atuações, altamente emotivas. Kiddi transbordava frustração e tristeza, seja em seus momentos de agressividade, seja em seus momentos de bebedeira. E Gummi, o protagonista, emocionava ao se abraçar e chorar com as bichinhas que precisavam ser sacrificadas. Ele também foi responsável por alguns lances cômicos do filme, ao fazer divertidas caras e bocas durante as situações mais inusitadas. Definitivamente, a película foi mais centrada nesses dois personagens e nas ovelhas, é claro. Só é de se destacar a resistência dos dois irmãos ao frio. Eles passavam por situações literalmente congelantes, onde qualquer um viraria picolé (já imaginaram o que é um inverno na Islândia?) e sempre sobreviviam. Definitivamente, é um lugar onde comprar geladeira é um baita desperdício de dinheiro.
Além de uma boa história para se contar, o filme apresenta outra virtude: tem uma belíssima fotografia, que registra as paisagens descampadas da Islândia, onde vemos um infinito gramado que cobre montanhas e planícies, onde as casinhas e celeiros dos dois irmãos brotavam, branquinhas. Foi realmente uma coisa bonita de se ver.
Eu creio que, por ser uma película relativamente curta (cerca de 93 minutos), o diretor e escritor do roteiro Grimur Hakórnarson optou por um desfecho meio que em aberto, o que sempre nos dá aquela sensação do “ué, já acabou?”. Mas vou repetir o que eu já disse em outras resenhas de filmes que tinham final semelhante, de que isso não é de todo ruim. Pelo contrário, pode ser algo até interessante, pois dá margem ao espectador para fazer especulações sobre o que aconteceu depois do final. E cada um sai da sala com sua leitura própria de interpretação do filme. Tal desfecho, em algumas situações, propicia uma interação maior do público com a película. É uma espécie de convite que o filme faz ao público para entrar em sua própria diegese, ou seja, a realidade referente à da narrativa ficcional.

Assim, “Ovelha Negra” é um interessante filme, pois nos coloca frente à frente com uma realidade muito distante de nós (a da Islândia), tem uma interpretação de atores que chama a atenção, uma excelente fotografia e a possibilidade que dá ao espectador para alçar voos maiores de sua imaginação. E não deixe de ver o trailer após as fotos.

Cartaz do Filme

Gummi, um apaixonado por seus carneirinhos e ovelhas

Kiddi, em luta constante com Gummi

Um concurso aumenta a rivalidade entre os irmãos...

Desespero ao ter que sacrificar as bichinhas

Isso só vai piorar a relação entre os irmãos

O que fazer???



A Ovelha Negra - Trailer legendado