Mia
Madre. Nanni Moretti Volta A Atacar!
Nanni Moretti é um
baita de um diretor italiano. Dentre os seus filmes, podemos citar “Habemus
Papam”, “O Quarto do Filho”, “Caro Diário”, entre outros. Desta vez, Moretti
nos presenteia com “Mia Madre” e, ainda por cima, com a presença de John
Turturro como a cereja do bolo! Eu nem sabia do que se tratava o filme, mas só
o fato de saber que esses dois nomes estão numa película juntos é suficiente
para que qualquer cinéfilo em sã consciência saia do aconchego de seu lar para
dar uma conferida no cinema. E lá fui eu para o Estação Botafogo 3.
Essa minha viagenzinha
valeu a pena? Claro que sim! Do que se trata a película? Vemos aqui a história
de uma diretora de cinema com nome de pizza, Margherita (interpretada pela
beladona Margherita Buy), que se vê às voltas com a produção de um filme que
narra o cotidiano de trabalhadores de uma fábrica que podem perder seu emprego
a qualquer momento. Muitas pessoas acham que esse tipo de tema de filme já está
completamente fora de moda e que a diretora deveria partir para temas mais
contemporâneos. Mas Margherita ainda acredita que o cinema pode ser um
porta-voz dos excluídos e trata a sétima arte como um instrumento de denúncia
social e de reflexão. Para o papel do dono da fábrica, ela contrata o ator
ítalo-americano Barry Huggins (interpretado por Turturro), que se revela um
verdadeiro mala sem-alça, sem noção e totalmente inconveniente. Já dá para
perceber que o processo de filmagem será muito conturbado. Mas outros problemas
afligiriam mais ainda a cabeça da cineasta. Sua mãe, Ada (interpretada por
Giulia Lazzarini) sofre de uma progressiva insuficiência cardíaca que, mais
cedo, mais tarde, a levará à morte. E, com a ajuda de seu irmão Giovanni
(interpretado por Moretti), Margherita vai ter que enfrentar essa barra
pesadíssima de ver sua mãe definhar enquanto roda seu filme.
Moretti mais uma vez
nos dá uma lição de vida. Mais uma vez o cineasta italiano usa a arte para
expressar como a nossa vida pode atingir momentos muito dramáticos. Todas as
nossas angústias estão lá, pois já passamos na vida real por aquilo que o filme
nos mostra. Pesadelos em que a mãe já está morta, lembranças em “flash-back” de
coisas ruins que fizemos com nossas mães e da qual nos arrependemos nos
momentos difíceis, lembranças boas, etc. Mas Moretti, esperto como ele só, traz
essas lembranças boas e más, assim como os pesadelos, mergulhados totalmente na
estrutura narrativa do filme, sem qualquer aviso, e pensamos que presenciamos
uma situação presente da película. Somente quando vem o corte abrupto (como,
por exemplo, quando Margherita acorda de um pesadelo) é que percebemos o que
está se passando.
As reflexões sobre a
perda e sobre o legado também são emocionantes. Somente quem perdeu um ente
querido e alivia suas dores nas lembranças e saudades pode entender a mensagem
desse filme. A mãe de Margherita e Giovanni era professora de Latim e tinha uma
legião de ex-alunos que a frequentemente visitavam e viam nela um exemplo de
vida, uma segunda mãe. Uma linda homenagem que Moretti fez aos professores, tão
combalidos, desvalorizados e esquecidos. Um verdadeiro legado deixado pela mãe
da protagonista principal. E esse legado servia como um conforto pela dor da
perda, ou seja, havia a consciência de que a “madre” havia sido importante para
a vida de muitas pessoas, inclusive para a netinha, que tomava aulas de Latim
da avó entre uma fungada no balão de oxigênio e outra.
No mais, a atuação dos
atores foi um primor. Margherita foi intensa no momento certo, contida no
momento certo, dramática no momento certo. Moretti, como um ator coadjuvante
mais distante, teve uma atuação discreta e sóbria, ao contrário do que já vimos
em alguns de seus outros filmes (em “Habemus Papam”, ele estava mais caricato).
Já Turturro deu um show como o inconveniente, demonstrou seus dotes de
dançarino e foi extremamente simpático nos momentos certos (não vou dar
“spoilers” aqui). Valeu muito a pena ver Moretti, Turturro e Margherita
contracenando juntos numa mesa de jantar.
Assim, “Mia Madre” é
mais uma grande obra do cineasta italiano Nanni Moretti que deve ser vista com
atenção, pois é um estudo da forma como a arte traz para si a dramaticidade da
vida real e ainda contamos com a magnífica presença de John Turturro no elenco.
Programa imperdível! Ah, inauguro hoje uma novidade! Veja na postagem abaixo,
depois das fotos, o trailer do filme...
Belo cartaz do filme
Giovanni e Margherita vão enfrentar uma barra pesadíssima...
... que é a de cuidar da mãe doente.
Um ator americano canastrão...
... mas com muita ginga!!!
Entretanto, os conflitos foram inevitáveis...
Cena antológica!!! Moretti e Turturro trabalhando juntos!!!
Mesmo no fim da vida, ensinando latim para a netinha...
Um emocionante filme sobre perdas e legados...
Em Cannes...
Deu gosto de ver esse trio trabalhar...
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