Macbeth:
Ambição E Guerra. Responsabilidade Redobrada.
Quando se adapta para o
cinema alguma obra já consagrada, a responsabilidade aumenta. William
Shakespeare já foi várias vezes passado para a grande telona. Como um exemplo,
as adaptações feitas por Orson Welles, antológicas para quem as assistiu. E aí,
quando se retoma tal empreitada, fica a pergunta impossível de não ser feita:
ah, uma peça de Shakespeare já foi encenada inúmeras vezes no cinema! Para que
fazer de novo? O que essa nova adaptação vai trazer de diferente?
Pois é. Quem assumiu o
risco dessa vez foi o diretor Justin Kurzel, que, pode-se dizer, fez um excelente
trabalho, a começar pela escolha do elenco. Michael Fassbender (o Magneto de “X-Men,
Primeira Classe”, foi o protagonista, com Lady Macbeth interpretada pela bela e
eficiente Marion Cotillard (que ganhou o Oscar de melhor atriz em “Piaf: Um
Hino Ao Amor” em 2008). Deu gosto ver os dois contracenando juntos, recitando
as belas pérolas literárias escritas por Shakespeare, sem ficar algo forçado ou
piegas. Apesar de uma linguagem até certo ponto rebuscada para os padrões atuais,
os dois atores as interpretavam com tamanha espontaneidade que a coisa fluía de
um jeito gracioso, dando-nos a oportunidade de consumir cada linha de texto do
lendário dramaturgo com um prazer de quem degusta um bom whisky ou vinho. Outro
detalhe fundamental do filme foi a belíssima fotografia de Adam Arkapaw, onde
as locações na Escócia e Inglaterra ajudaram, e muito! Foi um verdadeiro
deleite para os olhos. Assim, podemos dizer que, com esses interessantes
elementos, essa nova adaptação de Shakespeare acabou não sendo um tiro pela
culatra, pois trouxe elementos inovadores e revigorantes.
Entretanto, talvez não devamos
enxergar novas leituras de Shakespeare somente pelo espectro da inovação. Revisitar
seus textos é sempre algo muito importante, já que o dramaturgo era um crítico
ácido do Antigo Regime e do Absolutismo, com seu texto altamente refinado,
sendo uma espécie de punhalada em cheio nos corações dessas antigas instituições.
Senão, vejamos. As obras de Shakespeare têm uma tônica onde disputas violentas
pelo poder sempre trazem caos e destruição. E em “Macbeth”, não é diferente. Nosso
protagonista é um nobre que presta serviços relevantes ao Rei da Escócia,
combatendo dissidentes do reino. Depois de uma batalha, ele vislumbra três
bruxas que fazem uma série de profecias sobre seu futuro. Ambicionando tomar o
reino para si, Macbeth busca a maquinação de táticas que confirmem ou desmintam
as profecias ao seu bel-prazer, numa mostra de que Shakespeare também criticava
a superstição de toda uma religiosidade envolvida nessas antigas instituições,
ou seja, as profecias das bruxas traziam maus agouros. Mas Macbeth ainda tem
uma moral implícita que o impede de agir de forma mais torpe. Para colocar
Macbeth nos trilhos da ambição desmedida, temos Lady Macbeth, que o leva a
cometer maus atos. Macbeth consegue o trono, mas o poder absoluto traz consigo
a angústia e o medo de perdê-lo. E nosso protagonista não aguenta a pressão,
pirando na batatinha e chutando para escanteio uma das maiores virtudes que um
rei absolutista deve ter: a prudência. Macbeth, então, age de forma impulsiva e
tirânica, sem medir as consequências de seus atos, com o intuito de proteger o
seu poder, mas suas atitudes não só vão na contramão da manutenção de seu poder
como atentam contra sua própria vida. O desfecho, obviamente, será trágico,
como em várias das peças de Shakespeare, numa prova de que tal regime político absolutista
é inviável, pois até quem o exerce está sujeito ao mal que ele provoca. Assim,
relembrar Shakespeare é relembrar o estrago que um regime autoritário pode
fazer na vida das pessoas e é sempre uma forma de alerta para que erros do
passado não se repitam.
Por essas e por outras,
“Macbeth: Ambição e Guerra” é mais uma película que merece a nossa atenção e,
por que não dizer, foi um baita presentão de natal. Vale a pena dar uma
chegadinha ao cinema para conferir.
Cartaz do filme
Macbeth, espremido entre as ambições de seu tempo...
A guerra por seu rei.
Uma esposa que o desvirtua
Um rei a ser derrubado...
Ele consegue ser rei...
Mas a pressão do poder é enlouquecedora...
Um rei surtado...
Filme tem fotografia impecável!!!
Nos festivais e coletivas...
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