Jia
Zhangke, Um Homem De Fenyang. Mais Uma Obra Prima de Walter Salles.
Walter Salles está de
volta. O consagrado diretor de “Central do Brasil” mostra mais uma vez que não
é cineasta de um filme só e nos traz dessa vez o bom documentário “Jia Zhangke,
Um Homem de Fenyang”. O filme mostra a trajetória do cineasta do norte da
China, Jia Zhangke, considerado um dos melhores do país. Podemos ver aqui Jia
visitando sua cidade natal, reencontrando seus amigos de infância e
adolescência, atores com os quais ele trabalhou e, principalmente, falando em
seu dialeto local, diferente do chinês mandarim, a língua oficial do país.
Alguns de seus filmes são feitos com esse dialeto, algo que Jia faz questão
pois, para ele, os sotaques e idiomas locais desapareceram do cinema chinês
depois da revolução socialista de 1949, que padronizou o idioma e o sotaque
(“todo mundo parecia que falava como locutor de rádio”, nas palavras do
cineasta). Seus filmes iam contra os dogmas chineses da revolução cultural. É possível
ver música pop em seus filmes, assim como referências a filmes indianos que
tinham como protagonistas pessoas à margem da lei. O cineasta, quando jovem,
cantava uma música de um desses filmes indianos, que falava da vida dos
malandros, quando foi severamente reprimido por seu professor. Anos depois,
essa mesma música e filme aparecem em uma de suas películas. Obviamente, Jia
teve problemas com o governo chinês e a sua censura. Ele, inclusive cogitou
abandonar a carreira. Mas a levou adiante. Aliás, os anos de opressão do regime
comunista afetaram o cineasta muito mais do que se pode imaginar, sobretudo
quando ele se recorda da figura do pai, que tinha sofrido repressões durante a
Revolução Cultural e destruiu um diário particular com medo de represálias. Jia
exibiu um de seus filmes ao pai, que o alertou que seu filme seria considerado
subversivo e anticomunista durante a Revolução Cultural. Para Jia, seu pai
sempre teve poucos momentos de felicidade em virtude da repressão. Com a
chegada do capitalismo e de uma certa distensão, seu pai se tornou uma pessoa
um pouco mais alegre. Mas aí veio o câncer... e a morte. Jia se lembra de tudo
isso com muita dor no coração. Quanto à chegada do capitalismo, Jia não vê o
sistema econômico ocidental como uma panaceia para os problemas chineses. Jia
se preocupou em verificar como o operariado chinês seria afetado pela transição
entre uma economia planificada socialista e a economia de mercado capitalista.
A desativação das fábricas em virtude da forte especulação imobiliária piorou
demais as condições de vida dos trabalhadores, que tinham seus destinos muito
atrelados à vida das fábricas, agora extintas. Em outro documentário, ele
retratou a tragédia que foi a construção de uma barragem que alagaria
permanentemente cidades que tiveram que ser destruídas inteiras à marreta em
tempo recorde.
Dessa forma, “Jia
Zhangke, Um Homem De Fenyang” é mais um trabalho colossal de Walter Salles. Um
cineasta que fala de outro cineasta. Cinema radiografado pelo próprio cinema.
Radiografia feita com altas doses de carinho e uma pitadinha de paixão,
mergulhando no humano e íntimo de um fazedor de filmes de uma cultura tão
variada e distante da nossa. Um filme que vale a pena ter e guardar.
Cartaz do filme
Jia (atrás da panela). Retorno às origens.
Repressão chinesa. Momentos difíceis.
Com um ator que fez vários de seus filmes
Com a mãe e a irmã...
Nas filmagens...
Nosso grande cineasta e Jia
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