Campo
De Jogo. Velhos Estereótipos.
Um curioso documentário
brasileiro na área. Eryk Rocha, o filho de Glauber, lança esse pequeno filme de
pouco mais de setenta minutos, intitulado “Campo de Jogo”. O documentário narra
a final do Campeonato de Futebol de Favelas no Rio de Janeiro, onde tivemos a partida
entre o Geração contra o Juventude. Uma partida que terminou em 0 a 0 no tempo
normal e foi para os pênaltis. Quem venceu? Chega de “spoilers”!!!
Entretanto, independente
de quem venceu, o documentário levanta outras questões. Em primeiro lugar, por
se tratar do filho de Glauber Rocha, fica a pergunta inadiável: até onde o
filho se espelhou no pai para fazer seus filmes? Há algum traço de Glauber na produção
de Eryk? Podemos dizer que o filho tem um estilo próprio, apesar de o pai
aparecer em alguns momentos. Onde Eryk mostra seu estilo? Houve no filme momentos muito tensos,
sobretudo quando a galera discordava de algumas marcações do juiz, onde um
enxame composto por jogadores e muitos populares o cercava. Nessa hora de
truculência extrema, Eryk colocava músicas extremamente suaves e voltava os
fotogramas, dando a impressão de que o juiz encarava e afastava seus algozes
justamente quando era o contrário. Por outro lado, o filme tinha uma leitura um
tanto glauberiana, remetendo-se, sobretudo, ao que víamos em “Barravento”, quando
havia uma busca por raízes ancestrais africanas. Tal busca por essas raízes não
só africanas, mas também indígenas é vista nos times das comunidades
envolvidas. Não só os times quanto os integrantes das torcidas eram vistos como
pertencentes a uma grande aldeia, repleta de exotismo, onde chegamos ao cúmulo
de ver adolescentes com uniformes de futebol pulando dentro de florestas ao som
de batuques. Tal ponto de vista pareceu excessivamente estereotipado, como se a
ideia que o povo do “asfalto” tem das comunidades fosse de um agregado de
pessoas carregado de culturas ancestrais africanas, quando sabemos que a
diversidade das comunidades cariocas não é somente isso. Tal ponto de vista, se
no início do Cinema Novo nos ajudava a ter uma perspectiva mais multicultural
do Brasil, onde a cultura dos segmentos menos favorecidos era assinalada,
parece hoje mais uma forcação de barra, pois tal ideia estereotipada pode
aumentar uma segregação. Sabemos que a população das comunidades sofre um
violento processo de exclusão social e aspira por cidadania e direitos. Rotular
a população das comunidades cariocas como meros herdeiros de práticas
ancestrais africanas e indígenas
consideradas exóticas aos olhos dos “civilizados do asfalto” pode ser algo
prejudicial no processo de inclusão social de tais comunidades.
Assim, se o diretor
pretendeu, mesmo que sem más intenções, buscar as raízes culturais de tais
comunidades, fica importante frisar que o estereótipo que tal visão pode
provocar não deve excluir os povos de tais comunidades dos direitos de
cidadania. O documentário poderia ter tido, a título de sugestão, alguns
depoimentos de personagens do filme e de seus parentes alternados com as
sequências do jogo para, nesses casos particulares, podermos enxergar mais
pontualmente as diversidades presentes nas comunidades cariocas, que não tem
somente negros descendentes de escravos, mas também outros estratos culturais
como imigrantes nordestinos. Nunca é bom generalizar...
Cartaz do filme
Menino com rosto sujo de barro. Pinturas ancestrais?
Várzea hardcore!!!
Disputa de pênaltis. Tons de batalha épica...
Filme prima por uma boa montagem...
Cenas de união...
Eryk Rocha.
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