Ato,
Atalho E Vento. Mais Uma Colcha De Retalhos de Marcelo Masagão.
Todo mundo se lembra do
filmaço de Marcelo Masagão “Nós Que Aqui Estamos Por Vós Esperamos”, realizado
lá na virada do século 20 para o 21, justamente uma história do século 20 em
imagens que ilustravam pequenas histórias fictícias que nos ajudavam a entender
o que tinha ocorrido ao longo do “breve” século 20. E parece que Masagão
novamente lançou mão de tal receita com “Ato, Atalho e Vento”. Usando fragmentos
de 143 filmes realizados em todo o mundo, mais algumas fotografias, Masagão
procura fazer uma pequena radiografia das ideias do livro “O Mal Estar da
Civilização”, de Sigmund Freud. O autor defende a tese de que o homem não consegue
ser feliz em sociedade no que se refere a alcançar o prazer. A felicidade é,
justamente se afastar do desprazer. A civilização é contrária às necessidades
humanas que incluem o prazer. A necessidade de trabalho penoso e sofrimento,
aliada à canalização de impulsos sexuais para o trabalho tornam o homem
infeliz, ainda mais numa sociedade cuja moral reprime os impulsos sexuais. Daí
o mal estar da civilização. Entendeu? Eu, mais ou menos. E Masagão fragmentou a montagem a ponto de
exprimir esses conceitos. Podíamos ver uma sexualidade aflorando, seja em
closes de atrizes consagradas ou imagens de mulheres nuas. Sentimentos agônicos
também estavam presentes, como no caso do homem que esfolava a própria mão no
muro ou pessoas se debatendo na cama em noites mal dormidas, ou ainda em
imagens de trancas que eram forçadas a se abrirem sem sucesso. É o tipo de
filme que merece um estudo mais aprofundado, com Freud debaixo do braço e a
análise das mensagens subliminares proporcionadas pela montagem. É uma colcha
de retalhos cheia de mensagens implícitas. É curioso perceber como cenas que
remetem ao sexo estavam interligadas a cenas que expressavam uma repugnância,
bem ao estilo da tese defendida pelo famoso médico e escritor. Nos créditos
finais, vale a pena analisar todo o material usado pelo diretor, principalmente
os amantes do cinema, que identificaram, na materialidade das imagens, os
títulos de alguns filmes mas outros apenas nos créditos. E, o mais curioso. Há uma
cena pós créditos que é, pura e simplesmente, o filme todo repassado numa
velocidade muito alta, onde as imagens de toda a película ficam impressas em
nossa memória, bem ao estilo das mensagens subliminares. É uma experiência muito
curiosa assistir a esse filme, principalmente se você tem uma noção do que se
trata “O Mal Estar da Civilização”. Agora, só se lembre de uma coisa: o filme é
altamente experimental, sem um fio narrativo tradicional. Mergulhe na
materialidade das imagens e nas mensagens implícitas que a montagem provoca. E viaje
na maionese com gosto. Essa é a melhor forma de curtir essa película inusitada.
Cartaz do filme. Uma colcha de retalhos.
Várias referências...
Corra, Lola! Sexualidade...
Repudiando o sexo
Sexualidade aflorada
Mensagens subliminares para todos os gostos...
Repressões???
O "fofo" (????) do Freud...
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