Tudo
Acontece Em Nova York. Sonhos E Pragmatismos.
Um filme fofíssimo!
Talvez um conto de fadas contemporâneo, cujo pano de fundo é a moderníssima
cidade de Nova York. Essa é a melhor definição de “Tudo Acontece em Nova York”,
da dupla Rubem Amar e Lola Bessis. Uma história que te pergunta o que é sonhar,
o que é ser feliz. E como buscar essa felicidade na frieza de um mundo tão
pragmático, movido pelo dinheiro e por necessidades impostas pelo capitalismo.
O filme começa com uma
mocinha com nome de flor, Lilás (interpretada pela própria Lola Bessis, uma
menina muito, muito estonteante, de beleza angelical e gestos delicados), que
trabalhava como modelo amarrada e nua num atelier de pintura moderna. Ela tem
uma pequena filmadora antiga e colhe depoimentos de todos que encontra. Seu
sonho é ser artista plástica em Nova York. Sua mãe, uma consagrada artista
plástica francesa (interpretada por Anne Consigny), desencoraja todos os passos
da filha, sendo altamente castradora. Lilás tem uma amiga que trabalha num pequeno
bar. Os donos do bar são um casal que mora no apartamento acima. A mulher, Mary
(interpretada por Brooke Bloom), é uma enfermeira que trabalha duro para
sustentar a família, já que o marido, Leeward (interpretado por Dustin Guy
Defa), é um músico que vive com a cabeça no mundo da Lua. Com sua bandinha, que
tem instrumentos musicais infantis, o maridão compõe, mas não por dinheiro. E
ainda tem ideias anticapitalistas de doar bens para a humanidade. No meio do
casal, a filhinha de quatro anos. E nos sofás da sala, Lilás, que sem ter
dinheiro e onde ficar, passará alguns dias no apartamento, assim como sua
amiga, que já mora regularmente por lá. Obviamente você deve estar se
perguntando por que a mãe enfermeira não expulsou o marido maluco beleza de
casa a pontapés. Mas, bom, isso é cinema e eles se amam. Apesar de tudo, há
conflitos. Os sonhos da mãe se baseiam em coisas concretas, como uma casa
própria. Mas, para isso, é necessário dinheiro. Já o marido doidinho, que
poderia ganhar mais dinheiro que a sua esposa compondo jingles para comerciais, só quer ficar compondo e gravar um CD para
distribuir de graça na rua. E ainda assim porque Lilás, também doidinha, o
encorajou a fazer isso.
O filme é um libelo a
favor da esperança e do sonho. Os personagens são altamente humanizados e
frágeis, mesmo quando eles aparentam ser fortes, caso de Mary. Os olhos dela
brilham ao ver a casa que tanto deseja ter, sendo uma presa fácil para o
corretor inescrupuloso. O pai é a delicadeza, fragilidade e infantilidade em
pessoa, assim como Lilás. A menininha de quatro anos é meio que uma síntese
daquele ambiente de personagens tão quebradiços que vão desmoronar todos ao
mesmo tempo em um ponto chave do filme. A única personagem dura parece ser
somente a mãe de Lilás que, mesmo assim, sucumbe à doçura da filha e
reconhecerá seu talento. A estrutura de sonho também aparece nas obras
artísticas de Lilás, onde seus vídeos são verdadeiras compilações de sons e
imagens de pessoas que falam de suas vidas e sonhos. E a fusão do rosto da mãe
artista com a filha que ainda aspira à mesma carreira é emblemática, botando um
ponto final no distanciamento entre as duas.
O encanto do filme só
se quebra um pouco quando sabemos que o pai doidinho é de família judia e a
excessiva proteção ao músico por parte dos pais foi colocada como a explicação
de sua alta infantilidade, como se ele fosse um bebezão mimado. A coisa ficou
inoportuna e desnecessária, desvalorizando o personagem e colocando-o como um
idiota facilmente manipulável. Não casou com o estilo lúdico da mensagem que o
filme pretende passar.
De qualquer forma,
“Tudo Acontece em Nova York” ainda é um grande filme, cuja temática altamente
romantizada e sonhadora é rara de se ver por aí. É uma história tocante e doce.
É uma história que enche nossos corações de alegria e esperança, pois mostra
que ainda as grandes virtudes do ser humano se fazem presentes: delicadeza,
alegria, o simples, o prosaico, infantil, pueril. Uma prova de que a verdadeira
felicidade está ainda nas coisas simples da vida, que estão mais ao nosso
alcance do que podemos imaginar.
Cartaz do filme
Lilás, Leeward e sua filhinha. Ambiente infantil
Ensaios no sofá de casa
Instrumentos musicais infantis.
A jovem artista passará por decepções
Mary, mais pragmática, também é frágil na busca por seus sonhos
Mãe se rende ao ambiente lúdico
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