Esse
Viver Ninguém Me Tira. Uma Heroína Oculta Vem À Tona.
Um excelente
documentário brasileiro está na tela, mas infelizmente um tanto escondido do
grande público. “Esse Viver Ninguém Me Tira”, do ator Caco Ciocler, mostra a
trajetória de uma tal Aracy Moebius de Carvalho, uma mãe desquitada (algo
escandaloso para a época em que vivia) que vai com a cara, a coragem e o filho
pequeno para a Alemanha em 1930, onde irá conhecer as agruras do nazismo. Lá,
ela vai precisar de um emprego e assumirá a difícil tarefa de ser chefe do
setor de passaportes do consulado brasileiro em Hamburgo. Ela também vai se
apaixonar pelo cônsul adjunto, um tal de João Guimarães Rosa. Seu trabalho era
considerado muito difícil e arriscado, pois o governo nazista determinava que
as emissões de passaportes aos judeus fossem dificultadas ao máximo para
mantê-los na Alemanha, com a intenção de enviá-los para os campos de
concentração e extermínio. Mas Aracy, muito avançada e corajosa para a sua
época, fez o caminho inverso, ou seja, ela não mediu esforços para facilitar a
saída de judeus da Alemanha Nazista em direção ao Brasil, colocando em risco a
sua própria vida ao tomar tal atitude. Com empolgante história nas mãos,
Ciocler irá recuperar a história dessa brasileira muito corajosa e
desconhecida, entrevistando seus familiares e pessoas que tiveram contato com
Aracy, além do uso de muitas fotografias e de viagens aos locais onde Aracy
viveu na Alemanha e a Israel, onde seu nome está num memorial em homenagem a
aqueles que ajudaram a salvar os judeus do holocausto.
O documentário de
Ciocler é muito bom, pois pudemos sentir duas qualidades essenciais. A boa
pesquisa histórica, com a busca de várias fontes em instituições como o
Instituto de Estudos Brasileiros, em São Paulo, e uma muito bem trabalhada
memória afetiva na reconstituição da trajetória de Aracy. A gente quando
assiste a um documentário histórico desse naipe sempre fica com aquela vontade
de quero mais e deu a impressão de que o material pesquisado poderia ter sido
mais aprofundado, mas também sabemos que, num trabalho de pesquisa histórica e
em documentários, chega um momento em que temos que fazer escolhas, priorizando
certos materiais e leituras e suprimindo outros materiais e leituras,
obviamente com grande dor no coração. De qualquer maneira, os pós-créditos
foram uma síntese entre a pesquisa e afetividade presentes no filme, quando
Ciocler entrevista o avô, que conheceu Aracy e o ator não sabia disso. Ele
disse ao avô que estava fazendo um documentário sobre Aracy há quase um ano, o
avô conhecia a protagonista e não tinha dito isso a Ciocler. O avô retrucou
meio que dizendo algo do tipo “nunca tivemos a oportunidade de conversar sobre isso”.
Só é de se lamentar que ele passe em tão poucas salas e não seja tão divulgado
quanto um blockbuster da vida. De
qualquer forma, procurem o DVD depois, pois é mais um filme brasileiro de boa
qualidade que vale a pena, que deve ser prestigiado. Tivemos aplausos ao final
da sessão. Isso sempre é um bom sinal da qualidade da película.
Cartaz do filme
Aracy. Uma heroína brasileira
Caco Ciocler. Reconstituindo a trajetória de Aracy.
Fotos e locais. Boa pesquisa histórica
De Hamburgo a Israel
Grande memória afetiva
Pesquisando em arquivos documentos pessoais de Aracy.
Amor por imagens esquecidas
Uma grande figura humana...
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