O
Senhor Do Labirinto. Loucura Como Combustível da Genialidade.
Mais um bom filme
brasileiro nas telas. “O Senhor do Labirinto” fala da vida do artista sergipano
Arthur Bispo do Rosário, um interno da Colônia psiquiátrica Juliano Moreira, no
Rio de Janeiro que, dentro de seus tormentos provocados pela insanidade,
produziu verdadeiras obras-primas, em suas próprias palavras, “representações”
das coisas que ele via em sua mente perturbada por uma religiosidade
exacerbada, onde ele acreditava ser Jesus Cristo em pessoa. Vemos toda a
loucura do artista colocada de forma nua e crua, o que provocou o seu
internamento por praticamente toda a vida. Por ter sido pugilista na marinha e
ter separado uma briga com seus potentes golpes, ele caiu nas graças dos seguranças
da colônia, especificamente de Wanderley, que acabou promovendo-o a uma espécie
de ajudante dos seguranças, onde ele tinha uma espécie de imunidade (nenhum
interno podia sequer tocar nele). Essa condição o tornou sujeito a uma série de
regalias que depois seriam decisivas para ele poder fazer sua arte, já que ele
precisava de objetos cortantes como agulhas e tesouras para fazer suas mantas e
panos cheios de inscrições. Ter tais instrumentos cortantes dentro da cela de
um hospício era, obviamente, terminantemente proibido. Mas o jeitinho e jogo de
cintura de Wanderley fez com que o interno tivesse todos os seus materiais à
disposição.
O filme, baseado no
livro homônimo de Luciana Hidalgo, conta com um bom elenco, com presenças como
a da fofíssima atriz Maria Flor, que faz Rosângela, uma estagiária de
psicologia. O segurança Wanderley, amigo de Arthur por toda a sua vida, é
interpretado por Irandhir Santos. Eriberto Leão faz uma ponta como um interno superdoido
e, para o papel de Arthur Bispo do Rosário, foi chamado o excelente ator Flávio
Bauraqui, que já fez bons filmes como “Quase Dois Irmãos” e “Madame Satã”, onde
ele simplesmente colocou Lázaro Ramos no bolso. É extremamente lamentável que
esse ator não tenha mais espaço para nos brindar com tamanho talento. Outra
virtude do filme é a caracterização dos personagens na velhice, embora tenha
ficado a impressão de que o tempo passou rápido demais, quer dizer, a fase da
juventude de Arthur e Wanderley poderia ter sido mais bem aproveitada e
destrinchada.
De qualquer forma, “O
Senhor do Labirinto” é um filme brasileiro que merece uma visita do cinéfilo
mais convicto, pois é um bom produto cultural brasileiro sobre um dos expoentes
da cultura de nosso país, que poderia ter ficado esquecido dentro de um manicômio
não fosse o reconhecimento de algumas pessoas, principalmente de Wanderley, que
guardou suas obras quando elas foram proibidas de ficar na cela. É um filme
onde temos novamente a oportunidade de ver Bauraqui atuar, algo obrigatório
para quem gosta de ver um bom artista trabalhando. E um filme que mostra a
realidade dos manicômios do Brasil, que é de dar náuseas. Por tudo isso, vale a
pena dar uma conferida nesse bom filme pátrio...
Cartaz do filme
Flávio Bauraqui. Sensacional, como sempre.
Irandhir Santos como Wanderley, o segurança, e um amigo para toda a vida...
A fofíssima Maria Flor trabalha no filme
Tormentos de origem religiosa
"Negociando" a exibição de seu documentário
Boa maquiagem para representar a passagem do tempo
Arthur Bispo do Rosário, o verdadeiro "Senhor do Labirinto"
Nenhum comentário:
Postar um comentário