O
Ciúme. Choque De Realidade.
Um filme francês em bom
preto e branco, o que quase sempre é garantia de uma boa fotografia. Um tema
que é 0% de fantasia e 100% de realidade. Uma cadência lenta e angustiante.
Essas são as impressões de “O Ciúme”, película francesa dirigida por Philippe
Garrel. Um filme que dói na alma, pela sua crueza e falta de qualquer
perspectiva.
Vemos aqui a história
de Louis (interpretado por Louis Garrel), um ator de teatro que abandona a
esposa Clothilde (interpretada por Rebecca Convenant) para viver com outra
mulher, Claudia (interpretada por Anna Mouglalis). Louis tem uma filhinha que
vive com Clothilde, que não é a sua mãe biológica. Claudia está completamente
sem perspectiva, morando de favor no pequeno apartamento de Louis, e não
aguenta viver no pequeno imóvel. Até que ela conhece um arquiteto que lhe dá um
apartamento maior e abandona Louis que, desesperado, tenta o suicídio, mas não
é bem sucedido. Como consequência, ele perde o papel na peça de teatro da qual
fazia parte. E tudo fica por isso mesmo, com um final amargo e cheio de
desilusões.
Fazendo essa rápida
sinopse, parece que não há muito o que dizer sobre essa película, exceto pelo
fato de ela contar uma história altamente deprimente. Mas é justamente nisso
que se deve prender a atenção. A crueza dessa história é um típico caso de
“arte que imita a vida”, onde tomamos um verdadeiro choque de realidade.
Relacionamentos amorosos onde caímos de cabeça, apostando todas as nossas
fichas e que, de repente, acabam, onde ficamos num vazio total, desamparados,
deprimidos e desgostosos, chegando a gestos desesperados como a tentativa de
suicídio de Louis. Essa sensibilidade do personagem protagonista é inclusive
alvo de chacota dos próprios amigos de Louis, onde o rapaz é chamado por eles
de “Werther”, numa alusão a um personagem de Goethe que se suicida por causa de
uma desilusão amorosa (reza a lenda, inclusive, que o texto de “Os Sofrimentos
do Jovem Werther” teria como inspiração uma própria desilusão amorosa de Goethe;
esse livrinho é encontrado nas bancas de jornal afora para quem se interessar).
A personagem Claudia também é vítima de um sofrimento, pois para estar perto de
seu amor, ela precisa viver num ambiente que é um verdadeiro tormento para ela,
que é o pequeno apartamento de Louis. Clothilde é mais uma vítima da desilusão
amorosa, abandonada por Louis e que ainda precisa criar a filha do homem que a
abandonou em sua casa, sendo esse o último resquício de Louis por lá, onde
Clothilde deposita todo o seu afeto, mas que é simultaneamente um tormento para
ela, pois a menina faz Louis retornar frequentemente à lembrança de Clothilde.
Finais felizes? Quando
a arte imita a vida em dramas geralmente essa expressão passa muito longe.
Todos os personagens do filme ficam com uma tremenda cara de bunda ao final da
exibição, sentimento também compartilhado pelos espectadores. O medo venceu
definitivamente a esperança, parafraseando aquele antigo jargão político.
Portanto, “O Ciúme” vai
na contramão das comédias românticas. Ao invés de você sair com a cabeça
levinha da sala de cinema, você lembra que o mundo real e todos os problemas de
afetividade te espreitam lá fora. Impossível você, que obviamente já sofreu uma
desilusão amorosa, não se identificar com os personagens do filme.
Compartilhamos todo o seu sofrimento. E, pelo menos, vemos que não estamos
sozinhos, justamente quando nos sentimos mais sozinhos.
Cartaz do filme.
Louis e Claudia. Amor conturbado.
Louis e filha. Acostumada com as peripécias amorosas do pai.
Clothilde. Lembrança de Louis numa filha que nem é dela.
Desilusões deixam personagens com cara de bunda. Vida real...
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