Leviatã.
Falas Grossas, Corrupção, Violência E Muita Vodca.
A Rússia nos brinda com
um bom filme, sobre o contexto atual do país. “Leviatã” concorre ao Oscar de
melhor filme estrangeiro esse ano e ganhou outros prêmios. Globo de Ouro de
melhor filme estrangeiro, Asia Pacific Screen Awards (melhor filme), melhor
roteiro em Cannes, melhor filme Internacional no Festival de Munique, dentre
outros.
Temos aqui a história
de Kolya (interpretado por Aleksei Serebryakov), um pai de família que é
mecânico, vive na região marítima do Ártico e tem uma casa numa área cobiçada
pelo prefeito da cidadezinha local, Valim (interpretado por Roman Madyanov),
safado, corrupto e violento toda a vida. Kolya e Valim têm uma longa disputa
judicial pelo terreno e, para a defesa do mecânico, um antigo amigo dele, Dima
(interpretado por Vladimir Vdovichenkov) vem de Moscou, pois é um advogado
experiente. Dima sabe que vai perder o processo nas instâncias judiciais e tem
um dossiê contra Vadim que suja, e muito, a reputação do prefeito. Dima
consegue um acordo com o prefeito, onde Kolya sai do terreno e recebe uma
indenização de 3,5 milhões de rublos. Mas a história descambaria para outro
lado, com fortes conteúdos passionais, que vão influenciar o desfecho desse
imbróglio.
É um filme muito caro a
nós, brasileiros, cansados de tanta corrupção e injustiça. A Rússia pós-comunismo
se assemelha muito a um Brasil de sempre. Mar de lama, corrupção, violência, injustiça,
mais forte esmagando o mais fraco. Um filme previsível. Desde o início, sabemos
que não haverá um final feliz, a menos que a coisa descambe para o insólito.
Mas, em alguns filmes como esse, que contém uma intenção de denunciar as
agruras de uma sociedade ou de um povo, sentimos que o negócio é mostrar uma
realidade nua e crua e jamais um escapismo incoerente com o que vemos no
cotidiano. Mas há uma diferença entre a realidade russa e a brasileira.
Primeiro, uma dureza muito grande do russo, com sua fala grossa e agressiva
para nossos padrões latinos. A impressão que se dá é que todo mundo é emburrado
e mal-humorado o tempo todo. Com o tempo, a gente começa a perceber que eles
também riem, ou seja, tem algo humano dentro de um povo que aparenta ser tão
carrancudo. Outra diferença está nos costumes que o frio excessivo da região
traz. Muita gente fumando desbragadamente, e vodca para todo lado, até não
poder mais. A galera bebe, e muito! Seja na felicidade, seja na depressão.
A história também
mostra uma crítica ácida à política russa, vista principalmente na corrupção,
descompostura e violência do prefeitinho local, que se achava um czar, sob os
olhos complacentes e semblante calmo (que ironia refinada!) da foto de Vladmir
Putin no gabinete do prefeito. O piquenique dos amigos de Kolya também é
emblemático, onde fotos de antigos líderes comunistas como Brejnev, Lênin e
Gorbachov eram usadas como alvo para as atividades de tiro dos que estavam na
recreação. O nome de Yeltsin também foi ventilado e, quando perguntou-se se
líderes mais recentes estavam disponíveis para serem alvejados, um deles disse:
“ainda não está na hora deles receberem os tiros. Sabe como é, né? Tem que
deixar a história passar, seguir o seu rumo”. Muito curiosa essa afirmação, que
mostra o descrédito total dos russos para com os seus governantes que, cedo ou
tarde, vão servir de alvo para tiros. Ou seja, definitivamente, nenhum político
presta, seja ele socialista ou capitalista. Somente uma certeza: todos são
extremamente autoritários. A presença da religião na cultura russa também é
questionada, seja nas ligações de um padre ortodoxo com os mais ricos e o
prefeito, seja no questionamento à justiça divina que Kolya faz com um padre
ligado às camadas mais baixas.
Dessa forma, “Leviatã”
é um filme fundamental, pois busca mostrar que o sistema capitalista em nada
melhorou a Rússia, até a piorou. Mas que, ao mesmo tempo, não tem qualquer
saudade do passado socialista. Um filme pessimista sobre o futuro russo, um
filme sem qualquer perspectiva de dias melhores, enquanto o país não combater
um autoritarismo e uma corrupção excessivas. Lembra tanto aqui, né?
Cartaz do filme
Kolya. Lutando pelo seu lar e contra as injustiças.
Prefeito Valim. Truculência e corrupção
Roma, filho de Kolya. Sofrimento com a situação do pai
Dima vai ajudar Kolya a lutar por justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário