Brincante.
Caleidoscópio De Talentos E Imagens Lúdicas.
Quando falamos de
Walter Carvalho, sabemos que vem coisa boa por aí. Um verdadeiro mestre na arte
de confeccionar imagens. É isso que podemos testemunhar nesse filme dirigido
por ele, “Brincante”. Um filme que é uma pequena joia, formado por uma sucessão
de imagens multicoloridas, cheias de vida, singeleza, delicadeza. E talento,
muito talento, sobre elementos da cultura de nosso país. Uma explosão de
criatividade e de uma rica linguagem literária.
Vemos aqui uma trupe
mambembe, “Brincante”, viajando pelo país e encenando seus números de dança,
música e teatro. Antônio Nóbrega e Rosane Almeida, líderes do grupo, dão um
verdadeiro show, sendo genuínos artistas na melhor acepção do termo. Eles fazem
de tudo: interpretam, cantam, dançam, fazem malabarismo, tocam instrumentos
musicais. O talento dos dois é refinadíssimo e, se vemos números artísticos
destinados à princípio para o público infantil, a coisa não fica só por aí.
Além de teatros com cenários ricamente adornados e cheios de cores, com
fantoches praticamente em tamanho natural, testemunhamos verdadeiras
coreografias bem hollywoodianas tendo a cidade de São Paulo e suas paisagens ao
fundo, seja no alto de grandes prédios, seja nas estações de metrô, passando
pelo MASP. Aí, o talento de Walter Carvalho também se faz presente, onde vemos
Nóbrega dançando em meio a multidões ou, aparentemente em tetos de ônibus,
quando na verdade, ele está em cima do teto de um ponto de ônibus coberto. Atuações
dramáticas são outra virtude desse excelente documentário. Nóbrega interpreta
dor, sofrimento e angústia sem dizer uma palavra sequer, seminu e cercado por
vitrines com um fundo escuro, onde o contato de seu corpo com o vidro achata o
artista, tornando a atuação agônica e opressora para quem a assiste. Uma obra
prima, que lembra o melhor do que foi visto no expressionismo alemão. Nóbrega
também é um excelente violinista e cantor. Os textos são de uma profundidade
literária genial, com bastante conteúdo crítico e filosófico. Tamanha qualidade
desse produto artístico chamado Brincante é, nas palavras de Nóbrega,
manifestação da cultura de seu país.
O filme flui, não por
um fio narrativo, mas por uma multiplicidade de situações nos ótimos números da
trupe, repletos de criatividade. Os números cativam, emocionam e, ao fim deles,
já fica uma expectativa do que vai aparecer de atração em seguida. E assim, a
nossa atenção fica presa por todo o filme. É impressionante como “Brincante”
consegue ser singelo e sofisticado ao mesmo tempo. Como ele consegue ser
popular e erudito. Como ele consegue ser emoção e razão. Devemos dar as nossas
palmas de pé para Walter Carvalho e Antônio Nóbrega. E lamentar, mais uma vez,
a dificuldade de acesso de um filme brasileiro de excelente qualidade para os
próprios brasileiros. E deplorável que um filme que fale de arte popular esteja
restrito apenas para uma elite de zona sul. É o tipo do filme que deveria ter
exibições públicas e gratuitas em praças. Uma diversão do povo para o povo. Por
que tais eventos são feitos de forma tão emergencial no país?
De qualquer forma, fica
aqui mais uma vez a dica. E a constatação de que filmes brasileiros não se
resumem a comédias blockbusters com atores da Globo.
Cartaz do filme
Antônio Nóbrega, o líder da trupe mambembe...
... acompanhado da bela e igualmente competente Rosane Almeida
O violino é só um dos múltiplos talentos.
Ricos figurinos e interpretações
Shows ao vivo
Uma morte divertidíssima...
Multiplicidade infinita de talentos...
Dor e desespero expressionistas...
Danças urbanas.
Um caminhãozinho viajando pelo país carregando um Universo...
Antônio Nóbrega e Walter Carvalho. Gênios em suas áreas.
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