Segunda-Feira
Ao Sol. Testemunho De Que Nada Muda.
Dia desses, tive a
oportunidade de rever no Cine Joia um bom filme espanhol lá de 2002,
“Segunda-Feira ao Sol”. Premiadíssimo, por sinal. Só para se ter uma ideia, essa
película dirigida por Fernando León de Aranoa e estrelada pelo excelente Javier
Bardem, recebeu 41 prêmios e 18 indicações. Dentre os prêmios, podemos citar: Festival
de Gramado de 2003 (melhor filme, diretor e ator latinos), Goya de 2003 (melhor
diretor, ator, ator coadjuvante, revelação de ator, filme) e Fotogramas de
Plata de 2003 (melhor filme e ator).
Temos aqui a história
de Santa (interpretado por Bardem), um estivador desempregado na cidade de
Vigo, Espanha, pois o estaleiro da cidade fechou em virtude de uma concorrência
desleal com um grupo coreano. Santa não é o único afetado por tal situação.
Todos os seus amigos passaram pelo mesmo problema de desemprego e receberam uma
indenização. Uns conseguiram rearrumar suas vidas, tornando-se ou dono de bar
ou segurança de uma empresa privada. Mas outros permaneceram no desemprego, o
que tornava o cenário desolador. E assim, os antigos estivadores tentavam levar
as suas difíceis vidas aos trancos e barrancos.
O filme é uma antiga
história que se repete dentro da dinâmica do sistema capitalista. Realizado
pelos idos de 2001, 2002, “Segunda-Feira ao Sol” denunciava o que a economia de
mercado e o neoliberalismo provocavam de nocivo na sociedade, onde a ausência
de qualquer medida protecionista por parte dos governos levavam ao desemprego e a miséria, achatando ainda mais
uma classe já não tão favorecida. Esse não foi o único filme a abordar o tema
naquela época. Tivemos o excelente “Quando Tudo Começa”, de Bertrand Tavernier,
que falava da vida de um professor primário da França, também enfocando os
efeitos malignos do neoliberalismo na sociedade.
Mas, voltando ao caso do filme espanhol,
percebemos a total falta de perspectiva de Santa e seus colegas. O protagonista
é o que tem uma atitude um pouco mais descolada, arrumando todo o jeito para
buscar um dinheiro aqui e uma comida ali, seja cantando a moça que dá amostras
grátis de queijo no supermercado, seja trabalhando de babá para a filha do dono
do bar, que quer sair com o namorado e tem que tomar conta do filho de um
ricaço. Outro amigo de Santa, Lino (interpretado por José Angel Egido), faz
constantes entrevistas em agências de emprego, tentando aparentar ser mais
jovem, sem sucesso. Amador (interpretado por Celso Bugallo), é o caso mais
deprimente. Abandonado pela mulher, diz que um dia ela voltará e mora sozinho
num prédio abandonado. José (interpretado por Luis Tosar) convive com
humilhação de ser sustentado pela mulher, Ana (interpretada por Nieve de
Medina), que se envolve com outro homem em seu emprego numa fábrica de atum
enlatado. José, portanto, corre o risco de perder a mulher e o sustento.
Definitivamente, é uma
película completamente desesperançada, no melhor estilo “a arte imita a vida”.
Um filme para se refletir muito de como a ganância do sistema capitalista é
capaz de destruir a vida de uma pessoa. O mais cruel aqui é perceber que a venalidade
do sistema faz tal temática se tornar recorrente no cinema, pois hoje a chamada
crise econômica mundial, estourada em cerca de 2008, produz histórias como a de
“Miss Violence”, onde novamente corações e mentes são dizimados por situações
financeiras humilhantes. Não é à toa que “Segunda-Feira ao Sol” tenha ganhado
tantos prêmios. Só é de se lamentar que a película foi exibida somente no Joia
e com muitas falhas nas legendas. Mesmo assim, é um programa que vale muito a
pena.
Cartaz do filme.
Desemprego e semblantes fechados
Entrevistas de emprego. Tem que ter menos de 35 anos...
Medo de perder a esposa.
Desgosto pela esposa já perdida...
Santa, o mais safo...
Amigo russo. Ironias refinadas...
Que dia é hoje mesmo????
Nenhum comentário:
Postar um comentário