Um
Belo Domingo. A Saga Do Professor Maluquinho.
Curiosa essa produção francesa
de 2013, “Um Belo Domingo”. Um filme que inicialmente parecia um pequeno
romance água com açúcar, vai se revelar uma radiografia pregressa da vida do protagonista. Acaba virando
a história de amor de um personagem só.
Vemos aqui a trajetória
de Baptiste (interpretado por Pierre Rochefort), um professor assistente que
pula de cidade em cidade, nunca parando definitivamente em algum lugar ou
emprego. Numa sexta-feira, ao fim do expediente, um de seus alunos não foi
levado para casa. Baptiste levará então o menino até a casa de seu pai, que
havia esquecido o garoto e estava de viagem marcada. O professor vai se oferecer
para passar o fim de semana com o menino, que o convence de ir ver a mãe, Sandra
(interpretada por Louise Bourgoin), que trabalha como garçonete num restaurante
à beira da praia. Os três irão passar o fim de semana juntos e Baptiste
descobre que a moça tem dívidas e sofre ameaças. O professor buscará ajudar
Sandra, procurando a família dele, de quem estava afastado há muito tempo, para
arrumar o dinheiro necessário. O problema será justamente esse seu retorno à
família, pois a relação de Baptiste com seus parentes foi muito conflituosa no
passado.
Pode-se dizer, então,
que o filme é dividido em duas partes bem nítidas. A primeira é a construção do
romance, da história de amor entre Baptiste e Sandra. Olhares, aproximações e
beijos. Mas sempre mostrando o personagem de Baptiste de forma enigmática. O professor
é muito introspectivo e calado, tal como se essas características fossem um
presságio do que seria a segunda parte do filme: a elucidação do passado de
Baptiste ao aproximar-se de sua família. Aqui, a trama toma contornos de um
drama familiar tenso, onde a chave do conflito estava na não aceitação mútua
das formas de ser tanto de Baptiste quanto da família. O professor não aceitava
que a família lhe impusesse suas vontades e expectativas. Por serem muito ricos
e com carreiras consolidadas, os familiares de Baptiste esperavam que ele
fizesse o mesmo. Mas isso não ocorreu, o que levou a consequências trágicas e a
um forte clima de ressentimento entre ambas as partes, muito difícil de se
superar.
Apesar de um desfecho
cheio de esperança, “Um Belo Domingo” tem como núcleo central a ideia de que,
às vezes, para você recomeçar, ir para a frente e empreender uma nova vida, é
necessário ajustar contas com o passado. Como dizia o sábio João Saldanha, “ninguém
é filho de chocadeira”. Mesmo que você tenha rompido com o seu passado, volta e
meia você precisa encará-lo mais uma vez, para verificar se ainda existe ou não
uma chance de reconciliação com o que foi deixado para trás. E, mesmo que sua
certeza seja a de um rompimento total, nunca se sabe o homem que você será no
futuro, como um dos irmãos de Baptiste salientou. O sonhador rompe com os grilhões
do dinheiro, abre mão de uma herança e de uma vida confortável, para levar o
conhecimento a quem não o tem. Alguns acham tal atitude louvável, outros diriam
que é o caso para a internação num hospício...
O filme valoriza a
mensagem romântica, a receita de um sonho heroico e utópico, enfatizando a
natureza sensível e delicada do personagem Baptiste, já exausto de tantos
sofrimentos em vida. Mas devo confessar que uns eurozinhos na conta bancária não
fazem mal a ninguém e dá até para sonhar mais alto. Nosso Baptiste até podia
montar uma escolinha só para ele lecionar. De qualquer forma, vamos valorizar a
mensagem romântica e utópica do filme. Definitivamente, o cinema é a arte da ilusão.
Cartaz do filme.
Baptiste e Sandra. Encontro na praia.
Surge um clima de romance.
Baptiste, introspectivo, terá que encarar o seu passado pelo amor de Sandra
O relacionamento com a família não será fácil
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