Homens,
Mulheres E Filhos. Todos Neuróticos.
Um filme americano
sobre as relações contemporâneas, regadas com os vícios provocados pelas redes
sociais. Essa é a melhor síntese de “Homens, Mulheres e Filhos”. Volta e meia o
tema das dificuldades encontradas nos relacionamentos humanos bate à porta do cinema.
E essa película é uma prova disso. Os mesmos temas de sempre: dificuldades no
casamento, de pais para com os filhos, de crises na adolescência. Mas dessa vez
com um agravante: a internet é usada como uma ferramenta que amplifica essas
dificuldades e crises. Não que a ferramenta seja a culpada da crise em si, mas
sim o mau uso dela.
Vários são os exemplos
das neuroses encontradas nos seres humanos do filme. A mãe hiperprotetora que
monitora todos os movimentos da filha na internet, a menina anoréxica e
insegura que fantasia o primeiro beijo com o amigo de infância, a menina que
quer virar uma estrela e acaba sendo apoiada incondicional e doentiamente pela
mãe por isso, o casal entediado que busca novas experiências sexuais, o pai e
filho que são abandonados pela esposa e mãe que tem um amante, etc. Todas essas
pessoas têm algum abalo psicológico em algum grau e parecem inteiramente
perdidas em suas atitudes. São pessoas absolutamente frágeis e que, muitas
vezes, prejudicam e machucam outras em sua fragilidade. E o mau uso da internet
ajuda a amplificar isso. Essa ferramenta é usada pelo casal entediado, por
exemplo, em sua mútua traição. A mãe que muito protege evita que a filha tenha
uma vida social ao monitorar toda a internet, numa prova de que o uso da
internet em demasia está afetando cada vez mais os relacionamentos. O menino
abalado com a fuga da mãe com o amante não quer mais saber de jogar no time de
futebol americano e recebe ameaças anônimas pelo Whtasapp, ao mesmo tempo que
se fecha ao mundo passando horas no videogame. Seu único contato com o mundo
real é através da paixão que nutre com a filha superprotegida cuja mãe bloqueia
a comunicação entre os dois, provocando dor no garoto, já que ele fica pensando
que a menina nada mais quer com ele. Definitivamente, uma ferramenta como a
internet, que deveria trazer benefícios acaba trazendo malefícios em virtude do
uso que as pessoas fazem dela.
Um detalhe muito
interessante da história é o paralelo que é feito entre o desenrolar da vida
dos personagens e a viagem da sonda Voyager até os confins do sistema solar.
Enquanto as pessoas se magoam aqui na Terra, a Voyager viaja pelo espaço de
forma cândida e calma, levando o disco de cobre banhado a ouro com informações
sobre a raça humana e com um texto de Carl Sagan que fala sobre como estamos
sozinhos nesse pálido ponto azul que é a Terra e que, as enormes distâncias do
espaço fazem com que fiquemos ao fim das contas sozinhos. Logo, temos que ser
gentis com nós mesmos e nossos semelhantes. Ou seja, algo que já falei em
outras resenhas: somos humanos, somos frágeis, temos nossos medos e, no fim de
tudo, temos apenas a nós mesmos para nos apoiar uns aos outros. A humanidade,
na melhor acepção do termo, está no sentimento de solidariedade e preocupação
com o próximo, algo que fazemos cada vez menos, e isso ameaça o nosso bioma e a
nós mesmos. Carinho e compreensão com a fragilidade do próximo, essa devia ser
a nossa maior compreensão. O filme é cheio de crises e desencontros, cheio de
falta de compreensão, que pouco a pouco brota num terreno estéril e árido de
egoísmo e discórdia.
O filme também conta
com um bom elenco: Jennifer Garner, Adam Sandler (isso mesmo, num papel
dramático!), J. K. Simmons, Emma Thompson (como narradora), Ansel Egort (um dos
protagonistas de “A Culpa é das Estrelas”). Muitas carinhas novas também, por
se tratar de um filme com muitos adolescentes em crise. De qualquer forma,
rolou uma química boa entre os personagens.
Dessa forma, apesar de
“Homens, Mulheres e Filhos” ser mais um filme que aborde o tema da dificuldade
das relações humanas, desta vez duas reflexões interessantes apareceram: como o
uso da internet pode amplificar tal dificuldade e a preciosidade e sabedoria do
texto de Carl Sagan sobre o que é ser humano quando se está sozinho no Universo
em virtude das grandes distâncias. E a Voyager continua viajando pelo espaço,
apesar de tudo...
Cartaz do filme
Uma mãe que rastreia todos os passos da filha
Um casal em busca de mais diversão
Um marido abandonado tentando esquecer o passado
Uma anoréxica querendo realizar um sonho de infância
Um menino que sofre com o abandono da mãe
Uma menina que quer ser uma estrela e um menino que não sabe transar...
Um casal fofo e neurotizado
E a Voyager segue placidamente em seu curso
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