Amantes
Eternos. Crepúsculo Hard Core,
Cultura e Loki.
Os vampiros voltam a
atacar! Só que dessa vez de uma forma bem intelectualizada e refinada. O excelente
filme “Amantes Eternos”, de Jim Jarmusch, fala da vida (ou morte) de um casal de
vampiros, Adam e Eve (sugestivo). Mas não é um romance adolescente à la “Crepúsculo”. O buraco é mais em
cima. Bem mais em cima.
Para começarmos, Adam
(interpretado pelo nosso querido “Loki” Tom Hiddleston) é um vampiro deprimido
que vive na parte mais erma e abandonada de Detroit. Ele é um roqueiro dark que consegue relíquias musicais como
antigas guitarras e violões com a ajuda de seu amigo Ian (interpretado por
Anton Yelchin). Adam também compra às escondidas sangue do estoque do hospital,
sempre com grandes somas de dinheiro. Já Eve, sua esposa e eterna amante
(interpretada por Tilda Swinton), vive em Tanger e parece não lavar o cabelo há
trezentos anos. Ela conta com a companhia de seu amigo, o velho Marlowe
(interpretado por John Hurt), que lhe fornece o sangue necessário. Adam e Eve
usam toda a tecnologia da internet para manter-se em contato. O estado
depressivo de Adam desperta preocupação em Eve, que vai a Detroit para visitar
o amado. O encontro dos dois será delicioso, pois como amantes da boa arte e
cultura, e sendo vampiros, o casal tem séculos e séculos de conhecimento e erudição,
além de serem muito talentosos culturalmente falando. A própria casa de Adam ou
biblioteca de Eve são um grande amontoado, cujo acervo lembra uma grande
biblioteca ou museu, sendo esse background
cultural o grande barato do filme. Adam é um artista refinado e sensível que
testemunhou várias épocas e tendências e Eve é uma especialista em dizer a
idade de qualquer objeto. Mas o soturno casal também é amante das ciências físicas
e biológicas, lembrando de grandes oportunidades esquecidas como a visão de
Tesla sobre o futuro da eletricidade (se a visão de Tesla se confirmasse, a
eletricidade seria espalhada pelo ar por enormes bobinas sem afetar os humanos
e não precisaríamos de tantos fios que quebram hoje em dia em eletrodomésticos e
outros aparelhos) ou que tem a capacidade de identificar anomalias no ciclo de reprodução
de fungos. A vida tranquila do casal só será afetada pela irmã eternamente
adolescente (socorro!!!) de Eve, Ava (interpretada por Mia Wasikowska), que
aparece de repente na casa de Adam, para desgosto do vampiro roqueiro.
Definitivamente, é um
filme de vampiro que foge do convencional. As tradicionais mordidas estão fora
de moda e são consideradas excessivamente dramáticas pelos vampiros. O negócio
agora é obter sangue O negativo (o de melhor qualidade, mais raro) do hospital.
Mas existe sempre o perigo de se obter sangue contaminado (não é fácil ser
vampiro nos tempos da AIDS), algo que faz Adam criticar muito os humanos,
chamados por ele de zumbis, que contaminam tudo, desde a água chegando até ao
sangue, destroem o meio ambiente e, ainda por cima, não aproveitam as boas
oportunidades dadas pelos gênios universais como Newton, Einstein ou Tesla. Vampiros
cultos, refinados e com ampla visão de mundo, consequência dos séculos e séculos
de existência como mortos vivos. Por amar a boa arte, o filme também tem o
mérito de ser altamente cosmopolita, onde podemos ver desde um rock dark e underground de Detroit até a cultura de traços árabes de Tanger. E os
vampiros apreciando todas essas manifestações numa boa, sem qualquer
preconceito. Só é de se lamentar que a necessidade faça o monge e o casal altamente
refinado tenha que voltar a mergulhar na barbárie. Mas chega de tantos spoilers.
Dessa forma, vale muito
a pena dar uma conferida nessa nova abordagem em cima dos vampiros nos DVDs ou
TVs pagas, pois o filme já saiu de cartaz. “Amantes Eternos” é uma história de
amor, mas também é uma história de boa arte, de boa cultura, de bom gosto. Um casal
moribundo sem perder a elegância. Um casal sensível. Um casal com tesão em si próprio
e pelo sangue. Ah, e que não suporta adolescentes!
Cartaz do filme.
Um casal cheio de estilo.
Um vampiro deprimido.
Uma vampira com uma vasta biblioteca.
Amor por relíquias
Mente aberta a outras culturas.
Mas o tesão de sempre pelo sangue.
Ava, uma vampira adolescente mala.
Ironia da barbárie em meio a tanta sofisticação.
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