Elsa
E Fred. Filme De Dois Atores.
Mais um remake nas telas. O bom filme “Elsa e
Fred” é inspirado numa versão mais antiga argentina e que se passa dessa vez em
Nova Orleans. A história gira toda em volta de um casal já na terceira idade e
se apoia inteiramente nas excepcionais atuações de Christopher Plummer (o
eterno klingon Chang de “Jornada nas Estrelas VI, a Terra Desconhecida”) e a veteraníssima
Shirley McLaine, uma atriz que não tem aparecido muito e a sua presença sempre é
bem vinda. McLaine é muito lembrada por suas experiências místicas de alguns
anos atrás, estando muito em voga naquela época (meados da década de 1980). Assim,
suas aparições sempre servem para que matemos saudades.
E como Elsa e Fred se
conheceram? Eles eram vizinhos e Elsa acertou o carro do genro de Fred, para
desespero da filha de Fred, Lydia (interpretada por Marcia Gay Harden). Elsa promete
entregar um cheque de seu filho, Raymond (interpretado por Scott Bakula, o
capitão Jonathan Archer da série Enterprise,
esse filme é um prato cheio para os trekkers
de plantão!), na casa de Fred para os reparos do carro. Nosso Fred é um
personagem extremamente rabugento e desgostoso da vida. Ele perdeu a mulher há sete
meses e a foto da esposa com um semblante pesadíssimo é uma dica de que o
casamento de Fred não foi lá essas coisas. Elsa, por sua vez, se interessa por
aquele ogro durão e tenta se aproximar dele. Já sabemos de antemão que ela
conseguirá. Mas a graça, como sempre acontece nessas histórias, está nos percalços.
Qual é a grande virtude
de Plummer? A rabugice de Fred dá a ele a oportunidade de fazer muitas observações
sarcásticas que são bem hilárias. Mas Plummer também sabe ser bem elegante,
alegre e refinado nos momentos certos. Já McLaine tem a sorte de fazer uma Elsa
espalhafatosa, alegre, bem-humorada, mas muito, muito garganta, algo que irrita
Fred profundamente. A capacidade de Elsa de inventar histórias é ilimitada e
Fred quase nunca consegue saber o que é verdade e o que é mentira, ponto
principal do conflito do casal.
O filme tem um detalhe
muito especial, sob medida para os cinéfilos mais apaixonados. Elsa é
totalmente fissurada em “La Dolce Vita”, de Fellini, sobretudo a sequência de
Anita Eckberg e Marcelo Mastroianni na Fontana de Trevi, em Roma. Trechos dessa
sequência são exibidos no filme no belo preto e branco de anos atrás e nos
colocam numa viagem no tempo, carregada de nostalgia. O nosso casal
protagonista inclusive reproduzirá a cena felliniana numa viagem à Itália
comprada por Fred. Destaque especial deve ser dado ao ótimo trabalho de
montagem neste trecho da história, onde tomadas em preto e branco de Elsa e
Fred se mesclam com as tomadas de Eckberg e Mastroianni em “La Dolce Vita”. Momentos
de pura poesia e emoção que valem o ingresso. Mas chega de spoilers!
O que podemos falar
mais aqui, a título de conclusão, é “Elsa e Fred” foi, nas palavras um tanto
preconceituosas do diretor Michael Radford (o mesmo de “O Carteiro e o Poeta”),
tornado mais sofisticado para o público americano, se comparado com a versão original
argentina. Confesso que não vi a versão original, mas soa um pouco inconsequente
achar uma plateia americana mais sofisticada que uma plateia argentina, por
exemplo. No fim das contas, tudo é mais uma questão de leitura, feita de acordo
com necessidades mais mercadológicas, talvez no caso do cinema americano. À despeito
das exigências de um público A ou B, dizemos com segurança que Christopher
Plummer e Shirley McLaine cumpriram seus papéis com maestria e nos hipnotizaram
com suas fortes personalidades magnéticas. Apesar de previsível em alguns
pontos, como acontece geralmente nas histórias de amor, “Elsa e Fred” não deixa
de ser um bom entretenimento e vale a pena ser visto. Filme em que a grande
vedete são os atores e não efeitos especiais. Típico filme em que a gente vai
para “ver os caras”. Apologia total ao star
system, numa forma mais gostosa e menos pasteurizada de ser fã. Que bom que
ainda haja filmes nesse formato!
Cartaz do Filme
Elsa quer novas alegrias para sua vida.
Fred tenta sair da tristeza da viuvez.
Um buscará apoio no outro.
Linda cena na Fontana de Trevi.
Elsa e Fred originais. Menos sofisticados???
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