Democracia
Em Preto E Branco. Futebol E Rock Na Luta Pela Liberdade.
Um
bom documentário brasileiro sobre os chamados “anos de chumbo” e da “abertura
política”. “Democracia em Preto e Branco” se situa no fim da década de 1970 e
início da década de 1980, quando a ditadura militar no Brasil já mostrava estar
cambaleando. Isso porque vários movimentos sociais surgiam nessa época para
questionar o poder dos grandes empresários e generais. As greves no ABC
paulista encabeçadas por lideranças como Lula, por exemplo. O surgimento do
rock nacional, cujas letras em português de um alto tom crítico e questionadoras
do regime, constituía outro núcleo de resistência. E o foco principal do
documentário: um time de futebol de São Paulo, que se uniu e conseguiu
estabelecer uma ilha de resistência no clube que defendiam e no país em que
viviam. Um clube de futebol cujo líder do time era um tal de Sócrates
Brasileiro... quem tem conhecimento ou vivenciou aquela época já sabe que falo
da “democracia corinthiana”, surgida num momento em que o Corínthians era
presidido por Vicente Matheus, fortemente antenado com os militares. Mas a vida
política do clube possibilitou num determinado instante a abertura de um
processo democrático onde os jogadores tomaram as decisões por votação e os
bichos das vitórias eram divididos entre todos, inclusive roupeiros, motoristas
de ônibus e as lavadeiras dos uniformes. O processo da democracia corinthiana
não teve apenas a autoria de Sócrates, o seu principal ícone. Wladimir, que
tinha contato com os movimentos de trabalhadores na luta pela democracia contra
o regime militar, também foi de suma importância. Outro jogador que se tornou
um símbolo do movimento democrático do clube foi um jovem de dezenove anos
grande, desengonçado, de espírito rebelde e roqueiro: um tal de Walter
Casagrande Júnior. Esses três jogadores
eram o símbolo de um time que tinha ainda figuras como Zenon, Biro-Biro (aquele
mesmo) e Juninho. Apesar de Sócrates, Wladimir e Casagrande possuírem o status
de ídolos e líderes do time, isso não significava que eles exercessem uma
autoridade sobre os demais colegas. Pelo contrário. Todos primavam pela
importância das decisões tomadas coletivamente. A figura principal não era um
ou outro jogador. O grande astro era o grupo em si.
Mas
o filme também lembra a gênese do rock nacional, recordando grupos que
começaram apenas querendo fazer música, quando mal sabiam tocar instrumentos
musicais e faziam tudo no improviso, como os Titãs, que, por possuírem uma
quantidade enorme de integrantes, podiam improvisar mais que nos outros grupos.
Foi lembrada, ainda, a importância do surgimento de um rock em português, que
abordava os problemas do Brasil daquela época, algo mencionado por Casagrande,
que tinha a mesma idade daqueles roqueiros, se identificando totalmente com
eles. Grupos como Ultraje a Rigor, Titãs, Paralamas do Sucesso, Ira, Barão
Vermelho e Plebe Rude faziam letras de músicas de protesto muito críticas,
sendo fortemente reprimidas pela censura, inclusive em tempos de democracia
pós-ditadura.
“Democracia
em Preto e Branco” é um filme fundamental, principalmente para as novas
gerações que nada sabem sobre a ditadura militar, não entendem a importância de
participar de um pleito eleitoral e que não sabem o que é um bom futebol ou uma
boa música. Em dias que “Senta, senta, senta” é um hit, “Até Quando Esperar”,
da Plebe Rude, soa como um bálsamo doce de tempos muito amargos que não acabaram
de todo (quem sabe não se tornaram ainda mais amargos, travestidos numa falsa
democracia?). Certeza, só uma: como Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zenon e
cia. jogavam! Como jogavam! Pinturas de gols transbordando nas telonas! Um
prato cheio para os amantes da política, liberdade, democracia, rock e bom
futebol. Mesmo quem não é corinthiano deve ir ver. Quem é então...
Cartaz do filme
Sócrates, o grande ícone...
Um movimento revolucionário...
Casagrande, ídolo de uma juventude que aspirava ´por liberdade.
Os três mais...
Gênese do rock nacional...
Futebol e rock num encontro de corinthianos legítimos...
No movimento Diretas Já...
Mas, em seguida, a decepção...
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