O
Crítico. Brincando Com Clichês.
Mais um filme argentino
na área. “O Crítico” é uma espécie de brincadeira. Um filme que fala do cinema,
mais especificamente, de quem analisa o cinema, ou seja, os críticos. Vemos
aqui a história de Victor Tellez (interpretado por Rafael Spregelburd), um
crítico de cinema de um jornal, já saturado pelos filmes que vê e que é
obrigado a analisar. Implacável, Tellez entende que a sétima arte está morta e
tem uma revolta especial contra histórias românticas, considerando-as um lixo
em termos de arte e povoadas de clichês altamente previsíveis. Ele anda com um
pequeno grupo de críticos de cinema que, juntos, veem as películas e depois as
discutem num café, onde os garçons estão sempre antenados com o que é escrito
por eles. A vida de Tellez só não fica nesse marasmo por dois motivos: um deles
é a sua irmã, que tenta de todas as formas encorajá-lo a escrever um roteiro,
além de pedir a Tellez que ajude a cuidar de sua filha de 16 anos; e o outro
motivo é a necessidade que ele tem de comprar um novo apartamento. Depois de
muita procura, Tellez irá encontrar o apartamento ideal, mas terá que
disputá-lo com Sofia (interpretada por Dolores Fonzi), uma moça altamente
vivaz, que vai na contramão da intelectualidade do crítico. Pouco a pouco, os
dois se aproximam e todos os clichês rechaçados pelo nosso protagonista
acontecem com ele na vida real, tornando a história um tanto divertida.
O filme infelizmente
não empolga muito. Há uns bons momentos de riso, mas a coisa não engrena. Até
parece as comédias românticas que ele mesmo critica. Não pelos clichês, mas
pela dose um pouquinho alta de tédio em alguns momentos. Pelo menos, o final
não foi um clichê previsível, mas ainda sim um clichê. Fica aquela impressão já
vista em outros filmes resenhados aqui de que a ideia é boa e podia ter sido
mais bem desenvolvida. De qualquer forma, a película abre um espaço para
reflexão. Até onde a opinião de uma pessoa é tão válida a ponto de destruir um
produto cultural ou a carreira de outra pessoa? Se existem comédias românticas
cheias de clichês e altamente previsíveis e há pessoas que gostam de tal
gênero, o que isso tem de ruim, ora bolas? Como já foi dito aqui, são
historinhas que não acrescentam nada a nossa vida, mas servem para entreter, para
você sair levinho, levinho do cinema. Se Harry e Sally hoje devem estar
discutindo a relação em meio a várias brigas (como foi insinuado no filme),
houve um bom momento deles no passado que (por que não?) deve ser valorizado.
Os bons filmes sempre serão lembrados. Vide a história romântica de “A
Felicidade Não Se Compra”, onde o próprio Tellez vai lembrar: “Capra é Capra”.
Se o filme é bom, ele sobrevive por si só em sua atemporalidade. Agora, o que é
um filme ruim ou uma arte de má qualidade? Tais conceitos são muito relativos. Temos
produtos culturais sendo concebidos de acordo com necessidades de mercado?
Claro que sim! Mas classificar produtos culturais como ruins em termos
artísticos por causa disso nos levaria a ser frankfurtianos demais. Por isso que, ao
escrever linhas opinando sobre uma determinada manifestação artística, o
crítico (em minha modestíssima opinião) não deve ter o medo de dar a sua
opinião, pois nunca agradaremos simultaneamente a gregos e troianos. Mas ele
também deve se lembrar que toda a coisa tem o seu lado bom e seu lado ruim. Só
espinafrar é muito fácil. Quero ver é buscar motivo de elogio em algo que te
desagrada.
Concluindo, “O Crítico”
peca por ter desenvolvido mal a ideia que propôs (o filme poderia ter tido um
andamento mais rápido e investido mais na comédia), mas tem a virtude de ter
mostrado boas ideias engraçadas. Vá mas não espere muito. O filme,
infelizmente, é menos do que parece no trailer.
Ainda bem que tem a Dolores Fonzi, que vale o ingresso.
Cartaz do filme
Tellez, um crítico cansado com seu ofício.
Sofia, uma mulher cheia de vida.
Esse casal reproduzirá uma série de clichês que Tellez tanto odeia.
os protagonistas e o diretor Hernán Guerschuny
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