Boyhood,
Da Infância À Juventude. Tempo Real Virtual.
Um filmão americano no
pedaço. Filmão porque é muito bom e tem quase três horas de duração. “Boyhood,
da Infância à Juventude” é uma experiência nova em cinema. Um filme rodado por
vários anos. E por que isso?
Temos aqui a história do
menininho Mason (interpretado por Ellar Coltrane), que tem uma irmãzinha chamada Samantha (interpretada por Lorelei Linklater), a mãe (interpretada por Patricia
Arquette) e o pai (interpretado por Ethan Hawke). Vamos ver a trajetória
de vida dessa família desde a infância do menino, passando pela “High School”
(ensino médio), chegando até a “College” (universidade). Geralmente, quando
temos um filme em que há um personagem criança que vai crescendo ao longo do
tempo, diferentes atores interpretam as diferentes idades do personagem, certo?
Entretanto, em “Boyhood”, há um detalhe especial. Os atores são os mesmos ao
longo de toda a história, ou seja, nós vemos mesmo o menino crescendo, assim como sua irmãzinha e os pais
envelhecendo. Assim, o filme foi rodado em mais de uma década. Para o grande
público, o filme feito dessa maneira é, em si só, uma experiência muito
curiosa, pois vemos as pessoas se transformando aos poucos. Para esse humilde
articulista que vos fala, que é professor, a experiência de ver esse filme
assemelha-se um pouco à experiência de um professor em sala de aula, que pega
uma turma de ensino fundamental do 6º ao 9º ano e vemos os alunos crescendo e
amadurecendo (ou não...).
O personagem do
menininho protagonista tem um comportamento um tanto introspectivo, ao
contrário da irmã, uma verdadeira espoleta. Essa família passará por
turbulências, pois os pais vão se separar e a mãe irá juntar seus trapinhos com
companhias nem sempre recomendáveis. Por outro lado, o pai, crianção e
irresponsável, é uma boa referência para os filhos. Um aspecto curioso no filme
é presenciarmos nos personagens algumas componentes ideológicas que formam a
sociedade americana como, por exemplo, o pai ser um crítico ávido de Bush no
ataque ao Iraque, assim como vemos os dois filhos e o pai fazendo campanha para
Obama anos mais tarde (inclusive tirando placas do concorrente republicano
McCain nas ruas!) e o fato de depois o pai ter se casado com uma moça cujos
pais são de uma família extremamente conservadora que tem, ao mesmo tempo,
bíblias e armas em sua casa.
O filme desperta em nós
várias reflexões. Em primeiro lugar, como é importante o papel de um pai e de
uma mãe. Às vezes, um passo em falso, como a escolha de um cônjuge inadequado, pode
afetar demais a vida dos filhos e provocar até alguns traumas, embora o filme
não tenha ido longe demais nisso. Outro fator interessante é como a prática do
divórcio no fim das contas agrega famílias, como podemos ver na festa de
formatura da “high school” do nosso
protagonista, onde mãe, pai e agregados comemoram todos juntos. A impressão que
se dá é a de que todos formam uma única e imensa família, baseada em
relacionamentos monogâmicos interligados. Dessa forma, “Boyhood” acaba fazendo
uma intrigante e curiosa radiografia dos caminhos que a sociedade americana
pode tomar no âmbito privado.
O filme também é um
comovente relato das superficialidades e profundezas das relações humanas. Para
o introspectivo menino, vemos que suas relações são bem mais íntimas com pai,
mãe e irmã (como não podia deixar de ser) e mais distantes com padrastos,
amigos dos pais, parentes dos amigos, etc. Nessa imensa família que imbrica
relações conjugais, ainda há níveis mais e menos íntimos de relacionamento.
Se o filme tem, por um
lado, uma longa duração e trata basicamente de relacionamentos humanos, possuindo
um ritmo arrastado em alguns momentos, por outro lado é uma interessante
análise da família na sociedade americana contemporânea. E aí nos perguntamos onde
a família brasileira de hoje é se aproxima e se afasta do modelo apresentado no
filme. O filme “Boyhood”, portanto, pode ser considerado uma interessante
história por suscitar todas essas questões.
Cartaz do filme.
Mason em diferentes idades...
Uma família em diferentes fases....
Irmãos fofos...
Mamãe mais madura...
e papai, o porralouca de sempre...
E o tempo não para...
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