A
Pedra De Paciência. A Vida De Uma Mulher Afegã Como Livro Aberto.
Uma produção francesa
abordando a questão do Oriente Médio. Algo um tanto recorrente, mas desta vez
temos uma história de ficção onde, digamos, se pode “viajar mais na maionese”,
com uma visão um tanto ocidentalizada e estereotipada, embora sempre dentro de
boas intenções com o universo feminino muçulmano, é claro. “A Pedra de
Paciência”, do já longínquo ano de 2012, toma como terreno de atuação o
Afeganistão mergulhado em guerra civil, onde as partes em combate não são muito
claras. O talibã não é mencionado explicitamente, mas somos induzidos pelo
filme a perceber o inimigo com essa configuração.
A história fala de um
casal cujo bairro em que moram é o front da guerra civil em que seu país está
mergulhado. O marido (interpretado por Hamid Djavadan) está numa espécie de
coma depois que tomou um tiro no pescoço por causa de uma briga. Sua esposa
(interpretada pela belíssima Golshifteh Farahani, como as mulheres do Oriente
Médio são lindas, meu Deus do Céu!) vive a sina de cuidar do cônjuge em estado
vegetativo em meio a bombardeios, rajadas de metralhadora e a ameaça constante
de invasão dos soldados inimigos a sua casa. Depois de um ataque onde seus
vizinhos são dizimados, a moça decide fugir para a casa da tia, uma mulher
extremamente avançada para os padrões muçulmanos, que dirige um...
prostíbulo!!! Isso realmente é algo muito difícil de imaginar nessas culturas,
mas devemos nos lembrar que 1) isso é uma história de ficção; e 2) às vezes,
nossas visões de mundo com relação a culturas muito distantes e diferentes
correm o risco de ser muito estereotipadas. Com sua tia cafetona, nossa heroína
se sente mais em paz e segura. Mas ela não abandona seu marido de todo, indo
diariamente a sua casa para tomar conta dele, dando banho, colocando soro
fisiológico em sua boca, etc. Em meio a essa inusitada relação, a moça começa a
contar para o marido todos os seus segredos, inclusive os mais íntimos, num
nível de confidência que ela não tinha quando seu esposo estava são. Aí podemos
testemunhar toda uma radiografia da condição em que vive a mulher muçulmana e
seus desejos reprimidos. Dentro de nossas mentes estereotipadas, algumas confissões
da mulher soam impossíveis de serem realizadas mesmo com o marido inconsciente.
O dilema de consciência da moça é bem presente, pois ela mesma não entende como
pode estar falando aquilo tudo a seu marido e se apega a religião para se
aliviar de seus supostos pecados. A mulher acabará também por ter um amante
dentro dos exércitos inimigos, mas não relatarei as circunstâncias aqui para não
estragar a surpresa, pois essa parte do filme é muito interessante e se
relaciona com a situação social do horror da guerra lá presente.
O grande mérito do
filme é dar voz a mulher muçulmana, mesmo que a ficção pareça ocidentalizar um
pouco a coisa. Algumas situações e falas da esposa parecem muito inverossímeis
para a nossa cabeça. Mas também essa visão um tanto inusitada da questão de
gênero no Oriente Médio também pode ser vista como um bom exercício para
relativizarmos os estereótipos que povoam nossa mente com relação a esse povo
que tem um comportamento cultural tão diferente do nosso. Até onde o filme é
irreal ou nossa mente é preconceituosa? É a pergunta que nos fazemos ao longo
das situações e diálogos, ou melhor, monólogos, que vemos ao longo da trama. De
qualquer forma, é um convite ótimo para uma reflexão que nos obriga a olhar
para dentro de nós mesmos. E a beleza estonteante de Farahani é um ótimo convite
e cartão de visitas para essa película! Vale a pena dar uma conferida.
Cartaz do Filme.
A belíssima protagonista é tudo de bom!!!
Esposa e marido. Confidências impossíveis num casamento muçulmano normal.
Abrigada no prostíbulo da tia,
o único lugar onde a moça se sente segura.
Vida de melancolia e desejos reprimidos.
Sofrendo ameaças na guerra civil.
Enfrentando as ruas e os pombos...
Desolador cenário de guerra.
Um amante? Um tanto ocidental, não?
Uma moça que só busca sobreviver.
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