Miss
Violence. Cruel Retrato De Uma Crise Econômica.
Eis um excelente filme
grego que é um forte golpe em nossos corações e almas. A grande síntese de “Miss
Violence” é a capacidade altamente destrutiva de uma crise econômica num
círculo familiar. Mas o filme não é só uma visão de uma intervenção nociva do
público no privado. O filme também fala de como situações inerentes ao próprio privado
são igualmente trágicas.
Vemos aqui a história
de uma família grega. Pai, mãe, três irmãs, cuja irmã mais velha tem um casal de
filhos e espera um terceiro. Vemos uma festa de aniversário da filha caçula,
que faz onze anos de idade, onde aparentemente tudo corre bem, a exceção do
semblante fechado da aniversariante e sua irmã, filha do meio. Um momento de distração
na hora do bolo e a menina homenageada se joga da sacada do apartamento. Um suicídio
que já deixa o espectador ávido por explicações no começo do filme. À medida
que a trama se desenrola, vemos que as crianças da família são tratadas de
forma autoritária e violenta pelo patriarca, que reproduz esse comportamento
violento em outros membros da família. O que parece ser o comportamento
excessivamente autoritário de um chefe de família austero se revelará algo
muito mais trágico. O senhor de pulso filme e conservador prostitui suas três filhas,
motivo esse do suicídio da caçula, que foi alertada da prática macabra do pai
pela filha do meio (as filhas começavam a ser prostituídas aos onze anos, daí o
motivo do suicídio na festa de aniversário). E por que o pai cometia tamanha
monstruosidade? Aí entra em campo a severa crise mundial que o capitalismo provoca
no mundo, que afeta principalmente países como Portugal, Espanha e... Grécia. O
pai está desempregado e só consegue empregos temporários, submetido a salários
baixos e assédios morais. Assim, a única fonte de renda vem da prostituição das
filhas. É muito curioso esse tema ser abordado, pois filhas prostituídas pelos
pais também surgiram em momentos de crise profunda, tais como a Segunda Guerra
Mundial, ou a crise hiperinflacionária da República de Weimar. Perceber que
tais práticas retornam hoje é muito perturbador, pois associam a crise atual a
essas crises profundas do passado.
Mas o filme não é
apenas a questão de uma família desestruturada pela prostituição que é provocada
por uma violenta crise econômica. Não é só uma intervenção do público (a crise
propriamente dita) no privado (a desestruturação da família). Se não houvesse
crise, o comportamento conturbado dessa família já seria digno de atenção. A criação
conservadora e violenta do pai, por si só já levaria à fragmentação dessa família.
O comportamento violento do pai nada tem a ver com a crise. Entretanto, não podemos
negar que a crise amplifica a violência do pai, tornando a trama mais
assustadora do que pode parecer a princípio. Há uma cena, por exemplo, em que o
pai estupra uma das próprias filhas, havendo uma perda total de qualquer
significado moral tradicional, constituindo-se aí um paradoxo. A violência provocada
pelo excesso de austeridade e moralidade do pai torna-se ainda mais aguda com a
perda de qualquer sentido de moral que a má situação da crise estimula. E aí,
as pessoas perdem qualquer freio, chegando a situações extremas como a autoflagelação
e o homicídio. Mas chega de spoilers, que já foram muitos.
Dessa forma, se você ficou
chocado com o cartaz de “Miss Violence”, pode ter certeza de que o conteúdo do
filme em si é mais chocante ainda. Mas não podemos deixar de frisar que essa
película é um severo grito contra a forma impiedosa com que o sistema
capitalista, em toda a sua eficiência de produzir caos, destrói vidas humanas. Um
grande filme que não deve passar em branco.
Cartaz do Filme. Você acha chocante?
Uma família aparentemente feliz
Entretanto, semblantes fechados dizem que algo de estranho existe no ar.
Um pai excessivamente castrador.
Filha sendo prostituída
Uma mãe de traços sofridos.
Netinha como a próxima vítima do avô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário