A
Gardênia Azul. Um Filme “Noir” De Fritz Lang Com Tempero Expressionista.
Falemos de Fritz Lang,
o grande diretor austríaco realizador de “Metrópolis”. Sua carreira se estendeu
ao longo do século 20, começando na Alemanha e pontuada pelo expressionismo alemão,
onde filmes como “Os Nibelungos”, “A Morte Cansada” e “Metrópolis” (embora com
algumas controvérsias) são considerados ícones do movimento expressionista. A censura,
o nazismo e a proposta feita por Hitler e Goebbels de ser o responsável pelo
cinema nazista empurraram Lang para fora da Alemanha e da Europa, em direção aos
Estados Unidos. Em Hollywood, a Meca do cinema, fez filmes “noir”, mas também de
outros gêneros que incluíam o faroeste e até comédias românticas. No campo do
cinema “noir”, especificamente, as heranças expressionistas estão bem
presentes, como podemos ver no ótimo filme “A Gardênia Azul”. Vemos aqui a
história de três telefonistas que dividem um apartamento. Uma delas, Norah (interpretada
pela bela Anne Baxter) tem um namorado que é um soldado que está na guerra da
Coreia (o filme foi realizado em 1953). A moça apaixonada receberá uma carta de
seu amado. E aí, virá a decepção. O soldado foi ferido e tratado por uma
enfermeira japonesa, por quem se apaixonou. Isso deixou nossa Norah
transtornada. O telefone do apartamento toca. Do outro lado da linha, um homem procura
uma de suas amigas para marcar um encontro. Norah se passa pela amiga e então combina
um encontro num bar. Esse homem é Harry (interpretado por Raymond Burr), um
mulherengo incorrigível que faz desenhos de mulheres nuas para calendários,
usando os seus casos como modelos em seu apartamento. Harry vai embebedar Norah
e a moça se torna uma presa fácil. No apartamento, Harry investe contra Norah,
que resiste. Ela não se lembra do que aconteceu. Só sabe que acorda com Harry
morto ao seu lado. Desesperada, foge e deixa uma gardênia azul que Harry havia lhe
dado. No dia seguinte, a polícia encontra a flor no local do crime e a imprensa
passa a chamar a assassina desconhecida de “A Gardênia Azul”. A polícia sabia
que era uma assassina, pois Norah foi vista com Harry por uma velhinha que
vendeu a inusitada flor para eles no restaurante para que o mulherengo
presenteasse a moça e a seduzisse ainda mais. A vida de Norah se tornará,
então, uma agonia só, pois ela é uma fugitiva procurada pela polícia e
imprensa, que publica toda uma história em volta do homicídio.
Quais são as duas
características principais do filme? Como já foi citado aqui, o filme “noir” e
o expressionismo. O gênero “noir” veio da França e surgiu em novelas policiais
ambientadas geralmente à noite (“noir” em francês, significa escuro, preto). Tal
contexto é ideal para se usar contrastes claro/escuro no cinema preto e branco.
E o cinema “noir” abusa destes contrastes. Vemos, no filme de Lang, várias
passagens de uso do contraste claro/escuro, principalmente na sequência em que
Norah se encontra com o jornalista Casey Mayo (interpretado por Richard Conte),
que promete ajudá-la escrevendo uma história que a defenda. O escritório
iluminado pelo letreiro da rua que acende e apaga propicia várias situações de iluminação
usadas de forma expressiva, assim como fazia o cinema do expressionismo alemão,
que usava igualmente de forma expressiva o claro/escuro, herança do teatro de
Max Reinhardt. Aproveitando o gancho, outra característica marcante do filme é
a questão da alucinação. Norah, no seu momento de embriaguez, tem alucinações quando
Harry é morto. A moça aparece caída no chão, com a imagem sofrendo deformações alusivas
às alucinações dela. Assim, a imagem se deforma de acordo com o estado interior
do personagem, assim como vemos na pintura “O Grito”, de Edward Munch,
considerado um “precursor” do expressionismo. É curioso notar também as
referências no filme a outras culturas, sobretudo as asiáticas, pois o “drink”
que Harry usa para embebedar Norah faz referência aos mares azuis da Polinésia.
Devemos nos lembrar que Lang fez viagens ao Oriente em sua juventude e que as
culturas consideradas na época “primitivas” pelos europeus serviram de inspiração
aos artistas expressionistas.
Apesar de todas as
evidências apontarem para Norah, ela não é a assassina. Outra amante de Harry
invade o apartamento enquanto Norah está inconsciente e mata o mulherengo. Homicídios
à parte, “Gardênia Azul” é um grande filme de Lang, justamente por suas
influências expressionistas na composição de imagens e com um instigante
roteiro policial cheio de suspense, principalmente quando fazia menção aos
estados de nervos de Norah, que se achava perseguida pelas forças policiais.
Cartaz do Filme
Norah, uma linda mulher atormentada.
Atraída por Harry de forma sorrateira.
Sendo atacada por Harry, que será assassinado.
Desesperada, Norah não sabe o que fazer ao ler as notícias nos jornais.
Para provar sua inocência, a moça contará com a ajuda de Casey Mayo, um jornalista.
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