Dois
Disparos. Vazio De Relações.
Dando sequência aos
filmes do Festival do Rio deste ano, vamos falar de mais uma película argentina
intitulada “Dois Disparos”. Por que esse título? Vemos a história de um garoto
que está numa danceteria e retorna à sua casa ao raiar do dia. Logo ele começa
a cortar a grama do jardim. Depois, treina na piscina, marcando o tempo de suas
braçadas sob o olhar atento de seu cachorro. Mexendo nos objetos de sua casa,
encontra um revólver carregado. E, sem qualquer motivo aparente, dá um tiro em
sua cabeça (que o atinge de raspão) e um tiro em seu estômago, com a bala
ficando lá alojada. O menino sobrevive e passa a ser vigiado de perto pela mãe
e pelo irmão.
Os tiros são apenas um
pretexto para conhecermos uma sociedade que parece anestesiada. Uma sociedade
sem perspectivas, apática, desesperançada e que não vive, apenas vegeta. Temos aqui
um marasmo explícito no semblante de todos os personagens. Ninguém ri, ninguém
chora. Somente uma indiferença a tudo. Somente ações que não levam a lugar
nenhum. O menino que se dá os tiros faz um quarteto de flauta doce que sofre
com a não permanência do quarto membro, geralmente uma menina, que desiste
quando percebe que o menino suicida toca com um som dobrado e desafinado em
virtude do tiro que se deu. O próprio menino encontrará novamente o revólver e
tentará o suicídio mais uma vez, mas agora a arma estará descarregada. A mãe
incumbirá o irmão de vigiar o rapaz com a bala alojada, usando um celular muito
antigo que não tem vibracall e com um som de chamada para lá de estridente e
irritante. Esse irmão conhece uma menina num McDonald´s da vida, mas não engata
um namoro com ela, pois a garota está “terminando” com o seu namorado já há dois
anos. O núcleo adolescente do filme vive num estado de total apatia. Mas o
mesmo ocorre com o núcleo adulto do filme. As relações humanas são muito frias
e superficiais. Vemos isso na viagem da mãe do menino suicida a uma região do
litoral ao sul de Buenos Aires, onde as pessoas que ela conhece se comportam de
forma igualmente letárgica.
O filme soa como
altamente depressivo. E o é. Entretanto, ele tem um elemento a mais. Toda essa situação
negativa é narrada com altas doses de humor negro, o que torna a película
simpática para o público, que ria muito das situações e diálogos um tanto
hilários. Mas, realmente, a história abre um convite para a reflexão. Será que
as sociedades modernas estão com as relações humanas tão distantes e frias? Reclamamos
muitas vezes de como tem sido cada vez mais difícil viver em sociedade, como as
pessoas estão mais distantes, mal educadas e até agressivas. A película
argentina aborda, entretanto, um outro elemento negativo das relações humanas,
talvez ainda mais nocivo: a indiferença.
A inércia e letargia das pessoas realmente incomodam muito. Uma apatia que,
definitivamente, empaca as relações humanas.
Assim, “Dois Disparos”
pode ser visto como uma comédia que aborda um tema pesado. Um humor ácido que convida
a nos refletir. Um bom filme argentino que não te deixa indiferente.
Cartaz do Filme
Estética da indiferença
Apatias.
O mesmo ocorre com os adultos
Dificuldade de aproximações
Insônias.
Silenciosos banhos de sol
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