O
Último Ato. Ensaio Sobre A Decadência.
Al Pacino está de volta
(ele já estava fazendo muita falta!). O bom “O Último Ato” lança mão de todo o
talento desse ator ítalo-americano. O enredo é curioso, pois tem a ver
justamente com a carreira de um ator, só que de teatro. Vemos aqui a curva
descendente que a carreira do renomado ator teatral Simon Axler (interpretado
por Pacino) vai tomando ao longo do tempo. Ao encenar mais uma das muitas peças
em sua carreira, ele esquece suas falas e começa a recitar a fala de uma peça
de dez anos antes. Tomado pela crise em pleno palco, Simon se joga de lá, numa
tosca tentativa de suicídio. Sentindo que não consegue mais atuar, fica com
tendências suicidas e depressivas, internando-se numa clínica e fazendo sessões
de análise através de teleconferências com seu psiquiatra. Na clínica, ele conhece
Sybil (interpretada por Nina Arianda), uma mulher que afirma que o marido
abusou sexualmente da filha e quer matá-lo com a ajuda de Simon, já que ele havia
interpretado um assassino num filme, metendo nosso protagonista numa tremenda
saia justa. Depois de receber alta, ele se isola numa casa no campo, mas recebe
a visita da filha de um antigo casal de amigos, Pegeen (interpretada por Greta
Gerwig). A moça revela que, quando menina, era perdidamente apaixonada por
Simon, mas agora tem uma companheira. Mesmo assim, Simon e Pageen começam um
caso, o que dá uma reviravolta na vida do ator veterano, que vai se envolver em
uma série de problemas em virtude da diferença de idade e de mentalidade entre
os dois. Para complicar a situação, os pais da moça vão reprovar veementemente
o relacionamento e a amante de Pegeen assim como Sybil, passam a perseguir
Simon.
Esse é mais um daqueles
filmes que mistura gêneros. Podemos dizer que temos aqui um drama, onde Pacino
se sente bem confortável para atuar, principalmente quando vemos o histórico de
seus personagens. Ele interpreta com maestria os homens atormentados, cheios de
caras e bocas de expressões perdidas e desoladas. Tudo isso está lá e se torna
mais convincente ainda com os traços da idade do ator. Mas o filme também tem
traços de comédia, onde algumas situações engraçadas arrancaram bons risos da
plateia. Talvez esse extrato de comédia tenha sido colocado para amenizar o
forte traço de crise existencial do ator, que realmente sofre com sua situação de
estar no limbo da carreira. Ele não quer mais atuar e se dedicar a sua Pegeen,
mas ao mesmo tempo, a grana falta e ele precisa assumir compromissos
profissionais. Entretanto, as ofertas que surgem lhe parecem humilhantes para
sua carreira, como fazer um anúncio para produtos de queda de cabelo. Há um
convite para ele interpretar “Rei Lear”, na Broadway, mas ele está relutante,
até porque esse convite só apareceu depois que ele se atirou do palco.
Um detalhe
interessantíssimo do filme era uma espécie de delírio que ele tinha onde ele
visualizava situações que, a princípio, pareciam reais, mas que eram alucinações
da cabeça do ator. E aí, embarcávamos nessas alucinações junto com ele. Chega uma
hora em que não sabemos mais o que é real no filme ou o que é alucinação de
Simon. Essas alucinações tinham um fundamento. Nas palavras do próprio Simon,
depois de passar a vida inteira atuando, ele não conseguia ver mais sua experiência
cotidiana de vida fora desse contexto. E aí, ele vivia numa espécie de vida
paralela, onde sua imaginação trabalhava para que essa vida fosse uma encenação
permanente de uma peça ou filme.
Assim, a gente pode
perceber que “O Último Ato” é um filme cheio de bons elementos, muito bem
cimentados pela presença de Al Pacino. É aquela velha história já cantada aqui
muitas vezes. O bom cinéfilo, daqueles que tem celuloide correndo nas veias (e
não DVD, porque ele trava de vez em quando), ainda vai ao cinema para ver o
filme do ator A, ou ator B, mesmo que o filme possa parecer uma porcaria no
trailer. O nome de Pacino já faz isso. Mas o filme não é ruim e tem uma boa
história escrita, para quem gosta de um bom drama. E você ainda leva uns bons
risos de brinde. Uma boa surpresa está reservada ao desfecho, mas essa fica
para você ir para a sala. Não deixe de assistir.
Cartaz do filme
Simon. Vivendo uma vida paralela
Esquecendo suas falas.
As velhas e admiradas expressões perdidas
Pegeen. Dando uma nova vida para o velho ator.
Dificuldades no relacionamento.
Uma namorada inconformada
Um agente admirando o trabalho de seu ator...
Sybil pedindo o impossível.
Nos palcos da vida.
Pacino divertindo-se no set.
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