Cinderela.
Subvertendo A Sociedade De Antigo Regime.
A Disney nos premia com
um interessante filme. A nova versão de “Cinderela” está, como é dito por aí, “bombando”.
Também pudera. A direção ficou a cargo de Kenneth Branagh. Cate Blanchett interpretou
a madrasta. Helena Bonham Carter fez a fada madrinha. E ainda tivemos a
participação de Stellan Skarsgard como o Grão Duque do reino. Mas os atores não
foram apenas os destaques dessa película. Ela tem outros atrativos.
Para começar, a
história tem o mérito de mostrar a vida de Cinderela dando uma atenção maior à
parte da vida da moça anterior a ela ficar sob o jugo da madrasta e se tornar a
“gata borralheira”. Ela vivia com seu pai e mãe, que era dono de uma
propriedade até razoável. Mas os dias de felicidade acabaram com a morte da
mãe, que em seu leito de morte pediu à filha para sempre ser firme e gentil. O pai,
depois de alguns anos, disse à filha que queria um novo casamento. É aí que a
madrasta e as suas duas filhas entram. Desde o início, percebe-se que as três
novas hóspedes vão se apropriando da casa, algo que vai se consolidar após a
esperada e óbvia morte do pai. Desse ponto em diante, é a história do conto de
fadas que conhecemos, com pequenas nuances aqui e ali, para tudo não ficar tão
óbvio.
Por que esse filme
chama tanto a atenção? Em primeiro lugar, pelas boas atuações dos atores
mencionados. Cinderela, interpretada por Lily James, não tem o fardo de
carregar todo o filme nas costas. Cate Blanchett e Helena Bonham Carter já valem
o ingresso, dando um show em papéis bem pontuais e importantes. Os cenários e
figurinos são outro destaque, belíssimos e multicoloridos, mas sem ser algo
vulgar, pelo contrário até. Havia muita elegância nas roupas, muito bem
trabalhadas, sobretudo a roupa da princesa espanhola prometida ao príncipe e
alguns figurinos da madrasta. O vestido azul de Cinderela merece um destaque
especial, com uma cinturinha tão fina que devia até passar pelo buraco de um
alfinete. Uma detalhe interessante é que o filme parece nos mostrar onde é que
o CGI se mostra mais adequado no cinema: em efeitos especiais de histórias de
contos de fadas. Quando vemos o CGI gerando efeitos especiais que tentam reproduzir
cada vez mais a realidade, sempre fica em nós uma impressão de artificialidade,
por mais que a tecnologia se desenvolva. Mas, ao criar efeitos especiais para
algo mais fantasioso como um conto de fadas, essa impressão de artificialidade
desaparece, pois não há a intenção de reproduzir o mundo real. E aí, quando
vemos as partes mais divertidas do filme – a fada jogando seus encantos e
transformando a abóbora em carruagem e os bichinhos em cavalos, cocheiros e
lacaios e, depois, a carruagem voltando a ser abóbora – o CGI se torna algo bem
mais apreciável, sobretudo na transformação do vestido de Cinderela do rosa para
o azul, onde há belíssimas imagens.
Uma discussão muito
interessante que o filme e sua história há muito conhecida pode proporcionar é
de como há uma subversão de valores do Antigo Regime, o período histórico em
que se passa a trama de “Cinderela”. Nessa época havia uma sociedade feudal,
onde há uma nobreza originada de grandes proprietários de terras no poder,
compondo uma casta que não se mistura com as camadas mais baixas. Ainda, a
mobilidade social, ou seja, enriquecer ou empobrecer, era algo difícil de
acontecer. Pois bem, o filme mostra situações que vão contra esses modelos. A família
de Cinderela era proprietária de terras, mas não eram poderosos senhores
feudais. Com a morte do pai de Cinderela, a madrasta passa a ficar com muitas
dívidas e ameaçada de pobreza, um indício que havia sim alguma mobilidade
social nessa sociedade altamente hierarquizada. Mas a característica mais
interessante desse jogo feito com as características do Antigo Regime no filme
está na figura do príncipe (interpretado por Richard Madden) que, por estar apaixonado pela camponesa Cinderela,
quer se despir de sua pecha de nobre. E, aí, ele subverte uma série de valores.
O príncipe se apresenta como um aprendiz para a gata borralheira, ele organiza
uma festa aberta não só aos nobres mas também a todos os súditos, e se oferece
em casamento para aquela cujo sapatinho de cristal vai caber no pé. Ao se
chegar ao já conhecido final feliz, ele chama a camponesa Cinderela de “minha
rainha”, ao passo que a moça chama o príncipe, já rei, de “meu aprendiz”, sob
os olhos felizes de todos os súditos do reino. É de se chamar a atenção o
detalhe de que tais inversões de valores são relativamente ousadas para uma
sociedade tão estratificada como a de Antigo Regime.
Assim, “Cinderela” é um
programa obrigatório, pois é uma película com excelente diretor, atores,
efeitos especiais, cenário, figurino, além de suscitar discussões interessantes
sob o contexto histórico da trama. E um bom “blockbuster”, que diverte
bastante. Ao final das contas, essa é a função principal do filme. Entreter, e
muito. E ele consegue com maestria.
Cartaz do filme
Cinderela, a bondade em pessoa
Uma camponesa de alma livre
A madrasta e suas filhinhas
Uma fada bem porra-louca
Chegando na carruagem
Momento to baile.
Fugindo à meia-noite
Um príncipe que subverte o Antigo Regime.
Os famosos sapatinhos...
Eu acredito que o sucesso deste filme é, sem dúvida, porque Cinderella você pode verificar horários e veja , um filme da Disney, é uma história clássica que todos nós já leu ou viu, a produção é bonito, ea distribuição de qualidade. Um filme cheio de amor e ilusão.
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