14
Estações De Maria. Tratado Sobre A Intolerância.
Um excelente filme
alemão nas telonas. “14 Estações de Maria” é um duro exemplo de como a
intolerância religiosa pode destruir vidas. Ou, melhor dizendo, aniquilar. É
uma prova de que o mau uso da fé pode provocar imensas devastações, morte e
destroçar almas. E que as armadilhas do fundamentalismo religioso, qualquer que
seja a religião em questão, são mais perigosas do que se pode imaginar.
A trama é centrada em
Maria (interpretada por Lea Van Acken), uma adolescente de 14 anos que faz
parte de um grupo católico contrário ao Concílio Vaticano II, criado em 1965,
com o objetivo de flexibilizar um pouco mais as práticas religiosas. Esse
Concílio encontrou resistências de grupos mais fundamentalistas, que ainda
seguiam os rígidos pressupostos do Concílio de Trento, que estabeleceram a
Contra-Reforma no século 16, para combater o avanço das religiões protestantes.
Assim, os que eram contrários ao novo Concílio além de celebrarem suas missas
em latim, tinham um ponto de vista muito mais conservador, acreditando que eram
verdadeiros soldados de Jesus contra as influências do demônio. E aí, tudo
estava sob a influência do capeta, desde músicas de rock até tirar fotos ou
maquiar o rosto (pecado da vaidade). É nesse contexto que Maria vai viver.
Católica muito devota, ela terá que interagir com essa forma fundamentalista de
catolicismo, que traçou em sua cabeça a meta de se encontrar com Deus, a ponto
de a menina pensar em até abdicar da vida para isso. Apesar de ser muito
dedicada à religião, Maria sofria severas repreensões da mãe (interpretada
soberbamente por Franziska Weisz), que governava a família com mão de ferro e
reprimindo todas as vontades de Maria, que só encontrava conforto na babá
francesa Bernadette (interpretada por Lucie Aron), que tomava conta do irmão
caçula e autista da família de Maria. A moça vai conhecer um rapaz, Christian
(interpretado por Moritz Knapp), que a convida a cantar no coral de sua Igreja,
que canta Bach e algumas músicas de soul. A recusa da mãe é violenta, o que
desgasta a moça física e emocionalmente. Dessa forma, Maria passa por uma
espécie de “via crucis”, onde o filme é dividido em 14 partes, tal como o
martírio de Cristo. Só que dessa vez, o martírio não é provocado pela perseguição
romana, mas sim por todas as situações degradantes e violentas que o
fundamentalismo religioso pode provocar, massacrando a pobre mocinha
impiedosamente.
O filme, ao denunciar
essa forma nem um pouco salutar de se praticar uma religião, cumpre novamente
seu papel social de lembrar a nós, religiosos ou não, que a intolerância é uma
chama muito mais difícil de apagar do que se imagina. E que todos os cuidados
devem ser tomados quanto à isso, pois tal intolerância pode aparecer em
qualquer lugar e a qualquer tempo, destruindo e consumindo vidas. Vemos um
claro processo de definhamento de Maria, totalmente irreversível e sem saída,
pois a menina não se rebela, ela tem sempre uma postura de se culpar e se
arrepender de todas as acusações que a mãe implacavelmente lhe faz. Sua posição
católica altamente conservadora a afasta dos colegas de escola que inclusive
lhe fazem “bullying”. E a única atitude de Maria é ir ao confessionário, onde o
processo de lavagem cerebral só a faz afundar cada vez mais. É um beco sem
saída, um caminho sem volta para o matadouro. E assistimos inertes, pasmos e
sem reação, a toda uma gama de sofrimentos muito dolorosos e desnecessários.
Tal filme merece mais
divulgação, principalmente onde o fundamentalismo se faz tão presente (ele pode
estar mais perto de nós do que imaginamos). Assim, “14 Estações de Maria” é
mais uma película fundamental.
Cartaz do filme
Maria. Uma vítima de sua própria fé...
Vida de provações...
Para aplacar a dor, somente o confessionário...
Christian. Repudiado por uma Maria muito atormentada...
Maria era totalmente reprimida pela mãe extremamente opressora...
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