Falcões
Da Noite. Visões Do Terrorismo De Décadas Atrás.
Imagine um filme com
Sylvester Stallone, Rutger Hauer, Billy Dee Williams (nosso Lando Calrissian),
Lindsay Wagner (a lendária Mulher Biônica da década de 1970) e Persis Khambatta
(a Ilia de “Jornada nas Estrelas, o Filme”). Pois é, caro leitor, isso
aconteceu! Mais especificamente, no longínquo ano de 1981, no filme “Falcões da
Noite” (“Nighthawks”), um delicioso thriller
de ação policial. Vamos recordar aqui essa interessante história.
A trama fala de dupla
de policiais Deke DaSilva (interpretado por Stallone) e Fox (interpretado por
Williams). A atividade deles consistia em fazer tocaias para bandidos na rua. O
plano, por sinal muito exótico, era o seguinte: DaSilva se disfarçava de
pessoas acima de qualquer suspeita: um senhor respeitável de terno e gravata,
uma senhora (?!?!), etc., e se metia nos piores buracos de Nova York, atraindo
os bandidos. Mas Fox estava à espreita e DaSilva, obviamente, preparado para a
tocaia. No início do filme, chega a ser hilário o que DaSilva fala ao bandido
depois de tirar seu disfarce de uma respeitável senhora: “Vem me atacar,
He-Man!!!”. Bem antenado com o zeitgeist
(“espírito da época”). E assim, entre muitas armadilhas, bocas de fumo
estouradas e muita, muita porrada, nossos estimados policiais vão vivendo. Infelizmente,
isso traz problemas para nosso DaSilva, pois sua antiga namorada, Irene
(interpretada pela “biônica” Lindsay Wagner) quer que ele saia daquela vidinha
complicada. Um belo dia, os dois são recrutados para participar de uma divisão antiterrorismo,
pois um terrorista internacional muito perigoso, Heymar “Wulfgar” Reinhardt
(interpretado por Hauer) chega a Nova York depois de se indispor com todos os
grupos terroristas e revolucionários, já que suas técnicas eram extremamente
violentas. Ou seja, nosso terrorista pirou na batatinha e decidiu agir por
conta própria, de forma free-lancer.
Na verdade, ele tinha a ajuda da perigosa Shakka Holand (interpretada por
Khambatta). No início, DaSilva e Fox não aguentavam as exaustivas aulas. E
DaSilva se desentendeu com o instrutor, pois não queria abrir fogo contra o
terrorista em situações em que inocentes estivessem em perigo, já que DaSilva,
assim como Fox, eram veteranos de guerra do Vietnã (um embrião do Rambo?),
ficando implícitos os traumas de guerra no protagonista.
Wulfgar tinha por
hábito se envolver com moças para transformar seus apartamentos em uma espécie
de base para ele. Feito isso, ele as assassinava, sempre dizendo “você vai para
um lugar melhor”. Assim, temos várias cenas onde Wulfgar procurava suas presas
em discotecas, onde podemos atestar os ritmos musicais da época. Em alguns
momentos, parece que estamos vendo “Os Embalos de Sábado à Noite” e John
Travolta aparecerá do nada para dançar. Aliás, a trilha sonora do filme, composta
por Keith Emerson, é show! Uma batida instrumental cheia de tensão, com o
devido espírito da época! Algo que soa muito diferente do que se ouve por aí
hoje em dia.
Rutger Hauer conseguiu
fazer um grande vilão, o primeiro de sua carreira, estourando em “Blade Runner”
pouco tempo depois. O mais irônico de tudo é que ele era considerado um
terrorista internacional muito perigoso e as supostas técnicas dos policiais de
rua de Nova York não seriam suficientes para capturá-lo. Entretanto, foi com
tais técnicas ultrapassadas que DaSilva pegou Wulfgar. E adivinhem qual foi?
Isso mesmo, caro leitor, DaSilva se vestiu de mulher!!!! Wulfgar foi à casa de
Irene, o amor de DaSilva, para matá-la. Ele via a moça de costas com um vestido
rosa e sua longa cabeleira loura. Quando ele se aproximou com a faca para dar
cabo de Irene, ela se vira e vemos um Stallone barbado com peruca loura e
vestido rosa apontando a arma para ele (aaaarrrrrgghhhhh!!!!). Wulfgar ficou
tão traumatizado que demorou uns dois minutos para processar aquela grotesca
informação em seu cérebro. Quando ele decidiu atacar, foi prontamente fuzilado
por DeSilva.
Apesar de ser um filme de
ação trivial, não podemos deixar de perceber alguns lances interessantes. Os
personagens de Stallone e de Fox conseguiam ser duas vacas bravas, mas, ao
mesmo tempo, ter alguma serenidade, não sendo tão caricatos. Foi legal ver
Stallone numa interpretação não tão exótica assim, como o foi em muitos de seus
filmes. Ou seja, sua paralisia facial ainda não era a estética dominante de sua
interpretação. E ele deu conta do recado. Billy Dee Williams mostrou que não é
somente Lando Calrissian, fazendo o fiel escudeiro Fox, que se indignava
profundamente com o traficante da boca de fumo que lhe oferecia dinheiro, mas
ao mesmo tempo era uma voz de temperança para DaSilva, ao convencê-lo a não
abandonar a unidade antiterrorista. Persis Khambatta poderia ter sido mais
aproveitada, mas ainda sim sua participação foi maior que a de Lindsay Wagner.
Essa sim apareceu muito pouco no filme, o que é de se lamentar bastante.
Outra virtude da
película é atestarmos as visões de terrorismo da época, ainda muito vinculadas
a movimentos revolucionários. Wulfgar se vangloriava de defender uma causa. Ele
se acreditava um defensor e libertador dos oprimidos, numa visão um tanto
romântica da coisa. Ao escutar isso, DaSilva só falava, em tom de
questionamento e com sarcasmo: “Você acha, é?”, ao que Wulfgar retrucava: “Isso
te fascina”. Se o policial questionava o terrorista em tom de pouco caso, até
porque, na visão do policial, Wulfgar era um louco e era bom não contrariar,
vemos um traço de romantismo e ideologia no terrorista, até porque, naquela
época, os Estados Unidos ainda patrocinavam muitas ditaduras no mundo
ocidental, sobretudo na América Latina. É inclusive citado que a América do Sul
estava cheia de revolucionários. Logo, a existência de muitos grupos
revolucionários no mundo ocidental era algo que fazia parte da realidade
daquele tempo. Hoje em dia, os terroristas não têm rosto e vêm de mais longe,
mais especificamente do Oriente Médio, não havendo nacionalidades definidas e
sim grupos armados que são extremamente demonizados pela mídia. É um terrorismo
mais violento, cruel e aparentemente sem romantismos, embora as ideologias
ainda estejam lá escondidas. E o cinema, geralmente, auxilia no processo de
demonização. Wulfgar tinha rosto, se reportava à mídia em telefones públicos
próximos ao local dos atentados, ou seja, cometia erros que os terroristas de
hoje jamais cometeriam. Podemos atestar, então, nas produções cinematográficas
ao longo do tempo, um processo que vai de um terrorismo mais “romântico” e
menos planejado no passado para um terrorismo de hoje mais frio e calculista.
Assim, “Falcões da
Noite” é um interessante filme das antigas por mostrar a nós como determinados
conceitos e formas de comportamento se alteram ao longo do tempo. E é um filme
muito fácil de se obter em DVD. Dê uma garimpadinha por aí, que vale a pena.
Cartaz do filme
Dois policiais duros na queda
Wulfgar, o terrorista que pirou na batatinha
Relacionamento tenso com DaSilva.
Aulas antiterrorismo chatas
DaSilva tentando levar um bom relacionamento com Irene
Wulfgar sempre seduzia mulheres para tomar seus apartamentos e matá-las
A perigosa Shakka, desta vez com cabelo
aaaaaaarrrrrrrrgggggghhhhhhhhh!!!!!!
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