O
Segredo Das Águas. Dois Adolescentes Que Desabrocham Para A Vida Seguindo As
Leis Da Natureza.
O quilométrico título
deste artigo é a testemunha viva de um filme que desperta muitas discussões. “O
Segredo das Águas” (“Futatsume no mado”), de Naomi Kawaze fala sobre a natureza
e de seu status de divindade para o
ser humano. A trama enfoca a vida de uma pequena comunidade numa ilha
subtropical do Japão que é altamente antenada com as forças da natureza,
considerando-a inclusive como uma divindade. A história irá girar em torno de
dois personagens adolescentes: o menino Kaiko e a menina Kyoko, que descobrem o
amor e a sexualidade, não sem antes serem obrigados a contornarem alguns
traumas. Um corpo de homem com uma imensa tatuagem nas costas é encontrado boiando
na praia. Kyoko ama o mar e a natureza. Kaiko teme o mar e sua violência
durante os tufões que assolam a ilha. Kyoko tem uma mãe que é xamã, ou seja,
uma espécie de intermediaria entre os mortais e os deuses. Mas a mãe de Kyoko
está gravemente doente e irá morrer, não sem antes com uma celebração altamente
festiva, onde os vizinhos cantam e dançam para a moribunda ir feliz para o
outro mundo. Kaiko, por sua vez, tem a mãe em excelente saúde, mas sofre demais
pois ela está separada de seu pai, trabalha muito e tem vários amantes, deixando
Kaiko sozinho e inconformado. Isso fará com que Kaiko relute muito em se
iniciar sexualmente com Kyoko.
O filme tem um gosto
delicioso da serenidade da sabedoria oriental, onde vários elementos culturais
são bem distintos dos nossos. A cena da morte da mãe de Kyoko, com todos os
vizinhos cantando para que ela se sinta feliz em seus últimos momentos é
emblemática. Outra passagem interessante é o fato de os pais de Kyoko
comentarem com a menina, na maior naturalidade do mundo, que ela namora com
Kaiko, pois todos têm visto os dois juntos o tempo todo. Um namoro entre
adolescentes aceito pelos pais da moça sem qualquer neura. Isso numa comunidade
que, como já foi ressaltado aqui, diviniza a natureza e vê com complacência e serenidade
tudo aquilo que parece ser o ciclo natural das coisas. A exceção a isso é
Kaiko, que sofre com convenções sociais mais tradicionais em sua cabeça ao ver
a mãe ser separada do pai e ter vários homens. Isso até atrapalha o
relacionamento dele com Kyoko, que está doidinha por ter uma noite de sexo com
Kaiko. Mas o próprio pai de Kyoko vai confortar o rapaz dizendo que não dá para
ir contra certas coisas que são impostas pela natureza. O desaparecimento da
mãe em meio a um tufão e o mar agitado, algo que Kaiko tanto temia, irá
deixá-lo desesperado, mas o levará a reconciliação e a aceitar os desígnios da
natureza, aceitação essa expressa na cena em que os dois adolescentes nadam nus
no fundo do mar depois de uma noite de amor no manguezal. Nunca a Mãe Natureza
foi tão acolhedora com seus filhos. Bucolismo em toda a sua essência à
japonesa...
Filme de arte puro.
Filme com o melhor da cultura japonesa, que é a serenidade. Filme bem zen, para
desestressar legal. A Natureza com N maiúsculo, que protege em seu seio seus
filhos, mesmo nos momentos de maiores intempéries. Um filme onde você se deixa
levar pelo que naturalmente acontece, tendo uma vida mais sadia e sem
sofrimentos. Aceite o que a Natureza determina e não se apegue a convenções e
tradições que vão contra essas determinações. Só assim você será feliz. Essa é
a grande e linda mensagem de “O Segredo das Águas”.
Belo cartaz do filme
Jovem casal abraçado pela Natureza
Vida prosaica, sem neuras
A família de Kyoko (centro), com sua mãe moribunda
O jovem casal buscando a sexualidade
A diretora Naomi Kawase (esquerda)
Naomi Kawase (centro) abraçando a atriz Jun Yoshinaga (Kyoko) e o ator Nijiro Murakami (Kaiko), o jovem casal de "O Segredo das Águas".
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