Corações
De Ferro. Bom Filme De Guerra, Apesar Dos Clichês.
O cinema mais uma vez
aborda o tema da Segunda Guerra Mundial. O filme “Corações de Ferro” (“Fury”,
2014) é estrelado por Brad Pitt e enfoca a fase final da guerra, quando as
tropas aliadas já haviam invadido a Normandia e chegado ao território alemão. Faltava
pouco para o fim da guerra. Mas a situação dos americanos no “front” alemão era contraditória à situação do
fim da guerra, já que os tanques alemães eram bem mais fortes e resistentes que
os americanos. Somado a isso, estava o fato de que os alemães buscavam rechaçar
o ataque aliado em pleno território pátrio, combatendo com muito mais
ferocidade. O sargento Don (interpretado por Pitt) comandava cinco soldados que
faziam parte da equipe do tanque “Fury”, que avançava bem na linha de frente,
evitando que os alemães conquistassem posições estratégicas importantes. A
quantidade exagerada de mortes levou um datilógrafo, Roman (interpretado por
Logan Lerman) a fazer parte da equipe, depois da morte de um dos membros do
“Fury”. Roman terá que se adaptar a toda a violência da guerra e à matança
totalmente indiscriminada, para poder sobreviver. Dentre o staff do tanque Fury, ainda temos a presença do militar cujo
apelido é “Bíblia”, já que ele sempre lê o livro sagrado e faz pequenas
citações no dia a dia. Esse personagem é interpretado por Shia LaBeoulf, o
jovem ator problema conhecido por “Transformers”.
Esse é um bom filme,
apesar dos clichês. Vemos aqui o soldado sensível que não quer matar, sendo
tripudiado por seus colegas e pelo seu superior, muito barbarizados pelas
atrocidades da guerra. Outro clichê é o superior, o sargento Don que acaba
amolecendo seu coração com o contato com o soldado sensível. O lampejo de amor
impossível entre Roman e uma cidadã alemã é algo também um tanto que manjado. Todo
filme de guerra também tem aquela coisa de virmos vários personagens que já
sabemos que irão morrer como moscas ao final da história, numa situação sem
saída.
Um aspecto curioso eram
as cenas de combate. Os efeitos especiais para os tiros de balas traçantes e as
explosões eram um tanto multicoloridos e, em alguns momentos, parecia que
víamos um combate digno de “Star Wars”. Esteticamente bonito, mas um tanto
forçado. Outra curiosidade foi ver Brad Pitt falando em alemão, em contraste ao
sotaque caipira de “Bastardos Inglórios”, aquele delírio divertido do
Tarantino.
Quais as virtudes da
película? Todo e qualquer filme que denuncie os horrores da guerra já é em si
algo muito positivo. Embora não tenha o realismo daqueles trinta minutos
iniciais de “O Resgate do Soldado Ryan”, o cenário da guerra foi bem
reproduzido, onde um ambiente que nutria total desprezo pela existência humana
unia aliados e nazistas. São emblemáticas duas situações. Numa delas, Roman
limpa o sangue dentro do tanque depois que o corpo de seu antecessor é
removido. No meio da poça de sangue, há um pedaço de rosto. A segunda situação
mostra um corpo esmagado no meio da lama sendo mais destroçado ainda pelos
tanques que passam. O filme também denunciou o uso cada vez maior de jovens nos
campos de batalha, quando os exércitos já estavam bem exauridos, seja do lado
dos aliados, seja dos nazistas. Os horrores da guerra eram mostrados em ambos
os lados. Se os nazistas enforcavam alemães que se recusavam a combater, os
aliados matavam indiscriminadamente soldados que já haviam se rendido,
cometendo claramente crimes de guerra, embora toda a matança sempre fosse
legitimada com a máxima de “matar ou morrer”. Mas o momento mais interessante
do filme, que talvez tenha levado a uma reflexão mais profunda, foi a frase do
sargento Don a Roman depois de lhe apresentar uma sala com membros da elite
nazista que haviam se suicidado: “os ideais são belos, mas a História é
violenta”. Uma passagem tocante é a aquela onde os soldados de Don se recordam,
cheios de lágrimas nos olhos, que foram obrigados a matar cavalos para que os
nazistas não o aproveitassem, enquanto matavam soldados nazistas indefesos às
gargalhadas (sobretudo os da SS), exibindo os paradoxos da guerra.
Dessa forma, “Corações
de Ferro” é um filme de guerra típico, com todos os clichês que estamos
acostumados a ver nessa situação. Mas o filme também tem suas atrações e
virtudes como o fato de não recair na dicotomia bem X mal entre aliados e
nazistas. Vemos nazistas tomando atitudes nobres e aliados tomando atitudes
odiosas, algo que somente nos lembra de como a guerra desumaniza o ser humano,
seja de qual lado ele for, mas que também o humano em sua essência pode
sobreviver em situações de adversidade total. Vale a pena dar uma conferida.
Cartaz do filme
Don, um sargento extremamente duro
A equipe do "Fury"
Roman e Don. Relação conflituosa
Amor impossível
Nenhum comentário:
Postar um comentário