Dois
Dias, Uma Noite. Novamente, A Face Maldita Do Capitalismo.
Mais um filme que
aborda da crueldade do sistema capitalista. “Dois Dias, Uma Noite” tem uma
indicação para Oscar de melhor atriz para Marion Cottilard que, diga-se de
passagem, já ganhou um Oscar em 2008 interpretando Piaf. Dessa vez, a atriz
interpreta Sandra, uma trabalhadora de fábrica na Bélgica, que adoece e passa
alguns dias em casa. Seu patrão irá fazer com que os demais trabalhadores do
setor onde Sandra trabalha cubram as horas que a moça está faltando, dando-lhes
um bônus de mil euros. Com isso, o patrão percebeu que poderia aumentar a carga
horária de seus empregados e demitir Sandra, cortando custos. Mas Sandra já se
recuperou de sua doença e quer voltar a trabalhar. O problema é que, se ela
voltar ao trabalho, os seus colegas perdem o bônus de mil euros. Tudo isso será
decidido numa votação entre os trabalhadores. Caberá a Sandra, então, visitar
seus colegas em um fim de semana, para convencê-los a abrir mão de seus bônus
para ela ter seu emprego de volta.
Pela sinopse, dá para
perceber que o clima do filme é extremamente tenso, não havendo mocinhos e
bandidos, apenas vítimas do sistema. O capitalismo, mais uma vez, é coroado
(com todos os louros, diga-se de passagem) o grande vilão da situação. Já
falamos aqui de outros filmes que abordam como o neoliberalismo, há alguns anos
atrás, e a crise mundial em anos mais recentes, achatam a classe trabalhadora
e, por que não, toda a sociedade em si. Enquanto Sandra luta desesperadamente
pelo seu emprego, sob pena de perder até o lugar em que vive, as pessoas que
votarão pelo futuro da moça também são muito vulneráveis a perdas. Algumas se
solidarizam e a ajudam, enquanto que outras não podem fazer isso, simplesmente
por falta de opção e que precisam desesperadamente desse dinheiro extra. Toda
essa situação só provoca um verdadeiro desmoronamento emocional em nossa
protagonista, que se culpa a cada visita, quando ela percebe que provoca brigas
internas dentro dos lares pelos quais passa. É algo totalmente cruel e doloroso
para todos. Um individualismo exacerbado do tipo “o meu pirão primeiro” que o
sistema provoca, levando a todo o tipo de tensão. Há, inclusive, um dos funcionários da fábrica
que faz uma propaganda contrária à Sandra, induzindo seus colegas a votarem
pelo bônus.
Não é preciso nem dizer
que o filme orbita em torno de Marion Cottilard, que realmente deu um show. Sua
cara simultaneamente doce e abatida nos dá muito dó. Apesar da também boa
atuação de Fabrizio Rongione como Manu, o marido de Sandra, não dá para não
reconhecer que vemos um filme de Sandra, sobre Sandra e para Sandra. Sandra, a
frágil. Sandra, a lutadora. Sandra, que se indigna com a injustiça contra ela e
contra seus amigos. Uma personagem forte e delicada ao mesmo tempo. Tudo de
bom. E um vilão invisível, mas muito presente, com táticas sórdidas de divisão
das pessoas, para que ele possa expandir todos os tentáculos malignos de sua
exploração sobre os menos favorecidos.
Já cansei de falar
neste meu humilde espacinho da importância maior dos filmes, que é a de fazer
pensar, ideia já mencionada pelo grande cineasta polonês Andrzej Wajda. E “Dois
Dias, Uma Noite” cumpre esse propósito ao lado de filmes como “Miss Violence” e
“Segunda-Feira ao Sol”, já resenhados aqui. Tais filmes são extremamente
necessários, pois nos identificamos com eles, são filmes de denúncia, que
gritam para acordar a gente sobre os rumos pelos quais conduziremos nosso mundo
no futuro. Filmes de alerta e reflexão. Filmes que devem ser sempre vistos e
celebrados. Não deixem de assistir, não importa a forma, seja nas telonas, no
aparelho de DVD, blu-ray, ou nos canais (bons) de TV a cabo...
Cartaz do filme
Sandra. Vítima do sistema.
Futuro incerto.
Conseguindo convencer alguns amigos...
Mas, com relação a outros...
Em algumas casas, sua presença destruiu relacionamentos...
Momentos de muita fragilidade...
Ambiente tenso no dia da votação...
Essa excelente atriz concorre ao Oscar hoje. Será que ela consegue, com filme tão agressivo ao sistema?
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