Florence
e Marguerite: Quem São Estas Mulheres? Por Amor À Música.
Nesses últimos dias,
nossas salas de cinema nos proporcionaram uma experiência que temos poucas
chances de presenciar. Foram exibidas duas películas que abordaram uma mesma
história, só que de formas um tanto diferentes. E aí as comparações foram
inevitáveis.
Mas, no que consiste a
história dos dois filmes em si? Ambos falam de uma senhora da alta sociedade
que mantinha uma espécie de clube cultural restrito para todos aqueles de seu
estrato social. A senhora, como boa amante das artes, sobretudo o canto, se
maravilhava com o talento das cantoras profissionais e queria enveredar por
essa carreira. Mas, infelizmente, a senhora tinha uma voz simplesmente terrível
para o canto. Mesmo assim, por ser uma espécie de mecenas e financiadora de
projetos culturais, era acolhida por todos como se fosse uma verdadeira
profissional. O leitor pode perguntar: e as críticas dos jornais que noticiavam
seus eventos públicos de canto? Bom, ficava a cargo do marido da referida
senhora blindá-la contra as agruras do mundo real. Em tempo: a senhora era
acometida de uma grave doença e a música era tudo para ela, dando-lhe uma
sobrevida. Assim, o marido sabia que seria uma situação praticamente fatal ela
ter acesso a uma crítica negativa de suas apresentações.
Pois bem, essa senhora
existiu e se chamou Florence Foster Jenkins, vivendo nos Estados Unidos durante
a Segunda Guerra Mundial. A versão inglesa dessa história foi intitulada
“Florence: Quem É Esta Mulher”, sendo estrelada por Meryl Streep no papel de
Florence, e por Hugh Grant, no papel do marido Saint Clair Bayfield. Esta
versão puxou o filme mais para o tom de comédia e contou com a excelente
química entre Streep e Grant. A coisa foi tão boa que foi a primeira vez que
gostei de uma atuação de Hugh Grant num filme (confesso que nunca fui muito com
a cara dele). Já falar do talento de Meryl Streep é chover no molhado. A mulher
arrasa sempre! Ela deu toda uma doçura especial à milionária excêntrica, assim
como uma comovente fragilidade. E Grant não ficava atrás, no papel de marido
zeloso e carinhoso que foi altamente cativante, mesmo com toda aquela pompa
inglesa que beira a caricatura. Ainda, na versão inglesa, não podemos nos
esquecer de mencionar a excelente participação de Simon Helberg (conhecido por
fazer parte do elenco da série de TV “Big Bang Theory”) como Cosme McMoon, que
foi contratado para ser o pianista de Florence em seus estudos de canto e
apresentações. Seu jeito delicado e caricato foi responsável por momentos muito
engraçados do filme e foi mais um personagem altamente cativante.
O outro filme que
aborda esse mesmo assunto é intitulado “Marguerite” e é uma co-produção França,
República Tcheca e Bélgica. O ambiente do filme agora é a França da década de
20, e Marguerite (interpretada por Catherine Frot, que fez o bom “Os Sabores do
Palácio”) é rodeada e laureada por artistas de vanguarda e anarquistas.
Sente-se um ambiente bem mais intelectualizado e um tanto soturno nessa versão,
onde os risos diminuem muito e o drama se expande com uma força muito intensa. Aqui,
Marguerite é mais melancólica e triste, parecendo um pouco mais consciente de
sua condição de má cantora e muito mais receosa de se pode fazer uma carreira
de sucesso ou não. Suas expressões tristes e de preocupação sem dizer uma só
palavra diziam tudo, o que deu um lirismo maior à dinâmica do filme.
Em ambas as versões, a
senhora cantora desafinada é altamente apaixonante. A grande mensagem que esses
filmes passam é a de que a gente deve fazer aquilo que ama, independentemente
do que as outras pessoas acham, mesmo que o desfecho de ambas as películas
tenha sido um tanto trágico (paremos com os “spoilers” por aqui). A mulher
cantava mal mesmo, desafinava, era motivo de risos, mas fazia aquilo que amava
e as pessoas a adoravam justamente por isso. Em sua um tanto cruel ilusão de
que era uma grande cantora, Florence e Marguerite desafiavam sem saber o senso
de ridículo e soltavam o berreiro, tudo isso para enfrentar suas enfermidades
de cabeça erguida por anos a fio.
Assim, ver essas duas
películas é uma experiência e tanto, pois podemos testemunhar como uma história
pode ser contada por duas narrativas diferentes. Uma mais alegre e com espírito
de “blockbuster”. E outra mais melancólica e soturna, bem dentro do clima um
tanto intelectualizado de um segmento do cinema francês herdeiro da “Nouvelle
Vague”. Vale muito a pena fazer as suas próprias comparações. E não deixe de
ver os trailers após as fotos.
Cartaz de Florence
Cartaz de Marguerite
Florence. Paixão pela música que a mantém viva
Marguerite. Paixão pela música que a mantém viva.
Florence. Mais alegre e expansiva
Marguerite. Mais melancólica...
Florence. Hilários estudos de música...
Marguerite, Também flexionando o abdômen...
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