A
Vida Secreta de Walter Mitty – Em Busca do Negativo Perdido.
Um filme que critica a
era da internet, vendo-a como uma época de maior superficialidade. Talvez essa
seja a primeira impressão que “A Vida Secreta de Walter Mitty” nos deixa. Esse
bom filme conta a história de um funcionário responsável pelos negativos da
revista Life, o tal do Walter Mitty (interpretado pelo sempre ótimo Ben
Stiller), que vê o seu emprego ameaçado pelo fim da edição impressa da Life, já
que ela será apenas disponibilizada pela internet. Não só Mitty perderá o seu
emprego, mas também muitos outros funcionários. Vemos aqui como a tecnologia
aparece como a vilã responsável pelo desemprego, algo que já foi exaustivamente
discutido por sociólogos, historiadores, geógrafos e outros estudiosos de
ciências humanas. O interessante aqui é perceber que um filme americano e
hollywoodiano trata desse assunto. Essa questão tecnológica também aparece no
personagem de Mitty. Apaixonado por uma colega de trabalho, Cheryl
(interpretada pela bela Kristen Wiig), Mitty busca iniciar uma conversa com ela
numa rede social, mas não consegue nem preencher seu perfil e muito menos
entrar em contato com a moça. Ele inclusive pede ajuda ao call center da rede
social e percebe que sua vida é muito sem graça, embora ele tenha uma mente
muito fértil e fantasie situações as mais inusitadas possíveis, o que dá muita
graça ao filme. Esses devaneios fazem com que ele seja um cara muito desligado.
Mas a trama da história vai se desenrolar em torno de um antigo negativo de
foto. Isso porque um lendário fotógrafo, Sean O’Connell (interpretado pelo
ótimo Sean Penn, que está cada vez melhor como ator assim que o tempo passa)
envia negativos para Mitty, segundo O’Connell, “a pessoa que trata melhor seus
negativos”, sendo que o negativo de número 25 será a quintessência de sua
produção. Assim, para a capa da última edição impressa da Life, esse negativo
será utilizado segundo o desejo do novo responsável pela revista, Ted
(interpretado por Adam Scott) que tripudia impiedosamente Mitty. O problema é
que o negativo não está na correspondência e Mitty precisa desesperadamente
achá-lo para garantir esse emprego. Mas O’Connell não é lá um cara muito
acessível e Mitty começa uma busca desesperada pelo fotógrafo que inclui
viagens à Groenlândia, Islândia e Afeganistão, com direito a uma escalada no
Everest. O filme ainda tem uma grata surpresa: a mãe de Mitty é interpretada
por ninguém mais que Shirley MacLaine, sempre uma grande atriz, principalmente
se nos lembrarmos de suas atuações em filmes como “A Volta ao Mundo em 80
Dias”, com David Niven e Cantinflas e “Laços de Ternura”, com Debra Winger e
Jeff Daniels. Assim, vemos que “A Vida Secreta de Walter Mitty” é um filme com
um bom roteiro, que prende a atenção do início ao fim, tem um bom elenco e é
mais um dos filmes que discutem a questão do embate tradição X modernidade,
sendo que aqui a tradição é exaltada em detrimento de uma modernidade cheia de
vilania. É interessantíssimo perceber as paredes da redação cobertas de capas
da Life, onde cada foto era uma manifestação dos valores da tradição. Outro
detalhe visível é a falta de entendimento do patrão Ted quanto ao vocabulário
técnico de Mitty, que tem outra realidade tecnológica, assim como o seu
desconhecimento do lema da revista, forjado nos tempos das edições impressas. As
fotos também são usadas com toda uma carga simbólica, onde Ted aparece num
momento ao lado de uma foto do Nixon (imagem do vilão por excelência), e Mitty,
ao começar sua corrida em busca de O’Connell, passa por fotos enormes de capas
antigas da revista, onde a última delas é uma foto do próprio Mitty com um
capacete de astronauta, numa alusão de que ele é o grande herói salvador da
tradição, coroando-a numa visão
absolutamente positiva. Só não vou dizer o que estava nesse negativo que foi
usado como a capa da revista para não estragar a surpresa. Mas dou uma dica: ele
irá mais uma vez valorizar a tradição. Só
para finalizar, Ted deu o apelido de “Major Tom” a Mitty de forma pejorativa
(por ele ser muito desligado), mas Cheryl usa isso de forma positiva para
estimular Mitty a procurar O’Connell, pois “Major Tom” conta a história de uma
pessoa que persegue seus sonhos. E a música de David Bowie entra em cena mais
uma vez (já tínhamos falado dela em “Eu e Você”, de Bertolucci), num lindo
momento do filme, como fundo musical de um voo de Mitty pelos mares da
Groenlândia. Vale a pena dar uma conferida nesse filme.
Cartaz do Filme: título
em português é tradução literal do original (fenômeno raro!)
Mitty (Stiller)
passando pela capa da Life com seu rosto: herói defensor da tradição.
Mitty e O’Connell (um ótimo Sean Penn).
É sempre bom rever Shirley MacLaine!!!!
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