Pais
e Filhos: troca de bebês à japonesa.
O filme “Pais e
Filhos”, produção japonesa, ganhou o prêmio do júri no último festival de
Cannes. O filme trata de um assunto que já foi abordado em outros filmes: troca
de bebês em maternidades. Mas o detalhe aqui é que isso ocorre dentro da ótica
da cultura japonesa, o que colore o tema de novos tons.
A história começa com
uma família de classe média alta. O pai, Ryota (interpretado por Masaharu
Fukuyama), é um executivo de uma grande empresa, fissurado no trabalho, sobrando
pouco tempo para sua esposa Midori (interpretada por Machiko Ono) e seu filho
Keita. Os hábitos da família são altamente burgueses: o filho tem que aprender
a tocar piano, há uma excessiva proteção dos pais ao garoto, até por se tratar
de filho único, regras de etiqueta são observadas. Mas os dias dessa família
aparentemente certinha acabariam quando eles receberam uma ligação da maternidade
onde Keita nasceu e tiveram a notícia de uma possível troca de bebês, algo que
foi confirmado depois de um exame de DNA. A partir daí, surgiu a difícil
questão de se fazer a troca de filhos com a família dos pais biológicos de
Keita. Essa família, aliás, é o oposto da primeira família em praticamente
tudo: seus membros são de posição social mais baixa (eles têm um pequeno
comércio), possuem três filhos, o pai é muito mais presente e tem a habilidade
de consertar todos os brinquedos das crianças, além de tomar banho junto com os
filhos e ser muito brincalhão. Essas duas famílias então vão começar a interagir,
marcando encontros para que todo mundo se conheça que a troca de filhos seja a menos
dolorosa possível. Mas logo estabelecem-se diferenças entre as famílias: a
família mais pobre pensa numa indenização em dinheiro, algo que é visto com
repugnância pela família mais rica. Em contrapartida, o pai da família mais
rica pensa em criar os dois filhos e oferece dinheiro para o pai da família
mais pobre, que rechaça violentamente a proposta, causando muito mal estar.
Nesse momento, vemos como a noção de honra da cultura japonesa pesa muito, pois
depois a mãe da família mais rica pede perdão a outra família numa postura
altamente submissa para os padrões ocidentais. Ainda, uma família mais pobre
que inicialmente pensava no dinheiro da indenização não aceita o dinheiro de
uma proposta inescrupulosa. Notamos uma alta ocidentalização da cultura
japonesa no filme (como ela realmente é), mas elementos muito ligados a honra
tão presente nessa cultura oriental se fazem muito marcantes. O filme falha por
ficar um pouco mais centrado na família burguesa, mas mostra um aspecto
positivo: a mudança do pai mais rico, que passa a dar mais atenção para sua
família, e isso depois do ótimo exemplo do pai pobre, muito irresponsável para
as coisas “adultas” da vida, mas muito presente para os seus filhos. O melhor
do filme são as cenas de brincadeiras entre adultos e crianças. Tudo isso
colocado de uma forma muito delicada e serena. Aliás, essa delicadeza e
serenidade permeiam todo o filme. Realmente sentimos que vemos algo diferente do
que estamos acostumados. Sou meio suspeito para dizer, pois admiro muito o povo
japonês. De qualquer forma, não estou sozinho ao louvar o filme, o júri de
Cannes fez o mesmo... vale a pena dar uma olhadinha nesse leve drama... e ainda
tem as cerejeiras e suas lindas flores...
Duas famílias em uma...
Pais burgueses
conhecendo o filho biológico
Pais mais pobres
(interpretado pelos atores Yoko Maki e Riri Furanki)
Pai mais pobre
brincando na piscina de bolinhas...
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